sábado, 27 de abril de 2013

5.º Domingo da Páscoa - ano C - 28 de abril de 2013

       1 – As últimas palavras e desejos de uma pessoa são para realizar. O evangelho que hoje nos é proposto faz-nos regressar atrás para logo nos devolver à atualidade, em tensão para o futuro. Durante a Última Ceia, ou a primeira de um tempo novo, com Jesus Cristo ao centro da Mesa e da refeição, “quando Judas saiu do cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».
       Aproximam-se os últimos momentos da história temporal de Jesus. Senta-se à volta de uma refeição familiar, revivendo a tradição pascal dos judeus. Está com quem quer estar, os seus amigos mais próximos, os apóstolos e certamente algumas mulheres que O servem e O seguem. O ambiente vai-se adensando. Um dos discípulos já se levantou da mesa e abandonou a casa, ainda que eles não saibam razões.
       O semblante de Jesus está sereno, com um olhar firme, profundo, penetrante. Olha em volta, para os discípulos, olhos nos olhos. Percebe-se que alguma coisa está para vir. Jesus quer que os seus discípulos fiquem tranquilos, confiantes, pois nada do que acontecer escapará à vontade, à glorificação de Deus. É preciso vigilância, cuidado para não deixar que o coração se feche e enegreça. Ele estará no meio deles, mas de uma forma nova.
       2 – Quando alguém está a morrer, sabendo o próprio e os familiares e amigos mais íntimos, procura-se minorar a sua dor, o seu sofrimento, dando atenção a todas as palavras proferidas e a todos os desejos formulados. Não apenas em relação àqueles que estão no corredor da morte, nos EUA, mas a qualquer pessoa que se estime.
        Quando a pessoa morre, procurar-se-á concretizar os seus desejos. Pode ter deixado um testamento, por escrito, ou transmitido por palavras as suas vontades últimas. (As promessas não podem comprometer terceiros). Quanto possível não se deixará de atender a quem partiu se em vida isso não foi possível. Acontece mesmo que algumas pessoas ficam preocupadas excessivamente por não conseguir, por não terem forças ou meios suficientes, para concretizar essa vontade.
       Depois da morte de Jesus, e sucessiva aparição do Ressuscitado, os discípulos vão procurar as palavras mais importantes e significativas de Jesus, bem como os seus feitos. Estas palavras finais são essenciais no Testamento de Jesus: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Como é que Jesus nos amou? Deu a vida por nós. A referência é Ele – como EU vos fiz fazei vós também uns aos outros. Lavei-vos os pés para vos servir de exemplo. O discípulo não é maior que o Mestre. O Mestre veio para servir e dar a vida por todos. Os discípulos deverão sintonizar na frequência de Jesus, dando a vida, amando, servindo. Só dessa forma nos reconhecerão como Seus discípulos.
       Deus toma-nos a dianteira, no amor, na entrega. Dá-nos o Seu Filho. Agora é tempo de vivermos ao Seu jeito, seguindo os seus passos. Disse, por estes dias, o Papa Francisco: “nós seremos julgados por Deus sobre a caridade, sobre como nós O teremos amado nos nossos irmãos, especialmente os mais débeis e necessitados”.
       A marca do cristão é AMAR. Só desta forma seremos verdadeiramente discípulos de Jesus e n'Ele irmãos uns dos outros.
       3 – O que é preciso para nos tornarmos discípulos de Jesus?
       Responde Jesus de forma categórica: se vos amardes uns aos outros. O compromisso com os outros a partir do amor sem medida e cuja referência, fundamento e conteúdo é Jesus no Seu jeito de amar servindo e dando a vida.
       O Papa Francisco, na primeira Eucaristia como Papa, celebrada na capela Sistina com os Cardeais, apontava três atitudes essenciais:
  • CAMINHAR. Caminhar sempre, na presença do Senhor, à luz do Senhor…
  • EDIFICAR. Edificar a Igreja, a Esposa de Cristo, sobre aquela pedra angular que é o próprio Senhor.
  • CONFESSAR. Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo… tornar-nos-emos uma ONG sócio caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor.
       Foi precisamente isto que entenderem os seguidores de Jesus. O livro dos Atos dos Apóstolos mostra-nos a alegria do anúncio, e os padecimentos em nome de Jesus Cristo e por causa do Seu Evangelho de amor.
“Paulo e Barnabé voltaram a Listra, a Icónio e a Antioquia. Iam fortalecendo as almas dos discípulos e exortavam-nos a permanecerem firmes na fé, «porque – diziam eles – temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no reino de Deus». Estabeleceram anciãos em cada Igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum, e encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. Atravessaram então a Pisídia e chegaram à Panfília; depois, anunciaram a palavra em Perga e desceram até Atalia. De lá embarcaram para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para a obra que acabavam de realizar. À chegada, convocaram a Igreja, contaram tudo o que Deus fizera com eles e como abrira aos gentios a porta da fé”.
       As tribulações fazem parte do anúncio. Anuncia-se a Ressurreição mas também Cristo crucificado. Sobrevém o ADN dos cristãos: alegria, esperança e testemunho. Alegria por seguir e anunciar Jesus, testemunhando maravilhas que Deus opera pelas suas palavras e pelos seus gestos.
       4 – A raiz da nossa fé é Jesus. É Ele que vem, que constrói, que edifica em nós através do Seu Espírito de Amor. Ele fará em nós coisas novas, criará os novos Céus e nova Terra onde habitaremos como irmãos, apesar dos sofrimentos e dos sinais diabólicos que persistem em destruir, dividir, em silêncios comprometidos com as injustiças sociais, violência sobre os mais débeis, corrupção que corrói e mina as democracias.
       Tem-nos acompanhado, neste tempo de Páscoa, o texto da REVELAÇÃO, o Apocalipse de São João, com as suas visões sobre a Igreja, sobre o tempo presente, sobre a PRESENÇA de Deus no meio do Seu povo. Escutemos pausadamente esta descrição, com a mesma fé do apóstolo:
“Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, bela como noiva adornada para o seu esposo. Do trono ouvi uma voz forte que dizia: «Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu». Disse então Aquele que estava sentado no trono: «Vou renovar todas as coisas».
       Perante os sofrimentos dos tempos atuais, das perseguições sem fim à vista, das calúnias, o autor do Apocalipse comunica esperança fundada em Deus, pois o próprio Deus habitará com os homens, enxugará todas as nossas lágrimas. Esta certeza nos mobilize para sermos instrumentos da nova Jerusalém, para que Deus seja TUDO em todos. 

Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 14,21b-27 ; Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35.

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