1 – "Há um «serviço» que serve aos outros; mas temos que guardar-nos do outro serviço cujo interesse é beneficiar os «meus», em nome do «nosso». Este serviço deixa sempre os «teus» de fora, gerando uma dinâmica de exclusão" (Papa Francisco, em Cuba). O contexto é o de domingo passado, em que Jesus diz claramente aos seus discípulos que quem quiser ser o primeiro seja o servo de todos. A tentação será servir-se, ou servir os seus, excluindo os que não fazem parte da minha família, do meu partido, da minha religião, do meu país, do meu grupo de amigos. Ora para Deus somos irmãos. Ele é Pai de todos. Todos são chamados a formar uma família feliz.
Acolher os distantes, o estrangeiro, o pobre, o estranho, o refugiado, não nos dispensa de tratar bem os de casa e os da vizinhança.
O Evangelho mostra os discípulos muito zelosos em relação ao grupo e aos próprios interesses. João diz a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». Não se põe em causa o bem mas quem o faz. Ou seja, se fizesse parte do grupo, acrescentaria prestígio e estava em sintonia com Jesus. Ora, se não faz parte do grupo não terá direito a fazer o que quer que seja relacionado com Jesus.
Novamente a questão do protagonismo: quem é o maior?! Resposta clarificadora de Jesus: quem quiser ser o primeiro será o servo de todos. Os discípulos ainda precisam de caminhar muito mais. Veem alguém que lhes pode tirar o protagonismo e logo o afastam.
2 – Novamente a delicadeza, o serviço, e a opção preferencial pelos mais frágeis. Sem Jesus fisicamente entre nós, Ele realmente Se faz presente pela Palavra proclamada, pelos Sacramentos, particularmente na Eucaristia, e muito especialmente Se faz presente nos pobres.
Não há privilégios nem privilegiados. A haver discriminação será a favor dos excluídos, menosprezados, esquecidos. Partimos da mesma condição: fazer o bem em nome de Jesus. Homens ou mulheres, crianças ou idosos, europeus ou africanos, todos somos destinatários da recompensa, da salvação que Jesus nos traz. Basta fazer o bem. Em nome de Jesus, para que não nos tornemos vaidosos ao ponto de fazermos depender os outros de nós instrumentalizando-os.
Responde-lhes Jesus: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós».
Estamos habituados a diabolizar quem não pensa como nós. Pior, diabolizamos os que não fazem parte do nosso grupo, mesmo que tenham ideias semelhantes às nossas. Atente-se à campanha eleitoral: nós ou o caos. Combatem-se as pessoas e não os projetos. Ouvindo os diversos candidatos, todos defendem os pobres, a solidariedade social, o pelo emprego jovem, a inclusão dos idosos, a escola pública, dando prioridade à educação, à saúde, à justiça (e talvez à cultura), estarão ao lado das pequenas e médias empresas, combaterão as injustiças, a corrupção, a fuga ao fisco, para aliviar os sacrifícios dos portugueses. A Segurança Social é intocável. Os reformados, pelo menos os que recebem menos, verão um esforço por lhes ser aumentada a reforma. Haverá políticas de apoio às famílias e às empresas, promovendo dessa forma o crescimento económico e o emprego. Em relação às ideias políticas todos estamos de acordo…
Jesus diz aos seus discípulos que o joio e o trigo crescem em simultâneo até à ceifa (cf. Mt 13, 24-30). Em vez de diabolizar há que integrar. Discutir ideias, mas acolher todas as pessoas. Nem tudo é branco e preto, há que procurar o bem em todos, a presença de Deus em cada um. O caminho de Jesus é o caminho do amor, da paixão, do serviço a todos, sem excluir, preferindo aproximar-se dos afastados. O caminho é amar. Amar sempre. Amar servindo. Não importa a quem. Não importa quem. Retomemos a parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Para se ser bom não é preciso ser judeu, ou ser cristão, o que é preciso é fazer o bem sem olhar a quem.
3 – «Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que creem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós e o lançassem ao mar».
