sábado, 26 de julho de 2014

XVII Domingo do Tempo Comum - ano A - 27 de julho

       1 – O reino de Deus é o Amor Maior que podemos encontrar na nossa vida, como cristãos, como seguidores Jesus Cristo. É a pérola de maior valor. Há amores na nossa vida que alteram os nossos dias, as nossas palavras, o nosso semblante, trazem alegria ao nosso olhar e sabor ao nosso sorriso. Há amor pelos quais vale a pena morrer, melhor, há amores pelos quais vale a pena viver. O reino de Deus é mesmo o melhor que nos pode acontecer, nesta vida e na vida futura. O reino de Deus chega até nós, em lógica de serviço, de conciliação, em lógica de AMOR, é o próprio Jesus Cristo. Como mostra a história da Igreja, muitos homens e mulheres viveram o reino de Deus, deram a vida toda para viver ao jeito de Jesus, revolucionaram mentalidades, construíram impérios de serviço, de caridade, de cuidado para com os mais frágeis. Em Jesus, entregaram-se aos mais pobres entre os pobres, São Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Pai Américo. Para eles, tudo pelo amor maior: Jesus Cristo, o Reino de Deus entre nós.
       Diz-nos Jesus: «O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes».
       Três parábolas que ilustram os ensinamentos de Jesus, que volta a referir-se o juízo final, não como ameaça que pesa sobre nós, mas como desafio para que a nossa rede esteja disponível para a apanha do peixe. Importa lançar as redes ao mar. Podemos errar. Podemos pescar bom peixe e mau peixe. Deus não desiste de nós. Lancemos as redes o melhor que soubermos e pudermos, Deus fará o resto. Relembramos a parábola do trigo e do joio: a divisão não se faz no início, na apanha, mas no final, dando tempo ao tempo, para que o bem possa revelar-se. Paciência misericordiosa de Deus.
       2 – Rodeados de notícias acerca de desgraças: guerras, conflitos armados, famílias destroçadas por desentendimentos mesquinhos, jovens delinquentes, violadores, abusos, trabalho infantil, exploração sexual, fome, toxicodependência, facadas, tiros, violência doméstica, homicídios, com variáveis, para roubar, para ajustar contas, para vingar, para exigir o que voluntariamente foi negado, por motivos de ganância ou por sentimentos não correspondidos. Tudo passa na televisão, na rádio, nos jornais e revistas e com a proliferação no ambiente digital. Tudo o que tenha cheiro a escândalo, a destruição, a agressividade, que apele às misérias e aos pecados, tem logo dezenas ou centenas de partilhas garantidas. Boas notícias são mais difíceis de suscitar adesão e partilha.
       E no entanto é a BOA NOTÍCIA que nos salva, nos aproxima, nos faz família, nos torna irmãos, nos liberta de egoísmo e das estruturas de pecado, de que falava o São João Paulo II. Só a BOA NOVA de Deus no meio de nós nos redime e nos retira da espiral de destruição e de negatividade. Enquanto a opção formos nós, apesar dos outros ou contra os outros, afirmando-nos na nossa individualidade em contraponto com os outros, nunca sairemos das crises que nos oprimem e sufocam. É urgente seguir Jesus Cristo. Em vez de Lhe passarmos à frente, pela nossa esperteza saloia, importa que nos coloquemos atrás, em atitude de imitação e seguimento. É também essa a reprimenda de Jesus a Pedro: "Afasta-te de Mim Satanás. Passa para trás. Segue-Me. Vê os meus passos. Deixa de preocupares só com o teu umbigo. Procura a vontade de Deus". Relembra-nos depois Bento XVI: Cristo nada nos tira, dá-nos TUDO, potencia todo o bem que há em nós.
       Perante a aparente falência da humanidade poderá advir o desencanto e a desconfiança sistémica. O lugar para a esperança no futuro, na humanidade, é vista por um canudo, quase impossível, irrealizável. O ideal de um mundo melhor, um mundo fraterno, de paz e desenvolvimento é constantemente ameaçado pela violência, pela vingança, pela guerra. Veja-se de novo o conflito em Israel e Palestina. Ainda há dias os seus líderes rezavam juntos nos jardins do Vaticano, e já estão a ver quem tem um maior poder de destruição. Ou o conflito entre Ucrânia e Rússia. Verdadeiramente desolador.
       3 – Mas a BOA NOTÍCIA está aí. Como cristãos não podemos baixar os braços. Não podemos deixar-nos vencer pelo desânimo e pelo proliferar de notícias violentas. Em ambiente digital, eu só partilho notícias e acontecimentos que promovam aproximação, ainda que existam situações negativas que mereçam espaço como alerta, como comunhão na dor, como desafio a não repetir, como convite à partilha solidária.
       Em Jesus Cristo, Deus faz-Se um de nós. Comunga da nossa dor, da nossa fragilidade e finitude, não para que tudo fique igual, mas para nos elevar, para que O imitemos procurando identificar-nos com o Seu amor, com a Sua compaixão, na proximidade e no serviço aos que se encontram em situação de maior fragilidade.
       Garante o Apóstolo: «Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos».
       Amemos a Deus e Ele não nos faltará com a Sua bênção, com a Sua graça infinita. Ele concorre para o bem que possamos desenvolver em prol dos outros. Amemos a Deus, amando os irmãos, em verdade, em palavras ilustradas com obras, em gestos de carinho e de apoio, dando e dando-nos, gastando a nossa vida para que a vida dos outros seja abundante. É este o ministério de Jesus e dos seus seguidores, amar servindo, servir amando, viver amando e servindo. Quem não vive para servir, não serve para viver (Mahatma Gandhi).

