quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

D. ÓSCAR ROMERO - pensamentos em primeira pessoa

"O trabalhador não é uma mercadoria, sujeita aos altos e baixos da economia, mas uma pessoa humana que, pelo facto de ser tal, tem direito a um salário justo".

"Se é verdade que não se pode perdoar o terrorismo nem a violência em nome do desacordo, também não se pode justificar a violência oficialmente instituída... o caminho mais seguro para derrotar o terrorismo consiste na promoção da justiça..."

"A única violência legítima é a que Cristo dirige contra Si próprio e que convida a exercer sobre nós próprios: «Quem quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo», seja violento consigo próprio, reprima em si a explosão do orgulho, mate na sua alma as ambições da avareza, de avidez, de soberba, de orgulho, elimine isso tudo do seu coração. É isto que é preciso matar, esta é a violência que é preciso exercer para que possa surgir o homem novo, o único capaz de construir uma nova civilização, uma civilização do amor"

"Uma libertação que se atira contra os outros não é libertação. Uma libertação que gera revoluções de ódio e de violência, roubando a vida aos outros ou reprimindo a dignidade dos outros, não pode ser verdadeira liberdade. A verdadeira liberdade é a que faz violência contra si mesma, como a de Cristo, quase não Se reconhecendo como soberano, fazendo-Se escravo para servir os outros"

"Pobre não é só aquele que não tem, mas também o que sabe possuir os bens segundo a vontade de Deus e o amor ao próximo".

"... que é pobre aquele que se converte a Deus e põe n'Ele toda a sua confiança; por sua vez, o rico é aquele que não se converte a Deus e coloca a sua confiança nos ídolos: o dinheiro, o poder, as coisas terrenas. Todo o nosso trabalho consiste em convertermo-nos e converter os outros os outros a este sentido de pobreza autêntica. Na verdade, Cristo disse que o segredo está no facto de não se poder servir a dois senhores, Deus e o dinheiro"

"Ninguém se salva sem conversão à palavra de Cristo"

"O Deus dos céus é o Deus da terra, é o Deus que constrói a história, que vai com os patriarcas, vai com os pais de família, é o Deus dos meus antepassados, o Deus de todos os acontecimentos da minha pátria... É uma Deus que quer estar com os homens, um Deus que sente a dor de quem é torturado e morto, um Deus que dá novamente confiança à Igreja, que denuncia a tortura, a repressão e todos os crimes. O Deus que nós adoramos não é um Deus morto, é um Deus vivo que sente, age, trabalha, conduz esta história e n'Ele esperamos, n'Ele confiamos".

"Quando pregamos a palavra do Senhor, não denunciamos apelas as injustiças de ordem social. denunciamos cada pecado, que é noite, que é escuridão: bebedeiras, gulas, luxúrias, adultérios, abortos, tudo o que é reino do mal e do pecado... Apenas percorrendo caminhos de luz, de honestidade, de santidade, revestindo-nos de Cristo, convertendo-nos ao Senhor, embora tendo sido pecadores, será possível caminhar na direção do [amor de Deus] e construir a verdadeira paz"

"Deus não nos fez para o sofrimento. Se há jejuns, se há penitências, se há oração é porque temos uma meta, muito positiva, que o homem atinge vencendo-se a sim mesmo: a Páscoa, ou seja, a Ressurreição, para que não celebremos apenas uma Cristo que ressuscita de maneira diferente da nossa, mas para que possamos adquirir a capacidade de ressurgir com Ele para uma vida nova, de nos tornarmos aqueles homens novos que exatamente hoje são precisos ao país. Não lançamos apenas slogans de mudança de estruturas, porque as estruturas novas de nada servem quando não existem homens novos"

“Cristo é, para mim, sabedoria, justiça, santificação, redenção. Que quero mais? Esta é a riqueza do coração daquele que é pobre e humilde e fundamenta a sua felicidade, não nas coisas transitórias, que acabam com a morte e o tempo leva embora, mas naquilo que é consistente, como é a sabedoria de Cristo, a Sua justiça, a Sua santificação, a Sua redenção. Bem-aventurados os pobres! Porque sabem onde está a sua riqueza, ou seja, n’Aquele que, sendo rico, Se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza, para nos ensinar a verdadeira sabedoria do cristão... Há jovens que acreditam que com o amor das Bem-aventuranças se construirá um mundo melhor, mas escolhem a violência, a guerrilha, a revolução. A Igreja nunca fará seu este caminho, que isto fique bem claro mais uma vez… A opção da Igreja é este texto de Cristo: as Bem-aventuranças...".

