sábado, 7 de setembro de 2013

XXIII Domingo do Tempo Comum - ano C - 8 de setembro

       1 – Chamamento. Seguimento. Cruz. Despojamento. Humildade. Coragem. Persistência. Amor. Esperança. Sem promessas. Com as certezas que advêm da fé, do serviço e da verdade. O Mestre e os discípulos. Sempre discípulos, seguidores, aprendizes, alunos. Sempre apóstolos, enviados, em caminho, testemunhas do Evangelho, transparência, rosto e presença de Jesus em cada tempo, em todos os ambientes. A prioridade: amar. O essencial: serviço. O conteúdo: Jesus Cristo. A Mensagem: conciliar, reunir, servir, paz, justiça, bem-dizer e bem-fazer, partilha, comunhão, gratuitidade, verdade, amar servindo, servir amando. A meta: Deus. Em Deus há lugar para todos. A meta: a humanidade inteira. Cada pessoa, a minha tia, o meu sobrinho, o meu marido, a minha cunhada, a minha sogra, a minha enteada, a minha vizinha, o meu colega. Meta: Deus e em Deus a humanidade inteira. Sem Deus serei EU e mais NINGUÉM. Com DEUS, Eu/Nós em comunidade.
       A multidão seguia Jesus. Ia atrás da Sua Palavra, dos Seus gestos, de milagres, à procura, à descoberta de algo de novo e surpreendente. Todos com as mesmas intenções? Certamente que não. Hoje continua a ser assim. Multidões que seguem Jesus, que vão à Igreja, que têm fé, que vivem a religião, que têm fé e não vão à Igreja, e quase deixaram de ser Igreja, mas de vez enquanto ainda se sentem, se afirmam como cristãos, como Igreja, ou a combatem dizendo que também fazem parte dela, mas sentem-se mais seguros estando contra. Como diria um santo teólogo, a Igreja é como a nossa Mãe, velhinha e com a pele enrugada, mas não vamos andar por aí a dizer mal da nossa Mãe. Não. Pelo contrário, vamos dar-lhe mais atenção, dedicar-lhe mais tempo. Cuidar. Para que a Igreja seja sobretudo Mãe, e como Mãe também guia e mestra. A Igreja há de ser SACRAMENTO de salvação, de Jesus Cristo, do Evangelho. Cristo na Igreja. Nós em Cristo, no Seu Corpo que é a Igreja.
       A Igreja, a fé, tem muitos rostos e muitos caminhos, tantos quantos as pessoas, assim o afirmava o Cardeal Joseph Ratzinger, em entrevista concedida em 1996 (O Sal da Terra). Jesus é o CAMINHO, a Verdade e a Vida. É o nosso CENTRO, a referência fundamental, o AMOR maior. Mas cada um de nós tem a sua história, os seus dramas, os seus sonhos, cada um de nós sente à sua maneira. Mas se houver um FAROL que nos congregue será mais fácil carregar a nossa cruz. Se nos encaminhamos para o CAMINHO, que é Jesus, será mais doce a nossa festa e mais serena a nossa alegria e a nossa paz. A companhia ajuda-nos a superar a solidão, e as noites escuras, a apreciar os dias de sol.
       2 – «Se alguém vem ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo. Quem de vós, desejando construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa, para ver se tem com que terminá-la? Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo». 
       Jesus não está pelos ajustes, ou tudo ou nada. Assim soam as suas palavras. Ele ama-nos definitiva e totalmente. A intimidade com Deus Pai mais O envia e compromete.
       Não há cá paninhos quentes. Quem Me quiser seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, traga a sua vida por inteiro. Nada pode ficar de reserva, ou no condicional (vamos ver o que isto dá… depois logo se vê). A vida toda, o que somos, o bem e o que nos puxa para o mal. Tudo. Vamos inteiros, corpo, alma, espírito. Quem não Me preferir à mãe, ao pai, ou aos filhos, à própria vida, não pode ser Meu discípulo. Sem papas na língua. É assim mesmo! Põe todas as cartas na mesa. Não fica com nenhuma cartada na manga. A vossa linguagem seja, “sim, sim”, e “não, não”. Coração assente. Se O quisermos seguir já sabemos quais as condições. O contrato não têm letras pequeninas, mas garrafais: «QUEM NÃO ME PREFERIR À PRÓPRIA VIDA NÃO PODE SER MEU DISCÍPULO, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo».