       4 – A boa vontade de pessoas que encontramos pela vida fora dão-nos confiança no futuro da humanidade, apesar dos sinais contraditórios. A esse propósito, acercam-se pessoas com uma disponibilidade intensa: quero ajudar, diga-me como, diga-me onde, diga-me o que posso fazer. Quando a boa vontade se faz acompanhar da disponibilidade para procurar soluções, ajudas, conciliando esforços e talentos, aproximando pessoas, envolvendo-se em projetos que promovam a vida em abundância, fazendo o bem sem olhar a quem, abre-se um caminho infindo de possibilidades.
       Podemos ser reis e senhores, podemos ter o mundo a nossos pés, toda a riqueza que almejamos, mas se nos faltar a amizade, o amor, se nos faltar um ombro amigo, alguém com quem conversar a vida, seremos pessoas ressabiadas. Há, como lembra Augusto Cury, pessoas miseráveis a viver em palácios de ouro; há pessoas de ouro a viver em barracos.
       A sensibilidade para com os outros é-nos mostrada nas palavras e nos gestos de Jesus. É também essa a oração de Salomão. Pede a Deus, em primeiro lugar, não a riqueza, o poder, ou longa vida, mas pede a sabedoria para assumir o seu poder como serviço a todo o povo: «Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?».
       A resposta de Deus: «Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti».
       Há que pedir a Deus o que Ele nos quer dar para nosso bem e para o bem da humanidade. Só assim a nossa oração faz sentido. Pedir a Deus que nos ajude a ser mais que os outros, ou a fazer-nos felizes mesmo que os outros vivam mal, é pedir a um Pai que renegue um dos seus filhos, o deserde, e nos favoreça. Ora o desejo do Pai é que cada filho tenha o melhor da vida e se um se encontra mais desfavorecido o compromisso dos outros para reabilitar, para ajudar. Só assim o coração de Deus sossega, só assim se realizará a vontade do Pai, a nossa verdadeira missão no mundo.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): 1 Reis 3, 5. 7-12; Sl 118 (119); Rom 8, 28-30; Mt 13, 44-52.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Laetare - Madalena

       A Agência Ecclesia, diz-nos que Laetare "é uma banda portuguesa constituída a partir das actividades de um grupo de catequese da paróquia da Reboleira, diocese de Lisboa. Começaram por ajudar na animação musical das eucaristias e depois surgiu o desafio de criar um tema original para participar no festival vicarial da canção cristã.
       A banda é constituída por 2 elementos: Clara Raimundo (Voz) e Pedro Marques (Guitarra, Voz)".
       No dia 17 de MAIO atuaram, em concerto de oração, na Igreja Paroquial de Tabuaço
       Editaram o seu primeiro CD com 11 composições, Ao Teu Sopro. Uma melodia agradável, que nos ajuda a elevar o espírito, com uma forte mensagem cristão. Vale mesmo a pena escutar, meditar, rezar, louvar a Deus. Neste dia em que celebramos a festa de Santa Maria Madalena, aqui fica um tema proposto por este grupo de música cristã.