"A Igreja continua a construir o plano de salvação de Deus, não se afastou dele, e, quando vê nos homens, nos povos da América, a ânsia da libertação, incorpora esta ânsia, esta luta pela libertação cristã, em Cristo, e diz a todos os que trabalham pela libertação que uma libertação sem fé, sem Cristo, sem esperança, uma libertação violenta, revolucionária, não é eficiente, não é autêntica. Deve-se partir da redenção em Cristo, na redenção do pecado. De nada serviriam leis e estruturas, se os homens não se renovassem interiormente, arrependendo-se dos próprios pecados e procurando viver mais justamente"

"Não há salvação senão em Cristo, nosso redentor. E esta redenção de Cristo não é apenas uma redenção que esperamos para depois da morte; é uma redenção que se realiza já nesta vida. A palavra que perturba tantas pessoas, a libertação, é uma realidade da redenção de Cristo... Libertação significa redenção, ou seja, liberdade para o homem de tanta escravidão. Escravidão é analfabetismo. Escravidão é fome, quando não se tem com que comprar comida. escravidão é falta de um tecto, não ter onde viver. Escravidão, miséria, tudo isto anda junto. E quando a Igreja prega que Cristo veio redimir os homens, e que graças a tal redenção não devem existir escravidões na terra, a Igreja não está a pregar subversão, nem política, e nem sequer é comunista. A Igreja está a pregar a verdadeura redenção de Cristo, que não quer escravos, que quer que todos nós, homens, redimidos, que ricos e pobres se amem como irmãos"

"A grande libertação é a da Cristo"

"Mais uma vez o Senhor pergunta a Caim: Onde está Abel, o teu irmão? E embora Caim responda ao Senhor que não é guarda do seu irmão, o Senhor responde: « O sangue do teu irmão grita-me da terra. Por isso esta terra te amaldiçoa, que por obra das tuas mãos bebeu o sangue do teu irmão. Quando cultivares a terra, ela não te pagará com os seus frutos»... Não há nada mais importante para a Igreja que a vida humana, do que a pessoa humana. Sobretudo a pessoa dos pobres e dos oprimidos que além de serem humanos são também seres divinos, porque tudo o que se lhes faz, disse Jesus, faz-Se a Ele mesmo. E aquele sangue, o sangue, a morte, estão para lá de qualquer politica, tocam o próprio coração de Deus... Não esqueçamos aquela história de Deus e Caim: a terra ensanguentada nunca poderá dar fruto".

"Quero continuar a ser, sobretudo nesta hora de confusão, de psicose, de angústia colectiva, um mensageiro de esperança e de alegria, e há motivos para isso... Acima das estratégias, do sangue e da violência, há uma palavra de fé e de esperança que nos diz: há um caminho de saída, há esperança, podemos reconstruir o nosso país. Nós, cristãos, possuímos uma força única. Aproveitemo-la"

"O meu dever obriga-me a andar com o meu povo; não seria justo dar um testemunho de medo. Se a morte vier, será o momento de morrer como Deus quis".

«Porque dar a vida não significa apenas sermos mortos; dar a vida, ter espírito de martírio, é dar no dever, no silêncio, na oração, no cumprimento honesto das obrigações; é dar a vida pouco a pouco, no silêncio da vida quotidiana, como a dá a mãe que, sem medo, com a simplicidade do martírio materno, dá à luz, faz crescer e acode com afeto o seu filho»

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