segunda-feira, 30 de abril de 2018

Quem Me ama guardará a minha palavra...

       A liturgia da Palavra, proposta para esta segunda-feira da 5.º Semana da Páscoa, mostra-nos, como temos vindo a acompanhar, a evolução das primeiras comunidades cristãs. Jerusalém, como ponto de irradiação e logo as comunidades que vão nascendo na Diáspora dos judeus. Por um lado, os judeus que se deslocam a Jerusalém, nas festividades, e que quando regressam a suas casas e às terras onde vivem, levam as novidades, entre as quais a dinâmica do cristianismo. Por outro lado, a perseguição à Igreja que obriga os crentes cristãos a fugir, a refugiar-se, a deslocar-se para outras terras, levando consigo a fé em Jesus Cristo e dando testemunho, as razões porque foram expulsos e porque aderiram à mensagem de Cristo.
       Na segunda parte dos Atos dos Apóstolos acompanhamos sobretudo São Paulo. A sua conversão a Jesus começa a dar bom fruto na pregação, mas também a perseguição:
Surgiu em Icónio um movimento, da parte dos pagãos e dos judeus, com os seus chefes, para maltratar e apedrejar Barnabé e Paulo. Conscientes da situação, estes refugiaram-se nas cidades da Licaónia, Listra, Derbe e seus arredores, onde começaram a anunciar a boa nova. Havia em Listra um homem inválido dos pés, coxo de nascença, que nunca tinha podido andar. Um dia em que escutava as palavras de Paulo, este fixou nele os olhos e, vendo que tinha fé para ser curado, disse-lhe com voz forte: «Levanta-te e põe-te direito sobre os pés». Ele levantou-se e começou a andar. Ao ver o que Paulo tinha feito, a multidão exclamou em licaónico: «Os deuses tomaram forma humana e desceram até nós». A Barnabé chamavam Zeus e a Paulo Hermes, porque era este que falava. Então o sacerdote do templo de Zeus, que estava à entrada da cidade, trouxe touros e grinaldas para as portas do templo e, juntamente com a multidão, pretendia oferecer-lhes um sacrifício. Quando souberam isto, os apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as túnicas e precipitaram-se para a multidão, clamando: «Amigos, que fazeis? Nós somos homens como vós e vimos anunciar-vos que deveis abandonar estes ídolos e voltar-vos para o Deus vivo, que fez o céu, a terra e o mar e tudo o que neles existe. Nas gerações passadas, permitiu que todas as nações seguissem os seus caminhos. Mas nem por isso deixou de dar testemunho da sua generosidade, concedendo-vos do céu as chuvas e estações férteis, para saciar de alimento e felicidade os vossos corações». Com estas palavras, a custo impediram a multidão de lhes oferecer um sacrifício (Atos 14, 5-18).
       Neste relato vemos como a fé precisa de amadurecer: Paulo e Barnabé são instrumentos ao serviço do Evangelho. Não são deuses. Permanecem firmes a Jesus Cristo.
       No Evangelho, Jesus desafia a permanecermos fiéis ao Seu mandato de amor. Amar Jesus Cristo equivale a guardar os Seus mandamentos. Guardar os Seus mandamentos, conduz-nos aos outros e ao compromisso com o mundo que é o nosso.
Disse Jesus aos seus discípulos: «Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele». Disse-Lhe Judas, não o Iscariotes: «Senhor, como é que Te vais manifestar a nós e não ao mundo?» Jesus respondeu-lhe: «Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que Me enviou. Disse- vos estas coisas, enquanto estava convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse» (Jo 14, 21-26).