sábado, 19 de julho de 2014

XVI Domingo do Tempo Comum - ano A - 20 de julho

       1 – Deus é lento para a ira e rico de misericórdia, "é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade" (Ex 34, 6). É isto que Jesus volta a dizer-nos de forma clara e inequívoca.
       Depois da parábola do Semeador que sai a semear e cuja semente encontra terrenos diversos, Jesus propõe-nos a parábola do trigo e do joio. «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio».
       Apercebendo-se do que está a acontecer logo os seus servos querem cortar o mal pela raiz. Então o senhor diz-lhes: "Não! Não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo". Quando chegar a altura da ceifa, amadurecendo o trigo e o joio, terão oportunidade de separar o trigo e o joio. Ao nascer e no crescer o trigo e o joio confundem-se facilmente. Mas com o tempo, o trigo cresce acima do joio…
       Já em casa, Jesus volta a explicar aos discípulos a parábola do trigo e do joio. «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Diabo. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo».
       Em cada um de nós, cresce o trigo e o joio simultaneamente. Poderemos colocar os bons de um lado e os maus do outro lado. Nesse caso cortamos o joio antes da ceifeira. E de que lado nos situamos? Seremos os bons para excluir os maus? Ou seremos os maus que se querem perdidos na escuridão e no pecado?
       Amadureçamos a semente que Jesus lançou no nosso coração e na nossa vida, cuidemos da nossa terra, vamos mondando com cuidado para não destruir o que de bom vamos encontrando, criemos condições cada dia mais favoráveis para que o trigo seja mais forte e robusto e possa ir abafando o joio que há em nós.
        2 – Uma árvore ao cair faz muito mais barulho que todas as árvores da floresta a crescer.
       Uma notícia negativa gera uma maior atenção e tem direito a um tempo de antena alargado com todos os desenvolvimentos possíveis, os vários pontos de vistas, opiniões de quem viu e de quem não viu, emoções, sentimentos. Uma notícia positiva tem algumas dificuldades de afirmação, ainda que possa ser um bom sinal na medida em que o bem continua a ser expectável.
       A velha imagem que se adequa à parábola de Jesus, o risco de deitar fora a água suja e o bebé. Olhando para a vasilha só se vê a água turva, mas dentro está o bebé. É preciso cuidado e antes de deitar fora a água verificar que nada de bom e útil segue o mesmo destino.
       No recente Campeonato do Mundo de Futebol, 16 equipas, espalhadas pelos diferentes continentes conseguiram um feito meritório, entre muitas outras apuraram-se para a fase final. Luta, trabalho, sacrifício, para superar os adversários. Na fase final, algumas equipas obtiveram mais sucesso que outras. Até podem ter perdido jogos em que jogaram melhor futebol. Este tem uma dose elevada de sorte. Um primeiro golo pode derrubar por completo a confiança. Uma derrota ou a eliminação fez explodir, em relação a algumas seleções de futebol, como Portugal e Brasil, um rol infindável de críticas como se tudo tivesse corrido mal. Perante uma derrota é difícil ver o bem e avaliar de forma equilibrada, sem com isto desvalorizar a necessidade de se fazer uma avaliação sobre o correu bem e o que correu menos bem.
       O trigo e o joio, o bem e o mal, o branco e o preto, a vida e a morte, a luz e as trevas. As antíteses até podem ser atraentes, mas a vida não é assim, é multicolor e tem diversas matizes, uma definição não encaixa em todas as pessoas do mesmo modo.
       Temos pressa e queremos resultados imediatos. Bento XVI, no início do Seu pontificado, dizia de uma forma muito acessível que a nossa pressa destrói, precipita-nos. A paciência de Deus, que brota do amor, da compaixão, da Sua misericórdia infinita, constrói. Deus é paciente, espera por nós. Sempre.
       Num grupo eclesial, numa turma (escolar), num clube de futebol, num partido, numa empresa, um incidente, uma momento infeliz, pode destruir rapidamente tudo o que se construiu com carinho e dedicação. Caindo em rápidos juízos de valor, o sério risco de colocarmos tudo em causa, desanimarmos, fazermos com que os outros desanimem.
       Paga o justo pelo pecador. Algo correu mal. Aconteceu o que não era suposto acontecer. Alguém tem de pagar as favas, ou pagam todos. Um elemento saiu fora da linha, então desiste-se por completo do projeto em causa.
       3 – Deus age, por vezes silenciosamente, em nós e através de nós. Podemos ter vontade e desejo de transformar o mundo inteiro, mas nem a nossa vida transformaremos senão deixarmos que o Espírito Santo nos envolva e reaviva em nós a memória e a identidade de filhos adotivos de Deus.
       Com o tempo, tomamos consciência que o nosso esforço não obtém resultados imediatos nem tampouco os frutos que eram esperados diante do muito que fizemos. A reação pode levar-nos a desistir e a conformar-nos com as situações vigentes. Porém, tal como na parábola do trigo e do joio, contamos com a paciência e compaixão de Deus. Para que a semente dê fruto abundante e maduro é preciso cuidado, trato, mas sobretudo deixar que Deus opere na terra que somos, solo ávido da Palavra de Deus e da Sua presença amorosa.
       Jesus explicita o agir de Deus e a confiança que nos deve suscitar através de mais duas parábolas:
  • «O reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos».
  • «O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado».
       Também por aqui se vê que Deus não age pelo exterior, pela força, pelo espetacular, mas pelo humilde e delicado, a partir do nosso interior. Deus age apenas e só através do amor com que nos cria e salva em Cristo Jesus, pela força do Espírito Santo. Por mais pequena que seja a semente, com Deus produzirá em abundância. O que fizermos só por nós pode ser muito, mas será sempre pouco. O que fizermos com Deus, ou deixarmos que Deus faça em nós e através de nós, ainda que seja pouco, será sempre muito, será sempre amor, e não correremos o risco de desanimar com a mesma facilidade de nos centrarmos apenas em nós. Sozinhos não existimos. Alguém duvida?

