sábado, 18 de maio de 2013

Solenidade do Pentecostes - 19 de maio de 2013

       1 – O Espírito Santo é Pessoa, é Deus, é DOM dado à Igreja. Como referia o Papa Francisco, é a própria Pessoa de Deus que fala em nós, que nos traz Jesus Cristo. Gera-O em Maria, gera-O nos discípulos, gera-O na Igreja. É água viva, que conforta a nossa alma, que enforma a nossa fé, que acalenta a nossa esperança, que nos compromete com os irmãos.
       Na Ascensão, Jesus ascende para Deus mas não nos deixa órfãos; de junto do Pai envia-nos o Espírito, que por Sua vez nos dará Deus, nos dará o próprio Jesus Cristo, vivo, ressuscitado, na Palavra e nos Sacramentos.
       O Espírito Santo é a COMUNICAÇÃO de Deus à humanidade. Quando alguém vai para longe, envia uma CARTA, faz um telefonema, liga-se pela Internet, numa videochamada. O Espírito Santo é esta CARTA que Deus continua a escrever em nós, inspirando-nos, criando a vitalidade da fé, a certeza da presença de Jesus entre nós. É a REDE que nos liga a Deus e aos outros, faz-nos a memória do passado e lança-nos para o futuro, com Deus.
       2 – Vejamos os dois relatos do Pentecostes, ou dádiva do Espírito Santo.
       Nos Atos dos Apóstolos, a narração deste sublime acontecimento: “Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem”.
       Respeitando a sensibilidade semítica e o calendário religioso judaico, São Lucas mostra o PENTECOSTES cristão. Jesus Cristo morreu, ressuscitou, apareceu aos discípulos, subiu ao Céu, enviando o Espírito Santo, que nos atrai para Ele, e nos compromete com o tempo presente.
       Com a vinda do Espírito, os novos céus e a nova terra ganham forma, expressão e força. Com as aparições do Ressuscitado, os discípulos despertam da noite, da dúvida, da hesitação, do desencanto. O Espírito Santo coloca-nos em andamento. É HORA de abrirmos portas e janelas, arejando a nossa casa, saindo para os caminhos da vida a anunciar Jesus em todo o mundo. Solta-se-nos a língua, do assombro diante do mistério para testemunho jubiloso.
       3 – No relato de São João, no Evangelho, a cronologia é diferente, mas o conteúdo é o mesmo: o Espírito agrafa-nos à alegria, à esperança, ao testemunho.
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
       Antes, a multiplicidade de línguas não impede a comunhão. O pecado, visto com a construção de Babel, leva à incompreensão, pois o objetivo é viver sem Deus, à margem dos outros, em estilo de autossuficiência, de egoísmo, a viver em função de si e dos seus caprichos. Quando cada um se preocupa apenas consigo, de forma gananciosa, não entende a linguagem do outro, os seus apelos, ou os seus sofrimentos. Com a vinda do Espírito, com a abertura à criatividade divina, é possível falar diversos idiomas percetíveis, pois a linguagem do bem, do amor, da verdade é universal, simples, acessível a todos.
       Por outras palavras, o idioma, as diferenças culturais, religiosas, políticas, não justificam a intolerância, a violência, a guerra santa. O Espírito faz-nos ver e compreender que as diferenças nos enriquecem mutuamente.
       No evangelho sublinha-se sobretudo a alegria que brota das aparições do Ressuscitado e da dádiva do Espírito Santo. O medo dá lugar à confiança, o isolamento converte-se em alegria, a intranquilidade transforma-se em paz e compromisso. Até então Jesus, agora JESUS através de NÓS. Nós e o Espírito Santo.
       4 – Se o Pai é o mesmo, se Jesus é irmão de todos, se é no mesmo Espírito que somos constituídos herdeiros da HERANÇA eterna, então o que somos, o que fazemos, o que assumimos, o que dizemos há de aproximar-nos, contribuir para sermos o que SOMOS, identificando-nos com Jesus, deixando que o Seu Espírito recrie em nós constantemente a vida em abundância.
       Belíssimo o texto do apóstolo à comunidade de Corinto:
“Ninguém pode dizer «Jesus é o Senhor» a não ser pela ação do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito”.
       A profissão de fé cristã só é possível no Espírito Santo. Ele nos inspira para a verdade e para o bem. Se professamos a mesma fé, os dons diversos hão de guiar-nos aos outros, com os outros, a favor da vida. E ninguém está fora, excluído. Todos são importantes, porque todos são filhos de Deus, todos somos membros do mesmo Corpo, do mesmo Cristo, da mesma Igreja.

Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 2, 1-11; 1 Cor 12, 3b-7.12-13; Jo 20, 19-23.

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