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Domingo V da Páscoa - ano B - 29 de abril de 2018

Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida

Disse Jesus aos seus discípulos:
       «Não se perturbe o vosso coração. Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim. Em casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse, Eu vos teria dito que vou preparar-vos um lugar? Quando Eu for preparar-vos um lugar, virei novamente para vos levar comigo, para que, onde Eu estou, estejais vós também. Para onde Eu vou, conheceis o caminho». Disse-Lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais: como podemos conhecer o caminho?» Respondeu-lhe Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 1-6).
       As palavras de Jesus desafiam, em todas as circunstâncias, à confiança em Deus. Não temais. Eu venci o mundo. Eu estarei convosco até ao fim dos tempos. Tende coragem. Não se perturbe o vosso coração. Acreditai.
       Jesus antevê momentos de dificuldade, de dúvida, de dispersão, e enquanto é tempo prepara o coração, a mente, as emoções, dos seus discípulos. Eu vou, mas à frente. Vou preparar-vos um lugar. Se agora estais COMIGO, Eu quero que continue a ser desta forma. Onde Eu estiver aí estareis. Estarei sempre convosco. Vou para o Pai. Em CASA de meu Pai há muitas moradas. Sabeis o caminho. Eu Sou o CAMINHO. Vinde por MIM.

Na primeira Leitura, as palavra de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia:
«Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus, a nós foi dirigida esta palavra da salvação. Na verdade, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-O, cumpriram as palavras dos Profetas que se lêem cada sábado. Embora não tivessem encontrado nada que merecesse a morte, pediram a Pilatos que O mandasse matar. Cumprindo tudo o que estava escrito acerca d’Ele, desceram-no da cruz e depuseram-n’O no sepulcro. Mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu durante muitos dias àqueles que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém e são agora suas testemunhas diante do povo. Nós vos anunciamos a boa nova de que a promessa feita a nossos pais, Deus a cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no salmo segundo: ‘Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei’» (Atos 13, 26-33).
       O Livro dos Atos dos Apóstolos, depois de narrar diversos feitos que envolvem todos os apóstolos, mas sobretudo a liderança de São Pedro, centra-se agora na figura ímpar de São Paulo. Os discípulos, com as perseguições à Igreja, espalhavam, com mais fervor no anúncio do Evangelho.
       Em Antioquia, dirigindo-se ainda aos judeus, Paulo mostra como em Jesus se cumprem as promessas de Deus a Israel. Os Profetas lidos em cada Sábado na sinagoga veem confirmados as suas palavras na vinda de Jesus, como Messias e Senhor. Mas, os judeus de Jerusalém, sobretudo os chefes, não O reconheceram, condenaram-n'O à morte... mas Deus ressuscitou-O dos mortos e Ele apareceu aos discípulos.
       Com a Ressurreição e com as aparições do Ressuscitado, a missão dos Apóstolos de anunciarem a boa notícia de que Deus cumpriu as promessas em Jesus Cristo. Também São Paulo é testemunha privilegiada de Jesus Cristo.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O servo não é maior do que o seu Senhor

       A Páscoa que se estende por 50 dias, até à solenidade do Pentecostes, dá-nos nota da ação missionária da Igreja. O Livro dos Atos dos Apóstolos acompanha a formação das primeiras comunidades cristãs, a atualização e encarnação do Evangelho nas realidades novas que vão surgindo. Num primeiro momento faz-nos integrar a missão de Pedro, incluído no grupo dos Doze. Num segundo momento, o filme desenrola-se à volta do Apóstolo dos gentios, São Paulo. Víamos como a comunidade de Jerusalém teve algum receio em acolhê-lo, como foi importante Barnabé, garantindo-o junto da comunidade e, como depois, salvaguardando-o e à comunidade, o fizeram seguir para outras comunidades incipientes.
       Hoje vemo-lo em Antioquia da Pisídia e como dá testemunho na sinagoga acerca de Jesus:

Paulo e os seus companheiros largaram de Pafos e dirigiram-se a Perga da Panfília. Mas João Marcos separou-se deles para voltar a Jerusalém. Eles prosseguiram de Perga e chegaram a Antioquia da Pisídia. A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga mandaram-lhes dizer: «Irmãos, se tendes alguma exortação a fazer ao povo, falai». Paulo levantou-se, fez sinal com a mão e disse: «Homens de Israel e vós que temeis a Deus, escutai: O Deus deste povo de Israel escolheu os nossos pais e fez deles um grande povo, quando viviam como estrangeiros na terra do Egipto. Com seu braço poderoso tirou-os de lá e durante quarenta anos sustentou-os no deserto e, depois de exterminadas sete nações na terra de Canaã, deu essas terras como herança ao seu povo. Tudo isto durou cerca de quatrocentos e cinquenta anos. Em seguida, deu-lhes juízes até ao profeta Samuel. Então o povo pediu um rei e Deus concedeu-lhes Saul, filho de Cis, da tribo de Benjamim, que reinou durante quarenta anos. Depois, tendo-o rejeitado, suscitou-lhes David como rei, de quem deu este testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará sempre a minha vontade’. Da sua descendência, como prometera, Deus fez nascer Jesus, o Salvador de Israel. João tinha proclamado, antes da sua vinda, um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. Prestes a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem julgais; mas depois de mim, vai chegar Alguém, a quem eu não sou digno de desatar as sandálias dos seus pés’». (Atos 13, 13-25).
       O Evangelho mostra as consequências ou exigências do discipulado, partindo do gesto significativo do Lava-pés. A Quinta-feira Santa doa-nos a Eucaristia, Sacramento da Caridade divina, mas que não está, de todo, separada do compromisso com os outros. Jesus dá o exemplo. E justifica. Eu que Eu vos fiz, fazei-o uns aos outros. O servo não é maior do que o seu Senhor. Sereis felizes se o puserdes em prática: serviço. E conclui, dizendo: «Quem recebe aquele que Eu enviar, a Mim recebe; e quem Me recebe a Mim, recebe Aquele que Me enviou», incentivando-nos a receber bem aqueles que vêm em nome de Jesus...

Quando Jesus acabou de lavar os pés aos seus discípulos, disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: O servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Sabendo isto, sereis felizes se o puserdes em prática. Não falo de todos vós: Eu conheço aqueles que escolhi; mas tem de cumprir-se a Escritura, que diz: ‘Quem come do meu pão levantou contra Mim o calcanhar’. Desde já vo-lo digo antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu Sou. Em verdade, em verdade vos digo: Quem recebe aquele que Eu enviar, a Mim recebe; e quem Me recebe a Mim, recebe Aquele que Me enviou» (Jo 13, 16-20).

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Festa de São Marcos, Evangelista

Nota biográfica:
       Era primo de Barnabé. Acompanhou o apóstolo Paulo na sua primeira viagem, e depois também o acompanhou a Roma. Foi discípulo de Pedro, de cuja pregação se fez intérprete no Evangelho que escreveu. É-lhe atribuída a fundação da Igreja de Alexandria.

Oração de Coleta:
       Senhor, que confiastes ao evangelista São Marcos a missão de proclamar o Evangelho, fazei que aproveitemos de tal modo os seus ensinamentos que sigamos fielmente os passos de Cristo. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Da Epístola de São Pedro:
       Revesti-vos de humildade, uns para com os outros, porque «Deus resiste aos soberbos e dá a graça aos humildes». Humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no tempo oportuno. Confiai-Lhe todas as vossas preocupações, porque Ele vela por vós. Sede sóbrios e vigiai. O vosso inimigo, o diabo, anda à vossa volta, como leão que ruge, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que os vossos irmãos espalhados pelo mundo suportam os mesmos sofrimentos. O Deus de toda a graça, que vos chamou para a sua eterna glória em Cristo, depois de terdes sofrido um pouco, vos restabelecerá, vos aperfeiçoará, vos fortificará e vos tornará inabaláveis. A Ele o poder e a glória pelos séculos dos séculos. Amen. Foi por meio de Silvano, a quem considero irmão de confiança, que vos escrevi estas breves palavras, para vos exortar e assegurar que é esta a verdadeira graça de Deus. Permanecei firmes nela. Saúda-vos a comunidade estabelecida em Babilónia, eleita como vós, e também Marcos, meu filho. Saudai-vos uns aos outros com o ósculo da caridade. Paz a todos os que estais em Cristo (1 Pedro 5, 5b-14)