       4 – Na verdade, diz-nos o Apóstolo, "o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, pois é em conformidade com Deus que o Espírito intercede pelos cristãos". Na oração encontramo-nos com o mesmo Deus, que dilata o nosso coração, envolvendo-nos na compaixão com o próximo.
       O Senhor Deus é o garante da nossa vida presente e futura, Ele que nos criou e em Cristo nos redimiu. Desde sempre, Deus cuida de nós, usando de misericórdia e paciência. "Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento".
       Como é belo saber que o nosso Pai – como os nossos pais terrenos – está sempre de coração disponível e de braços abertos para nos acolher em casa, mesmo quando fomos injustos, ingratos, rebeldes. Por mais que nos tenhamos afastado, o coração do Pai (e dos pais) está pronto para nós. Faz toda a diferença. Sabemos que ainda que tudo corra mal, temos um poiso, um lugar em Quem nos encontrarmos e para onde voltarmos. A nossa casa é onde estão os que nos querem bem.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Sab 12, 13. 16-19; Sl 85 (86); Rom 8, 26-27; Mt 13, 24-43.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração...

       Jesus exclamou: «Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve» (Mt 11, 28-30).
        Jesus é o nosso conforto, o lugar em que nos descobrimos e nos encontramos como irmãos uns dos outros e como filhos bem amados de Deus. Qual o melhor conforto que nos pode ser dado senão a amizade, a compreensão, um significado envolvente para a vida, a promessa da imortalidade, a garantia que a nossa vida tem uma sentido que nos transcende e transcende o tempo presente e o mundo actual?!
       Jesus é esta promessa de definitividade. É a nossa esperança. Mais, é uma promessa que se cumpre com a Sua morte e ressurreição. As suas palavras, à luz da Ressurreição, adquirem um novo prisma, de promessa passam a cumprimento. Ele coloca as nossas esperanças na eternidade.
       A certeza de que Ele está connosco em todo o tempo e lugar, e por todo o sempre, descansa a nossa sede permanente de nos transcendermos, ou pelo menos, dá-lhe uma objectividade que nos atrai.
        O convite de Jesus confirma a preocupação de ser habitação de todos, especialmente daqueles que vivem em maiores dificuldades morais, afectivas, sociais, aqueles que cansaram da vida, das pessoas. O encontro com Jesus Cristo há-de ser de libertação, de descanso, de encontro consigo próprio, de realização do melhor que há em nós.
       Por outro lado, e como já refletimos por aqui (XIV do tempo Comum - A), Ele ensina-nos a mansidão e a humildade, que nos abrem para o futuro e que nos permitem a comunhão com os outros...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Nem um copo de água ficará sem recompensa

