Cardeal ROBERT SARAH, com Nicolas Diat (2017). A força do silêncio. Contra a ditadura do barulho. Cascais: Lucerna. 2.ª edição. 272 páginas.
O Cardeal Robert Sarah é, desde 2014, prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e, segundo Bento XVI, no prefácio a este livro-entrevista, foi uma excelente escolha do Papa Francisco. O livro anterior tornou-se um sucesso internacional, Deus ou nada, debruçando-se sobre a fé, marcadamente autobiográfico.
"Em 1979, aos 34 anos de idade, Robert Sarah tornou-se o bispo mais novo da Igreja Católica, quando João Paulo II o incumbiu de presidir ao arcebispado de Conacri. O seu antecessor tinha sido preso pelo Governo marxista da Guiné, que o manteve detido durante vários anos. Quando o arcebispo Sarah correu o risco de ser assassinado, em virtude da sua luta enérgica e corajosa pela liberdade dos Guineenses, João Paulo II chamou-o a desempenhar, em Roma, as funções de secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos. Em 2010, o Papa Bento XVI nomeou-o cardeal e escolheu-o para prefeito do Pontifício Conselho Cor Unum. Em 2014, o Papa Francisco nomeou-o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos" (wook)
Acompanha-o, na entrevista, Nicolas Diat, como já tinha acontecido com o livro-entrevista "Deus ou nada". Nicolas Diat é um escritor especialista em temas relacionados com a Igreja Católica. É autor de uma obra de referência sobre o pontificado de Bento XVI.
Na parte final do livro, entra um novo protagonista, Dom Dymas de Lassus, Prior da Grande Cartuxa e prior Geral da Ordem dos Cartuxos, fundada em 1084 por São Bruno. As perguntas passam a ser dirigidas ao Cardeal Sarah e a Dom Dymas.
Como o próprio título indica, o livro é sobre a força do silêncio, num tempo em que predomina o barulho, a confusão, as tentações, a dispersão. Face à ditadura do barulho, o silêncio, a oração e a adoração. O encontro com Deus só é possível no silêncio. Este não vale por si, mas enquanto possibilidade de encontrar, de escutar Deus.
É uma leitura extraordinária, envolvente, que assoma a fé, a provação do Cardeal, no seu percurso como cristão, como Bispo, enfrentando a prisão e a possibilidade de ser morto. Vem ao de cima a grande ligação à Igreja, a Jesus Cristo. O silêncio é oportunidade de nos encontrarmos connosco, de deixarmos que Deus nos fale ao coração. O barulho dispersa, esconde, abafa a voz e a palavra. O silêncio valoriza a palavra. Jesus é a Palavra que encarna. Mas muitas vezes vemo-l'O em silêncio, retirando-Se para o deserto ou para um lugar isolado, para Se sentir mais próximo do Pai. O silêncio vale enquanto promove esta intimidade, este encontro. É como no amor. Quando duas pessoas se amam não precisam de muitas palavras, conseguem estar em silêncio. o Silêncio permite escutar o outro e aprender. Quem não faz silêncio (exterior e interior) não tem espaço para a escuta, para a relação, para criar laços com os outros. Há muito ruído, muito palavreado, procura-se preencher os silêncios com ruído, com palavras, com entretenimento.
Algumas expressões:
Bento XVI no Prefácio:
"... entrar no silêncio de Jesus, do qual nasce a Sua Palavra. Se não conseguirmos entrar em silêncio, a nossa escuta da palavra será sempre superficial e, portanto, não a compreenderemos verdadeiramente... Devemos estar gratos ao Papa Francisco por ter colocado um tal mestre do espírito à cabeça da Congregação responsável pela celebração da liturgia na Igreja".
Cardeal Robert Sarah:
"O silêncio não é ausência... é manifestação de uma presença".
"Jesus parece indicar os contornos de uma pedagogia espiritual: devemos sempre procurar ser Maria a fim de nos tornarmos Marta".
"O silêncio é a maior liberdade do homem. Nenhuma ditadura, nenhuma guerra, nenhuma barbárie o pode privar deste tesouro divino".
"Cristo viveu durante 30 anos no silêncio. Depois, durante a sua vida pública, retirou-Se para o deserto para escutar e falar com o Pai... Deus fala no silêncio".
"Não há nada mais pequeno, mais doce e mais silencioso do que Cristo presente na hóstia consagrada. Esse pequeno pedaço de pão encarna a humildade e o silêncio perfeito de Deus, a Sua ternura e o Seu amor por nós".
"Matando o silêncio, o homem assassina Deus".
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