FONTE: Secretariado Nacional da Liturgia
Para saber mais sobre este Evangelista e o seu Evangelho sugerimos:
Introdução ao Evangelho segundo Marcos, de D. Antonio Couto: AQUI.

terça-feira, 24 de abril de 2018

As minhas ovelhas escutam a minha voz

A liturgia da Palavra deste dia faz-nos perceber a proximidade de Jesus, como Bom Pastor, que acompanha o seu rebanho em todas as circunstâncias, também na perseguição.
Celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação do templo. Era inverno e Jesus passeava no templo, sob o Pórtico de Salomão. Então os judeus rodearam-n’O e disseram: «Até quando nos vais trazer em suspenso? Se és o Messias, diz- nos claramente». Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, mas não acreditais. As obras que Eu faço em nome de meu Pai dão testemunho de Mim. Mas vós não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão-de perecer, ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Pai somos um só» (Jo 10, 22-30).

       Poderíamos considerar esta a semana do BOM PASTOR. O 4.º Domingo da Páscoa, Dia Mundial de Oração pelas Vocações, é o conhecido como Domingo do Bom Pastor, mas que se estende pela semana fora, mormente na proposta do Evangelho em que se aprofunda a temática de Jesus como Bom Pastor, como a Porta do aprisco pela qual entram as ovelhas.
       As palavras de Jesus revelam o amor e o cuidado de Deus por cada um de nós. Eu conheço as minhas ovelhas, e elas conhecem-me. Dou-lhes a vida eterna. Venho para que tenham vida e vida em abundância. Para que nenhuma se perca. Eu e o Pai somos UM. Que haja um só rebanho e um só pastor. Unidade e comunhão. Vida nova. Vida com qualidade. São expressões que deixam transparecer a proximidade de Deus através de Jesus Cristo.

Na primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos, acompanhamos a dispersão do rebanho e que se deve (sobretudo) a perseguição à comunidade de Jerusalém. Oportunidade para anunciar o Evangelho em outras localidades, dando testemunho acerca de Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
Os irmãos que se tinham dispersado, devido à perseguição desencadeada pelo caso de Estêvão, caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia. Mas anunciavam a palavra apenas aos judeus. Houve, contudo, entre eles alguns homens de Chipre e de Cirene, que, ao chegarem a Antioquia, começaram a falar também aos gregos, anunciando-lhes o Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles e foi grande o número dos que abraçaram a fé e se converteram ao Senhor. A notícia chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém e mandaram Barnabé a Antioquia. Quando este chegou e viu a ação da graça de Deus, encheu-se de alegria e exortou a todos a que se conservassem fiéis ao Senhor, de coração sincero; era realmente um homem bom e cheio do Espírito Santo e de fé. Assim uma grande multidão aderiu ao Senhor. Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo e, tendo-o encontrado, trouxe-o para Antioquia. Passaram juntos nesta Igreja um ano inteiro e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, se deu aos discípulos o nome de «cristãos» (Atos 11, 19-26).

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Eu sou a porta das ovelhas...

       Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que não entra no aprisco das ovelhas pela porta, mas entra por outro lado, é ladrão e salteador. Mas aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe a porta e as ovelhas conhecem a sua voz. Ele chama cada uma delas pelo seu nome e leva-as para fora. Depois de ter feito sair todas as que lhe pertencem, caminha à sua frente e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. Se for um estranho, não o seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». Jesus apresentou-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que queria dizer. Jesus continuou: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. Aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo: é como a ovelha que entra e sai do aprisco e encontra pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10, 1-10).
       O tema do pastoreio volta nesta semana. Um dia depois do Domingo do Bom Pastor ressoa em nós a voz de Jesus Cristo: "Eu sou o bom Pastor... Eu sou a porta das ovelhas... quem entrar por mim será salvo... Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância".
       A temática mostra-nos, uma vez mais, quanto Deus Se coloca do nosso lado, à nossa beira, junto a nós. Em Jesus Cristo vem para nos salvar, para nos constituir verdadeiro povo, para nos formar como família de Deus.