Os pequeninos – os pobres, a viúva, o órfão, o estrangeiro, o pecador, o refugiado, o doente – hão de merecer a máxima atenção, cuidado e diligência. O que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos a Mim o fazeis. O que deixardes de fazer ao mais pequenino dos meus irmãos a Mim deixareis de o fazer (cf. Mt 25, 31-46).
No dia em que se faz memória de São Vicente de Paulo, vale a pena meditar nas suas palavras: «O serviço dos pobres deve ser preferido a todos os outros e deve ser prestado sem demora… se tiverdes de deixar a oração… De facto não se trata de deixar a Deus, se é por amor de Deus que deixamos a oração: servir um pobre é também servir a Deus. A caridade é a máxima norma, e tudo deve tender para ela; é uma grande senhora: devemos cumprir o que ela manda».
Os discípulos discutem lugares e protagonismo: qual de nós será o maior no Reino de Deus? E não satisfeitos, afastam os que possam ocupar um lugar especial no coração de Jesus ou agir em Seu nome. Ora Jesus não discute lugares, mas serviço. Não importa quem brilha! Importa quem faz transparecer Jesus e o Seu Evangelho de amor. No MEIO estará sempre Jesus, ainda que esteja no meio através dos mais pobres.
4 – Deveríamos ficar felizes quando os outros prosperam! Mas por vezes o sucesso dos outros provoca-nos azia e inveja. Os outros não são, como diria Sarte, o inferno, pelo contrário, são um espelho no qual podemos descobrir a presença de Deus, e reconhecer-nos como irmãos.
A primeira leitura mostra, como também o evangelho, que a inveja obscurece o olhar sobre os outros. Os líderes sábios e tementes a Deus fazem a diferença.
Moisés só tem duas mãos e não pode resolver todos os problemas do povo. São escolhidos 70 anciãos para o ajudarem. O Espírito que estava em Moisés é "distribuído" também pelos 70 anciãos, que começam a profetizar. No acampamento ficaram dois homens que, embora estivessem inscritos, não compareceram na tenda. O Espírito também poisou sobre eles. E eles começaram a profetizar no acampamento. Entretanto um jovem correu a dizê-lo a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». Josué, que mais tarde viria a suceder a Moisés e que estava ao seu serviço, aproveita a deixa: «Moisés, meu senhor, proíbe-os».
Como se Eldad e Medad pudessem ofuscar a liderança de Moisés ou os padrões instituídos. Deus age além dos limites oficiais que possamos impor a partir dos nossos padrões religiosos. Moisés, que se poderia sentir diminuído, é taxativo: «Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!».
O bem que os outros dizem e fazem deve incentivar-nos a fazer e a dizer bem.
5 – Mais um domingo com São Tiago, cuja Epístola é uma chamada constante a assumirmos as consequências da fé professada. Todos sabemos, como diz o Apóstolo, que a fé sem obras é morta, mas não nos faz mal avivarmos a nossa consciência e o nosso compromisso.
São Tiago concretiza com situações reais, recordando-nos que as nossas riquezas materiais e a nossa presunção espiritual nos fazem desviar de Jesus e da vivência do Evangelho.
«As vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós… Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo… Condenastes e matastes o justo».
Quem vive e enriquece à custa dos mais pobres há de dar contas a Deus. O ideal comunista-marxista era espoliar os ricos para enriquecer os pobres; a lógica do Evangelho é a partilha, o cuidar dos mais frágeis, venham de onde vierem. Privar o trabalhador do seu salário ou não o compensar justamente pelo trabalho realizado é um pecado que brada aos céus. Bem podemos verificar o longo caminho a percorrer. É com pesar que muitas empresas não sobrevivem. Com maior pesar quando não foram acautelados, com honestidade e justiça, os salários daqueles e daquelas que deram o corpo ao manifesto, cujo fruto do seu trabalho deveria ter sido canalizado para o pagamento dos ordenados, investindo na modernização da empresa e na formação dos seus trabalhadores. Não se exclui a justa remuneração dos proprietários e gestores, cujo trabalho e honestidade os faz merecer o seu salário.
Pe. Manuel Gonçalves
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