quarta-feira, 12 de junho de 2019

Leituras: JEAN VANIER - OUVE-SE UM GRITO

JEAN VANIER (2018). Ouve-se um grito. O mistério da pessoa é um encontro. Prior Velho: Paulinas Editora. 200 páginas.
       Jean Vanier faleceu no passado dia 7 de maio, do ano corrente, de 2019. Na semana subsequente dedicamos-lhe o editorial. Hoje sugerimos como leitura este livro que pode ser visto como autobiografia e testamento espiritual do autor: "Ouve-se um grito. O mistério da pessoa é um encontro", com a colaboração do jovem poeta François-Xavier Maigre.
       Jean nasceu em Genebra, a 10 de setembro de 1928, filho de pais canadianos. Foi Oficial da Marinha, primeiro britânica, depois canadiense. Em 1950, desiste da carreira militar e começa a estudar teologia e filosofia. Sente-se atraído pelo Evangelho. Tornou-se professor na Universidade de Toronto, mas abandona a carreira universitária. Descobre que a sua verdadeira vocação é encontrar Jesus nas pessoas mais fracas e mais abandonadas. Em 1964 funda a Arca e em 1971 contribui para o nascimento do movimento "Foi et Lumiere" (Fé e Luz).
       Ao escrever estas páginas, o autor percorre a sua vida, da infância à descoberta do caminho que o realiza, ou por outras palavras, a vocação a que Deus o chama. "Este livro nasceu de uma urgência. Face ao triste espetáculo das divisões, dos medos, das guerras e das desigualdades que se espalham no nosso mundo, face à depressão e às desesperanças de tantos jovens, atrevo-me a partilhar convosco um caminho de esperança que se me abriu... Nada está perdido. Um caminho para a unidade, a fraternidade e a paz é possível. O futuro depende de cada um de nós... Graças à 'Arca', aprendemos que a vida com pessoas portadoras de uma deficiência é uma maneira de curar os nossos corações tantas vezes fechados e de ir ao encontro de todos aqueles que são atingidos pela exclusão e humilhação... os mais frágeis abrem-nos à esperança".
       O que fizerdes aos mais pequeninos é a Mim que o fazei. A revelação de Jesus está bem presente na vida, na vocação e na missão do autor. As pessoas portadoras de deficiência ajudam a libertar-se de comodismo, de certezas, da autocomiseração, da procura de poder e prestígio. Nestas pessoas, o encontro com Jesus. A descoberta da fé e das razões para a esperança e para a construção da paz.

Algumas frases e/ou parágrafos do autor:
"Os muros impedem-nos de encontrar o outro que é diferente, de o amar como Deus o ama. É uma luta diária".
"Nas nossas sociedades opulentas, procuramos muitas vezes livrar-nos dos mais frágeis, e até de os matar antes de nascer".
"Vim para aqui para viver o Evangelho, decidido a lutar pacificamente contra as injustiças por causa de Jesus"
Deus ama cada pessoa e chama cada uma a crescer no amor. Deus está escondido no coração dos mais pequeninos, dos mais sofredores, dos mais humilhados. Pouco a pouco, 'A Arca' torna-se sinal deste amor".
"As pessoas com deficiência mental não são uns pobrezinhos de quem é preciso tomar conta. Estas pessoas são mensageiras de Deus que nos aproximam de Jesus. São um caminho para Deus. Ao contactar com elas, elas transformam-nos e conduzem-nos até Deus".
"O amor implica o perdão. Crescer humanamente é aprender a perdoar sempre, trata-se de uma luta de cada dia. Uma luta na ternura consigo próprio e nas relações".
"Jesus ama-nos ao ensinar-nos a descer, a ajoelharmo-nos para lavar os pés dos outros. Sem lhes dar ordens de cima. Sem procurar ter influência".
"Apenas a descoberta da nossa frágil humanidade pode abrir um caminho de paz".
"Responder ao grito do pobre torna-se um apelo. O apelo torna-se atração. A atração tornar-se generosidade. A generosidade torna-se encontro. O encontro torna-se comunhão e presença de Deus".
       No livro o autor fala de muitos encontros marcantes, entre os quais se destacam o encontro com Madre Teresa de Calcutá, com o João Paulo II, com a comunidade de Taizé e com os Focolares, de Chiara Lubich. O Epílogo da obra é dedicado ao tempo que Jean passou em Fátima, a elaborar a tese de doutoramento para o Instituto Católico de Paris, sobre Aristóteles. Referência a Fátima também no capítulo 9.
       Refira-se ainda que na descoberta da vocação o autor ainda ponderou tornar-se padre, mas foi descobrindo que o Senhor o chamava a outra missão.

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