Por sua vez, na primeira Leitura, em São Pedro visualiza-se o mandato de Jesus Cristo. Pedro anuncia a todos oa Boa Notícia, alargando o pastoreio:
Disse-lhes Pedro: Quando comecei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós ao princípio. Lembrei-me então das palavras que o Senhor dizia: ‘João baptizou com água, mas vós sereis baptizados no Espírito Santo’. Se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós, por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para poder opor-me a Deus?» Quando ouviram estas palavras, tranquilizaram-se e deram glória a Deus, dizendo: «Portanto, Deus concedeu também aos gentios o arrependimento que conduz à vida» (Atos 11, 1-18).

       São Pedro regressa à comunidade judaica depois de ter estado entre pagãos. A reacção da comunidade é, de início, apreensiva, desconfiada, cautelosa. A salvação em Cristo é manifestada aos judeus, como é que Pedro vai até junto dos incircuncisos, os pagãos?
       Pedro, inspirado pelo Espírito Santo fala-lhes do sonho que teve e como Deus lhe manifestou a necessidade de alargar a mensagem para os pagãos e, ao mesmo tempo, a recepção positiva dos pagãos à mensagem pregada por Pedro, em nome de Jesus Cristo.
       Finalmente, a comunidade compreende que a salvação não é exclusiva de um povo, de uma nação, de um grupo de pessoas, mas destina-se à humanidade inteira... ainda que episódios destes se repitam pela história da Igreja...

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Eu sou Jesus, a quem tu persegues...

       O livro dos Atos dos Apóstolos narra a vida e a missão dos apóstolos, depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo, bem assim como a vida das primeiras comunidades cristãs. A evangelização prossegue a bom ritmo, com uma grande ajuda do mais recente Apóstolo: São Paulo. A sua conversão provoca uma grande viragem na evangelização.
       Vale a pena ler o relato apresentado sobre a conversão de São Paulo:
Na viagem, quando estava já próximo de Damasco, viu-se de repente envolvido numa luz intensa vinda do Céu. Caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?». Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?». O Senhor respondeu: «Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te, entra na cidade e aí te dirão o que deves fazer». Os companheiros de viagem de Saulo tinham parado emudecidos; ouviam a voz, mas não viam ninguém. Saulo levantou-se do chão, mas, embora tivesse os olhos abertos, nada via. Levaram-no pela mão e introduziram-no em Damasco. Ficou três dias sem vista e sem comer nem beber. Vivia em Damasco um discípulo chamado Ananias e o Senhor chamou-o numa visão: «Ananias». Ele respondeu: «Eis-me aqui, Senhor». O Senhor continuou: «Levanta-te e vai à rua chamada Direita procurar, em casa de Judas, um homem de Tarso, chamado Saulo, que está a orar». – Entretanto, Saulo teve uma visão, em que um homem chamado Ananias entrava e impunha-lhe as mãos, para que recuperasse a vista. Ananias respondeu: «Senhor, tenho ouvido contar a muitas pessoas todo o mal que esse homem fez aos teus fiéis em Jerusalém; e agora está aqui com plenos poderes dos príncipes dos sacerdotes para prender todos os que invocam o teu nome». O Senhor disse-lhe: «Vai, porque esse homem é o instrumento escolhido por Mim, para levar o meu nome ao conhecimento dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel. Eu mesmo lhe mostrarei quanto ele tem de sofrer pelo meu nome». Então Ananias partiu, entrou na casa, impôs as mãos a Saulo e disse-lhe: «Saulo, meu irmão, quem me envia é o Senhor, – esse Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas – a fim de recuperares a vista e ficares cheio do Espírito Santo». Imediatamente lhe caíram dos olhos uma espécie de escamas e recuperou a vista. Depois levantou-se, recebeu o baptismo e, tendo tomado alimento, readquiriu as forças. Saulo passou alguns dias com os discípulos de Damasco e começou logo a proclamar nas sinagogas que Jesus era o Filho de Deus (Atos 9, 1-20).
        De perseguidor dos cristãos, Paulo cai em si e descobre que Aquele que persegue é o mesmo quem procura: o Caminho, a Verdade e a Vida, Jesus Cristo.
       No Evangelho deste dia, seguindo a temática do Pão da Vida, em que Jesus Se identifica com o verdadeiro alimento que perdurará até à vida eterna, o Pão que desce do Céu, vislumbra-se o desfecho que ora celebramos, a Paixão de Jesus, que aponta para o AMOR que supera a própria morte.
Os judeus discutiam entre si: «Como pode Jesus dar-nos a sua carne a comer?». Então Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá eternamente». Assim falou Jesus, ao ensinar numa sinagoga, em Cafarnaum (Jo 6, 52-59).