       A minha/nossa resposta não pode ser diferente. Não podemos amar a meias, a prazo, quando nos dá na real gana, ou quando estamos bem-dispostos. Ou quando precisamos. Ou quando a vida nos corre bem e nos sobra tempo. Ou amamos ou não amamos. Ainda que cada um possa manifestar o seu amor (e a sua fé) de maneira específica. Existe um caminho de aperfeiçoamento a construir. Ele não Se impõe. Não faz promessas. Não dá garantias de sucesso. Não faz chantagem, nem negoceia o Seguimento. Ou quereis ou não quereis. Seria um mau assessor e talvez um péssimo político, pelo menos como o entendemos na atualidade. Vinde que sereis compensados por isso. Seria um bom lema de campanha. Jesus, pelo contrário, diz logo à partida que vão ser perseguidos e mortos. Como o Mestre, assim os discípulos. O desfecho da Sua missão será violento, contraditório!
       3 – Será que Jesus quer que eu me isole para O seguir? Que vire as costas à família e aos amigos? Que me torne monge? Será que Ele exige uma vida vazia, sem nada nem ninguém? Quais são as condições para sermos Seus discípulos? Colocá-l'O no centro, preencher todo o nosso coração com o Seu amor. As palavras de Jesus não deixam qualquer folga, não são evasivas. Quem quiser ser Meu discípulo tem de renunciar a uma vida apagada, cómoda, instalada, de indiferença. Pegar na própria Cruz e segui-l'O. Dia após dia. Todos os dias, em todo o tempo. Até quando dormimos somos d'Ele. Até quando descansamos respiramos o Seu Espírito. Em qualquer estado de vida.
       Fique, no entanto, claro que quanto mais formos de Deus mais seremos para os outros, mais comprometidos no serviço, na caridade. De grata memória, um padre (Pe. Manuel Gonçalves da Costa) do Seminário Maior dizia: quando precisares de ajuda pede a quem tem muito que fazer, que ande sempre ocupado, pois arranja tempo e espaço para te ajudar. Se pedires ajuda a alguém que nunca tem nada para fazer, nunca arranjará tempo para te ajudar. É assim o convite de Jesus. Quanto mais ocupados com Deus, mais disponíveis para os outros. Alguém conhece pessoas cheias de si com tempo para os outros?
       Na convocação do Ano Sacerdotal, o Papa Bento XVI evocava uma reflexão do Santo Cura d'Ars, São João Maria Vianney, sublinhando o valor e a necessidade da oração. Para quê? Para que Deus dilate o nosso coração. Somos limitados, amamos limitadamente. A oração coloca-nos no coração ENORME de Deus, a oração faz-nos amar mais, mais, muito mais, o mundo inteiro. Seguindo Deus, amando Deus, servindo Deus, nos outros.
       Olhemos para a história. Quem foram os maiores benfeitores da humanidade? Aqueles que amealharam para si, que cuidaram dos seus amigos, dos seus irmãos, do seu grupinho? Ou aqueles que se esquecerem de si mesmos para se darem inteiramente a Deus? Nesse dar-se a Deus construírem comunidades, lutaram pela justiça, ajudaram as pessoas à sua volta e os povos por onde passaram. Se Deus é a nossa LUZ, de nós irradiará para o mundo inteiro. Este propósito começa sempre em minha e na tua casa. Dentro de mim e de ti. De nós.
       4 – Sabemos qual a exigência do Seguimento, as condições que Jesus coloca para sermos discípulos. Mas como poderemos interpretar cada situação, como colocar Deus em primeiro lugar, como seguir Jesus nas várias dimensões da vida? Na política, no desporto, na convivência social? Na promoção da cultura, no lazer, ou quando me cruzo com a D. Flor?
       “Quem pode sondar as intenções do Senhor? Mal podemos compreender o que está sobre a terra… Quem poderá conhecer, Senhor, os vossos desígnios, se Vós não lhe dais a sabedoria e não lhe enviais o vosso espírito santo?” 
       Peçamos auxílio ao Senhor, para que nos guie com a Sua sabedoria e benevolência. “Ensinai-nos a contar os nossos dias, para chegarmos à sabedoria do coração. Voltai, Senhor! Até quando... Tende piedade dos vossos servos. Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade, para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias. Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus. Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos”.


Textos para a Eucaristia (ano C): Sab 9, 13-19; Flm 9b-10.12-17; Lc 14, 25-33.

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