sábado, 20 de abril de 2013

Domingo IV da Páscoa - ano C - 21 de abril de 2013

        1 – No 4.º domingo da Páscoa, as leituras fazem-nos olhar para Deus como o Bom Pastor. É Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Vocação significa chamamento. Somos chamados a seguir Jesus, indo no Seu encalço, deixando-nos conduzir por Ele, como ovelhas pelo Pastor.
       Vale a pena reler as palavras de Bento XVI, na última Audiência Geral como Papa, quando falava da Igreja e do ministério petrino, “sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração transborda de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e também a mim a sua consolação, a sua luz, o seu amor”. 
       Jesus traz-nos a ternura do Pai, que nos ama com amor de Mãe. O Céu fica mais perto, fica ao alcance das nossas mãos e do nosso coração. Reflitamos no convite feito por Bento XVI:
“Queria convidar todos a renovarem a confiança firme no Senhor, a entregarem-se como crianças nos braços de Deus, seguros de que aqueles braços nos sustentam sempre e nos permitem caminhar todos os dias, mesmo no cansaço. Queria que cada um se sentisse amado por aquele Deus que entregou o seu Filho por nós e nos mostrou o seu amor sem limites. Queria que cada um sentisse a alegria de ser cristão”. 
       Nas palavras simples e sábias de Bento XVI ressoa a certeza, que vem da fé e é testemunhada pela palavra de Deus, que o próprio Deus será o pastor de Israel. Esclarece Ezequiel: Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas, Eu próprio cuidarei do meu rebanho”. Ou como reza o salmista, “O Senhor é meu pastor: nada me falta” (Sl 22).
       A missão do Pastor é reunir, congregar, ajuntar todo o rebanho. Diz-nos Jesus: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Pai somos um só». 
       Ele entranha-se no MEIO, entre as ovelhas, para que haja um só rebanho e um só Pastor.
       2 – Na Mensagem para o 50.º Dia Mundial da Oração pelas Vocações, Bento XVI sublinha que “o fundamento seguro de toda a esperança está aqui: Deus nunca nos deixa sozinhos e permanece fiel à palavra dada”. Desde sempre. Deus cria-nos por amor. Somos Sua imagem e semelhança, na capacidade de amar e ser amados e na dinâmica dialógica do amor que gera vida. Ao longo dos tempos, Deus manifesta a Sua presença, pelos juízes, pelos profetas, pelos guias que coloca à frente do Seu povo. Muitas vezes, o rebanho dispersa, as ovelhas seguem por atalhos desviantes, por ruas e vielas sem saída. Quantas pessoas se colocam à margem e contra membros da mesma família e da mesma comunidade!
       Aquele povo, tal a sua dispersão e conflitualidade, mais parece um emaranhado de ovelhas sem pastor. É também assim que Jesus olha para a humanidade e, em concreto, para os judeus, para as multidões que se apresentam como ovelhas sem pastor, famintas, sequiosas de orientação, e perante as quais Jesus renova o pastoreio divino, ensinando muitas coisas, ilustrando um caminho de regresso à Casa do Pai.
       A comunidade cristã é, neste sentido, entendida como o REBANHO do Senhor Jesus. Ele está no MEIO. Quando alguém se transvia e dispersa o reconhecimento do outro como irmão fica em risco. Tomé não reconhece o testemunho dos irmãos, pois não está na comunidade. Pedro precisa de seguir o discípulo predileto para voltar a reconhecer o Senhor. Só quando o Senhor está no centro, e nos inserimos na comunidade, entre irmãos, só nesse momento somos verdadeiramente Seus discípulos. É inadiável colocar Jesus no meio, no CENTRO, é Ele que nos centrípeta, que nos aproxima e atrai para o centro, para Si. Para que Ele seja TUDO em todos.

       3 – No Apocalipse, São João, na sua visão, mostra o desenlace do AMOR de Deus. Jesus atrai a Si toda a humanidade dispersa pelo pecado, pela violência, pelo egoísmo. No Seu sangue, oferenda a favor de todos, fomos/somos remidos, incluídos na VIDA da graça.
“Eu, João, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. Um dos Anciãos tomou a palavra para me dizer: «Estes são os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro... Aquele que está sentado no trono abrigá-los-á na sua tenda. Nunca mais terão fome nem sede, nem o sol ou o vento ardente cairão sobre eles. O Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água viva. E Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos». 
       Entrelaçam-se duas imagens fortíssimas. Jesus é o CORDEIRO que se torna PASTOR. É o Cordeiro imolado, VIDA dada por muitos. É o Cordeiro que está no meio para ser Pastor. Sob a Sua tenda nos acolhemos e nos alimentamos até à eternidade. Vamos de toda a parte. Vêm de todo o mundo. É um colorido, uma multidão multicor, imensa, incontável. A salvação que Cristo nos dá não tem peso nem medida. A medida é o amor, a dádiva sem fim, a inserção na própria vida de Deus. Ele desce para a terra, pisa o mesmo chão, para nos atrair e elevar para Deus.

       4 – Jesus Cristo vai connosco. Caminha entre nós. Mas agora somos nós que O mostramos pela palavra e pela vida. Morreu, ressuscitou, apareceu aos apóstolos e discípulos, subiu para o Pai, e na vastidão de Deus está ainda mais VIVO e mais PRESENTE à humanidade; já não limitado às coordenadas do tempo e do espaço, faz chegar o CÉU a todo o mundo.
       Os discípulos entendem a sua vocação, como seguimento do Mestre e anúncio do Reino de Deus. Por momentos ainda se puseram a olhar para as nuvens à espera de uma inspiração mais divina, mais estrondosa, mais espetacular. Do Céu veio a resposta: que fazeis aí especados? O Senhor está no meio de vós, ide anunciai o Evangelho a toda a criatura.
       Paulo e Barnabé mantêm a rede de ligação a Jesus e aos Apóstolos, levando cada vez mais longe o Evangelho. Nem sempre compreendidos, e por vezes escorraçados da cidade, partem para outras terras, e por outros caminhos.
“Muitos judeus e prosélitos piedosos seguiram Paulo e Barnabé... Ao verem a multidão, os judeus encheram-se de inveja e responderam com blasfémias. Corajosamente, Paulo e Barnabé declararam: «Era a vós que devia ser anunciada primeiro a palavra de Deus. Uma vez, porém, que a rejeitais e não vos julgais dignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios, pois assim nos mandou o Senhor: ‘Fiz de ti a luz das nações, para levares a salvação até aos confins da terra’». Ao ouvirem estas palavras, os gentios encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor... Mas os judeus desencadearam uma perseguição contra Paulo e Barnabé e expulsaram-nos do seu território...” 
       A evangelização irradia a partir de Jerusalém. Com as perseguições vai-se centrifugando para o mundo inteiro. Israel é a LUZ das nações que não pode encerrar-se na delimitação de um território ou de um grupo de privilegiados. Já experimentaram tapar a luz com as mãos? Ou deixamos de a ver, ou se apaga ou tende a escapulir por entre os dedos? É o entendimento de Paulo e Barnabé. Chamados para partir, ir de casa em casa e fazer Casa em todo o mundo.


Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 13, 14.43-52; Ap 7, 9.14b-17; Jo 10, 27-30.

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