       "Ainda que multipliqueis as vossas preces, não lhes darei atenção, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, afastai dos meus olhos a malícia das vossas acções, deixai de praticar o mal e aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva" (Is Is 1, 10-17). 
       Disse Jesus aos seus apóstolos:
      "Disse Jesus aos seus apóstolos: «Não penseis que Eu vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz, mas a espada. De facto, vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora da sua sogra, de maneira que os inimigos do homem são os de sua casa. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa». Depois de ter dado estas instruções aos seus doze discípulos, Jesus partiu dali, para ir ensinar e pregar nas cidades daquela gente" (Mt 10, 34 - 11, 1).
       Na primeira leitura da liturgia da palavra deste dia, do profeta Isaías, acentua-se que o essencial aos olhos de Deus não é o cumprimento de ritos, de leis, de tradições, mas a vivência solidária com os outros, a conversão de coração, a justiça, a solidariedade, o bem. Os ritos, como a religião, têm sentido quando nos ajudam a ajudar os outros.
       No Evangelho, por sua vez, Jesus alerta os seus discípulos para a inquietação que devem sentir na transformação do mundo, gastar a vida para a ganhar, viver na dedicação permanente ao próximo, não esperar tranquilidade na missão. A paz conquista-se pelo compromisso com os outros. Paulo VI lembrava que o desenvolvimento é outro nome para a paz, pois esta não é alcançável quando existe pobreza, guerra, dependência, corrupção, quando lei do mais forte impera, escravizando, controlando, retirando aos outros a liberdade e a capacidade de autodeterminação. A paz exige escolhas ativas a favor da transformação do mundo e das estruturas de pecado, para que a injustiça, as desigualdades sociais, o défice de acesso à saúde, à educação e à cultura, sejam minoradas em ordem à fraternidade.
       O caminho para Jesus é o serviço, a caridade, a atenção e cuidado sobretudo às pessoas que se encontram em situações de desfavor, num mundo paralelo, deficitário, de exclusão social, política e religiosa. Aos seus discípulos diz claramente qual é o caminho: serviço, caridade. Nem um copo de água dado em nome de Jesus ficará sem recompensa.

