A Páscoa ilumina todo o ano litúrgico. Ciclicamente vivemos os grandes acontecimentos da vida de Jesus, mas sempre depois da (primeira) Páscoa. Porque Jesus regressou à vida, porque vive na comunidade crente, porque Se faz presente, pelo Espírito Santo, ao convívio dos Seus discípulos, congrega a Igreja, que é Seu Corpo, do qual somos membros. Se Jesus tivesse ficado naquele sepulcro seria progressivamente esquecido. A desilusão sentida com a Sua morte manteria a dispersão, perdendo-se o mais importante da Sua mensagem e da vida que encorpa a Palavra de Deus.
Cada Quaresma, também esta jubilar, encerra um desafio que nos compromete: converter-nos, identificar a nossa vida com a de Jesus, com a Seu jeito de Se aproximar, de amar e de servir. É um compromisso permanente, mas visualizável com mais intensidade neste tempo da Quaresma. Preparamo-nos para a festa anual da Páscoa, preparando-nos sempre para a Páscoa definitiva quando chegar a nossa hora de fazermos a “passagem” para a eternidade de Deus.
Para que um dia não tenhamos que dizer "quem me dera voltar atrás", não percamos tempo nem oportunidades, façamos tudo, em todas as ocasiões, como se não houvesse amanhã, como se não tivéssemos mais tempo pela frente, como se fosse o último dia, o último encontro, a última palavra, o último café, o último sorriso.
Demos o melhor de nós mesmos, agora! E então, mais à frente, poderemos dizer: não fiz tudo bem, cometi erros, poderia ter feito melhor, mas tentei dar o melhor de mim mesmo, não adiei escolhas, não desbaratei as minhas energias em futilidades, não desperdicei a oportunidade para ser feliz, não fugi a responsabilidades, não enganei, não maltratei, não injuriei, não menosprezei ninguém... posso morrer em paz!
Podemos não fazer tudo bem, mas não deixemos de tentar, voltar a tentar, recomeçar uma e outra vez, não desistir da luta, não virar a cara às dificuldades, não esperar que outros façam o que eu posso fazer, não deixemos que outros escolham por nós o nosso destino!
Quaresma é tempo de conversão, de propósitos de mudança de vida, para darmos o melhor de nós mesmos, nos tornarmos mais solidários, mais próximos, para testemunharmos o Deus da vida...
Na nossa fragilidade, na nossa birra, ou na nossa preguiça, peçamos a Deus que nos dê o discernimento para fazermos escolhas de bem e coragem para cumprir com a vida e com todos os projetos que nos transformam em irmãos uns dos outros.
publicado na Voz de Lamego, n.º 4351, de 23 de fevereiro de 2016
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