segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

John Boyne - O RAPAZ DO PIJAMA ÀS RISCAS

JOHN BOYNE (2020). O rapaz do pijama às riscas. Alfragide: Edições Asa. 176 páginas.


Este é um livro de fácil leitura, mas com uma intensidade que nos faz perceber o absurdo da guerra, do racismo, o mundo conflituoso dos adultos, e a simplicidade do mundo das crianças, que não percebem tudo, não percebem muitas coisas dos adultos, as birras, a sobranceria, a assunção de diferenças derivadas à cor da pele ou à nacionalidade, à política ou à religião. A expressão de Jesus também se verifica aqui: quem não se tornar como criança não entrará no Reino dos Céus.
Na verdade, Bruno e Shmuel têm a inocência e a ingenuidade das crianças. Vivem no mundo dos adultos, onde predominam os preconceitos, os muros, onde se acentuam as divisões e as diferenças, o egoísmo e o poder, a prepotência e a arbitrariedade de quem decide o destino dos povos e das pessoas.
É "uma história de inocência num mundo de ignorância".
A amizade entre um rapaz alemão, cujo pai é, entretanto, nomeado pelo Fúria (Führer) como comandante de Aucho-Vil (Auschwitz), obrigando a família a mudar-se para uma casa fora do campo de concentração. Bruno, como a irmã, de 12 anos e que ainda vive no mundo das bonecas, na passagem da infância para a adolescência, deixa a casa de cinco andares, deixa os amigos, e vai para um lugar em que não têm amigos, nem crianças da sua idade.


A espreitar pela janela do seu quarto, Bruno descobre que há casas, mais ou menos iguais, e muitas pessoas, esquisitas, para lá da vedação. Não tendo muito que fazer, decide explorar até que descobre uma criança, Shmuel, da mesma idade, 9 anos, e que, por coincidência, nasceram no mesmo dia, mas que vivem realidades muito diferentes. Tornam-se amigos.
Todos os dias, Bruno sai de casa, levando, para o seu amigo, alguma comida. Do outro lado, um menino, como ele, mas vestido de pijama, sujo, magro. Para Bruno, Shmuel é uma criança com quem quer brincar, não é judeu e nem é inimigo, como os adultos querem fazer crer.
Pelo meio, Shmuel vai a casa de Bruno, para lavar copos, pois tem os dedos pequenos, e aí se constata a perversidade do mundo dos adultos. Bruno perante a ameaça de um soldado nega a amizade com Shmuel, que reatará quando foi ao seu encontro, no lugar habitual, separados por uma vedação de arame-farpado e eletrificado.
Chega o dia de Bruno, a irmã e a mãe, voltarem para casa, pois aquele não é um ambiente saudável. Bruno e Shmuel combinam encontrar-se no dia seguinte, fazendo algo de diferente, escavarem por debaixo da rede e Bruno passar para o outro lado, para ajudar Shmuel a encontrar o pai, que desapareceu no campo, e para ver como é o campo por dentro, iludido pelo que viu nos filmes da propaganda nazi. Vestido com um pijama igual ao de Shmuel e dos outros "habitantes" do campo, Bruno confunde-se facilmente com eles e com eles será levado para o crematório.
Bruno e Shmuel esbatem as fronteiras religiosas, políticas e raciais. É um livro que integra o Plano Nacional de Leitura e é recomendado para o 3.º ciclo do ensino básico, destinado a leitura autónoma. O livro foi originalmente publicado no Reino Unido, em 2006 e encontra-se traduzido em 32 línguas. Em 2008, foi a vez de passar a filme.


John Boyne nasceu em Dublin, em 1971. Estudou no Trinity College, em Dublin, e na Universidade de East Anglia, em Norwich. Foi escritor-residente da Universidade de East Anglia para a área da Escrita Criativa e trabalhou durante vários anos como livreiro. Dedica-se actualmente à escrita a tempo inteiro. Publicou já quatro romances para adultos e um para jovens, tendo este último (O Rapaz do Pijama às Riscas) conhecido enorme sucesso em todo o mundo. Vive em Dublin.

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