sábado, 12 de julho de 2014

XV Domingo do Tempo Comum - ano A - 13.julho.2014

       1 – «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um».
       Belíssima sonoridade na leitura/escuta da parábola do Semeador que sai a semear e cuja semente encontra terrenos diferentes. Jesus sai de casa e vai sentar-se à beira-mar. A multidão aproxima-se e Jesus sobe para um barco, para que todos tenham oportunidade de O ver e de O ouvir. Conseguimos colocar-nos entre a multidão, ávidos da Palavra de Jesus? E na primeira fila, como os discípulos daquele tempo? Procurando perceber tudo quanto Jesus nos quer dizer?
       Depois da intervenção de Jesus, os discípulos interrogam-n’O sobre a opção de falar em parábolas. A troca de palavras é um desafio à escuta atenta e à disponibilidade para viver segundo a Palavra de Deus. Os ouvidos endurecidos daquele Povo, e de todos os povos, impedem de ouvir. Mas é a missão de Jesus, e dos discípulos, levar a todos o amor de Deus.
       Por outro lado, Jesus sublinha também o facto de aos discípulos ter sido dado a graça de contemplar o mistério de Deus, há tanto desejado pelos profetas, a presença de Deus no meio do povo e da história. É também, por conseguinte, um desafio para que não desperdicemos o DOM que nos é oferecido em Jesus Cristo.
       2 – A parábola que Jesus nos propõe pode sugerir diversas interpretações, aliás, é próprio da parábola deixar espaço para que cada um tire lições para a sua vida ou para a vida da comunidade.
       Antes de qualquer interpretação, a explicação de Jesus:
«Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».
       Como acontece em outras parábolas, o significado parece dividir os bons e os maus, os pobres e os arrogantes, os ouvintes e os mudos à Palavra de Deus. Porém, quando Jesus fala dirige-se a todos. E todos somos chamados a escutar e a levar à prática as Suas palavras. Somos discípulos. Engrossamos a multidão. E entre a multidão há muitas motivações e justificações. Uns porque sim. Outros arrastados pela maioria. Uns por curiosidade, outros por fé. Uns despertos na esperança, outros céticos em tudo o que vai além da comida e da bebida. Também assim connosco.
       Por outro lado, somos nós ao longo da vida, umas vezes entusiasmados com a Palavra de Deus, mas em nada alteramos a nossa vida; outras vezes não prestamos atenção, porque andamos preocupados com muitas coisas. O ideal é que sejamos terra fértil em que a palavra de Deus frutifique ora cem, ora sessenta, ora trinta por um. Ponhamos os talentos a render. Se guardamos a vida para nós, por receio de não sermos suficientemente compensados ou por que não queremos ser bonzinhos e outros possam escarnecer da nossa generosidade, então desperdiçamos a vida. Guardar os dons, atrofia-nos, deixa-nos raquíticos. Limitamos a vida ao mínimo e Jesus chama-nos à abundância.
       3 – A experiência vai-nos ensinando a não ser ingénuos. E muito bem!? A ingenuidade faz-nos agir antes de pensar e de fazer calculismos sobre perdas e valores. Com o passar do tempo, dizemos, aprendemos, tornamo-nos mais inteligentes e talvez mais sábios. Por isso já não nos deixamos enganar com a mesma facilidade de antes. Fechamo-nos mais. Afastamos as pessoas com mais destreza ou mantemo-las fora dos nossos afetos. Não nos magoamos do mesmo jeito, temperamos as emoções e os sentimentos.
       A sabedoria faz-nos ultrapassar a ingenuidade, mas destrói também o nosso altruísmo e generosidade, pouco a pouco tornamo-nos cínicos. Logo arrogantes e mais à frente lobos solitários. O medo de sermos enganados e de que gozem com a nossa boa vontade, levar-nos-á a ser cautelosos e calculistas. Obviamente que a vida não é branco e preto, mas multicolor, e uma descrição não encaixa em todos.
       Quem anda à chuva molha-se, ou pode molhar-se. Se a escolha é ficar em casa, na sua concha, então não se molha mas também não experimenta a densidade da chuva, ou como sabe bem chapinhar na água, ou apreciar o sol a enxugar a nossa roupa ensopada!
       Como refere o Apóstolo, na segunda leitura, vivemos na certeza da eternidade de Deus, que não anula a nossa fragilidade e pertença ao mundo histórico e temporal. A convicção temperada que existe sol mesmo quando o Céu está escuro que nem breu dá-nos confiança para avançar. "Os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há de manifestar em nós... Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade". Vivemos no mundo, ainda que renovados pelo Espírito que nos impele para acolhermos o reino de Deus, expandindo-o à nossa volta.

       4 – A Palavra de Deus mostra-nos claramente que Deus é o Senhor do tempo e da história, da vida e do mundo. Criou-nos livres e ama-nos absolutamente, como o Pai/Mãe ama os filhos. Não Se alheia de nós. O salmista convida-nos a rezar confiantes: «Visitastes a terra e a regastes, enchendo-a de fertilidade. As fontes do céu transbordam em água e fazeis brotar o trigo. Coroastes o ano com os vossos benefícios, por onde passastes brotou a abundância. Vicejam as pastagens do deserto e os outeiros vestem-se de festa». Vale mais quem Deus ajuda do que quem madruga. Sem Deus nada, com Deus tudo. Só Deus basta!
        Deus conta connosco. Predispomo-nos a acolher a semente, a Palavra de Deus, a Sua misericórdia. Ele é o Semeador. A Sua Palavra a semente. Nós a terra. Ele age. Quer atuar em nós e através de nós. A garantia: «Assim como a chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a terem fecundado e feito produzir, para que dê a semente ao semeador e o pão para comer, assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter cumprido a minha vontade, sem ter realizado a sua missão».
       O Senhor Deus garante a Sua presença e ação no mundo. Cabe-nos criar as condições para que o fruto se multiplique. O reino de Deus avança pela força do amor de Deus. Embarcamos? Ou ficamos a ver a água a passar?

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Is 55, 10-11; Sl 64 (65); Rom 8, 18-23; Mt 13, 1-23.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Tabuaço | Encerramento da Catequese | 2014 | Sabroso

       No passado sábado, o primeiro de julho, dia 5, o ENCERRAMENTO da CATEQUESE da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, de Tabuaço, no Santuário de Santa Maria do Sabroso, na Paróquia de Santa Maria de Barcos, da Zona Pastoral de Tabuaço. Algumas fotos desta tarde, com jogos e animação, com as Catequistas e o Grupo de Jovens (GJT), a celebração da Eucaristia, o lanche partilhado. Os pais foram convidados a estarem presente e alguns fizeram questão, bem assim como outras pessoas da nossa comunidade paroquial de Nossa Senhora da Conceição.
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sábado, 5 de julho de 2014

XIV Domingo do Tempo Comum - ano A - 6 de julho

       1 – «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar».
       Por certo já nos aconteceu tentarmos explicar um acontecimento, um sentimento, um mistério, procurando as palavras mais adequadas e ficarmos com a sensação que não nos fizemos entender. Quem estava a nossa frente ficou ainda mais confuso, e nós próprios no final não conseguimos também aceder à realidade que queríamos expor.
       Chega alguém, ou até o nosso interlocutor, e de uma forma simples e acessível, usando uma imagem, uma comparação, outra situação do dia-a-dia, diz-nos que e como compreendeu e ajuda-nos a assimilar o que dávamos por adquirido.
       Jesus sublinha a simplicidade do coração para compreender e acolher o mistério que vem de Deus. Os sábios e inteligentes, neste contexto, são todos aqueles que pressupõem que sabem tudo e que não precisam de ninguém para aprender. Os pequeninos são todos aqueles, com qualidades e defeitos, que estão em busca do Céu, em busca do saber, disponíveis para acolher o que vem dos outros, o que vem das alturas e em tudo e todos procuram um sentido, uma lição, um desafio para a sua própria vida.
       Ao mistério de Deus (e do Homem) só acedemos pela humildade, pelo coração. A verdadeira sabedoria será o aceitarmos a nossa limitação e colocar-nos em atitude de contemplação perante o que não compreendemos, sabendo que as palavras são necessárias mas por vezes insuficientes.
       2 – «Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».
       Há acontecimentos que nos desgastam e nos destroem. Sabemos o quanto nos afetam. Há situações, porém, em que nos sentimos abatidos, desmoralizados, esmagados até, sem sabermos as causas e as razões, sejam físicas ou morais, sendo, por vezes, um acumulado de cansaços, chatices, doença, incompreensão dos amigos, solidão, arrelias na família, no trabalho, o clima, sonhos gorados ou expetativas futuras pouco promissoras.
       A sugestão de Jesus é, também aqui, um desafio à simplicidade, ao despojamento, à humildade. Nem tudo nos é desvendado ao mesmo tempo, nem tudo nos é dado a descobrir e a conhecer na forma como esperamos e merecemos. A leveza perante a vida, nada tem de ligeireza. Leva-nos a confiar em Deus, e no futuro com Deus.
       Jesus faz-Se pequenino, absorvendo a nossa fragilidade e finitude, em clara abertura para Deus. E é nessa postura de obediência a Deus, de escuta, que Jesus Se coloca mais próximo de cada um de nós, mais perto da humanidade que nos irmana.
       A sabedoria autêntica passa por aqui. Confiança. Entrega nas mãos de Deus. Ele sustenta a nossa vida e os nossos anseios. A sua carga é leve e o seu jugo é suave, pois baseia-se no amor, na compaixão, na conciliação, para nos libertar do que nos destrói, o ódio, o ciúme extremo, a violência, a inveja, o rancor, o desejo de vingança, a maledicência. São estes propósitos que nos pesam, que nos fazem andar derreados, espiritual e fisicamente. Ficámos doentes quando nos deixamos vencer por emoções e sentimentos destrutivos. Fazem parte da nossa vida, mas há que os relativizar. Definitivo só Deus. Deixar que uma arrelia domine completamente a nossa vida, é permitir que uma ditadura invada o nosso coração, e nos vá matando aos poucos.

       3 – A encarnação, morte e ressurreição de Jesus marca uma profunda alteração na história da humanidade: o Céu abre-se para nós, ficando mais perto, ao alcance da nossa mão e da nossa vontade! A eternidade entra no tempo e faz-Se história. O divino comprime-se para caber no humano.
       Com Cristo já não estamos "sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em nós... Se vivermos segundo a carne, morreremos; mas, se pelo Espírito fizermos morrer as obras da carne, viveremos".
       Ora, é precisamente o chamamento de Jesus: vinde a Mim todos vós que andais cansados e oprimidos por tantas preocupações e por vezes sem razões de maior. Vivei segundo o Espírito, como Filhos e não como escravos. Eu liberto-vos para a vida, para o amor, para o bem. Vinde, benditos de Meu Pai. Abri o vosso coração, esvaziai-vos do que vos destrói, enchei-vos do que vos faz bem.
       Temos consciência que há situações das quais não conseguimos libertarmo-nos que não seja pela ajuda de outrem. Este Outro que vem até nós, e Se torna um de nós, para com Ele aprendermos a levantar o olhar, o coração e a vida, e a caminharmos mais seguros, ainda que entre tempestades!
       A ligação a Deus, pela oração confiante e pela obediência (escuta, respeito, amor) filial, liga-nos positivamente aos outros. Ou assim haveria de ser, se de facto a nossa união a Deus é genuína. Amamos o Pai amando os Seus filhos, o nosso semelhante.
       Esta certeza convoca-nos para transformarmos o mundo, a começar pela nossa casa. «Exulta de alegria, filha de Sião, solta brados de júbilo, filha de Jerusalém. Eis o teu Rei, justo e salvador, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, filho duma jumenta. Destruirá os carros de combate de Efraim e os cavalos de guerra de Jerusalém; e será quebrado o arco de guerra. Anunciará a paz às nações: o seu domínio irá de um mar ao outro mar e do Rio até aos confins da terra».
       O poder e a grandeza de Deus, garantia da justiça e da misericórdia, mostram-se pela humildade, pela pobreza de meios, revelando-Se na compaixão. "O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas" (Salmo).
       Tendo um chão seguro – Deus em nós –, há que trabalhar, meter as mãos à obra.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A): Zac 9, 9-10; Sl 144 (145); Rom 8, 9. 11-13; Mt 11, 25-30.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Procurai o bem e não o mal

       Procurai o bem e não o mal, para que vivais. Assim, o Senhor, Deus do Universo, estará convosco, como vós dizeis. Detestai o mal e amai o bem, restabelecei a justiça no tribunal. Talvez o Senhor, Deus do Universo, tenha compaixão dos sobreviventes de José. Eu detesto e desprezo as vossa festas, desgostam-Me as vossas reuniões sagradas. Se Me ofereceis holocaustos e oblações, Eu não quero aceitá-los; e para os vossos sacrifícios de animais gordos, nem sequer Me digno olhar. Afastai de Mim o barulho dos vossos cânticos, que Eu não quero ouvir o som das vossas harpas. Mas fazei que o direito corra como as águas e a justiça como rio inesgotável (Am 5, 14-15.21-24).
       O profeta Amós, de forma clarividente, mostra a relação entre a fé e a vida, entre o amor a Deus, a religião, e o amor ao próximo, a fraternidade. As orações, os cânticos de louvor, as oblações, os ritos do templo, não têm qualquer significado se a justiça e o direito não forem restabelecidos. Como muitas vezes ouviremos no Novo Testamento, o amor a Deus e o amor ao próximo são concumitantes, interligam-se mutuamente, não existem separados.