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Continuou o caminho, cheio de alegria, anunciando...

       Vale a pena ler todo o texto da primeira leitura, proposta para esta Quinta-feira da 3.º Semana da Páscoa, dos Atos dos Apóstolos. A perseguição à Igreja leva à deslocalização da missão da primeira comunidade cristã, a de Jerusalém. Na mesma perspetiva, havendo uma clara oposição e perseguição aos cristãos, só por si é já divulgação, chega facilmente aos ouvidos de mais pessoas. Uma "notícia" ruim corre veloz. Neste texto, porém, a evangelização de Filipe é suscitada pelo Espírito Santo.
O Anjo do Senhor disse a Filipe: «Levanta-te e dirige-te para o sul, pelo caminho deserto que vai de Jerusalém para Gaza». Filipe partiu e dirigiu-se para lá. Quando ia a caminho, encontrou-se com um eunuco etíope, que era alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, e administrador geral do seu tesouro. Tinha ido a Jerusalém para adorar a Deus e regressava ao seu país, sentado no seu carro, a ler o livro do profeta Isaías. O Espírito de Deus disse a Filipe: «Aproxima-te e acompanha esse carro». Filipe aproximou-se do carro e, ouvindo o etíope a ler o profeta Isaías, perguntou-lhe: «Entendes, porventura, o que estás a ler?». Ele respondeu: «Como é que eu posso entender sem ninguém me explicar?» Convidou então Filipe a subir para o carro e a sentar-se junto dele. A passagem da Escritura que ele ia a ler era a seguinte: «Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, ele não abriu a boca. Foi humilhado e não se lhe fez justiça. Quem poderá falar da sua descendência? Porque a sua vida desapareceu da terra». O eunuco perguntou a Filipe: «Diz-me, por favor: de quem é que o profeta está a falar? De si próprio ou de outro?». Então Filipe tomou a palavra e, a partir daquela passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus. Ao passar por um lugar onde havia água, o eunuco exclamou: «Ali está água. Que me impede de ser baptizado?». Mandou parar o carro, desceram ambos à água e Filipe baptizou-o. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe e o eunuco deixou de o ver. Mas continuou o seu caminho cheio de alegria. Filipe encontrou-se em Azoto e foi anunciando a boa nova a todas as cidades por onde passava, até que chegou a Cesareia (Atos 8, 26-40)
       O processo de evangelização: a pessoa sente-se "tocada" pelo Espírito Santo (como os discípulos de Emaús - "não ardia cá dentro..."); a leitura da Sagrada Escritura, e a explicação da mesma (aqui por Filipe, e com os discípulos de Emaús, Jesus explica...); conversão a Jesus Cristo (batismo; nos discípulos de Emaús, o reconhecimento de Jesus ao partir do pão); a alegria e o anúncio (também em Emaús, os discípulos correm a anunciar, com grande alegria, o que lhes sucedeu no encontro com Jesus...).
       O Evangelho que nos é proposto nestes dias torna claro o mistério da redenção: Jesus é o Pão que desce do Céu como alimento para vida dos homens. A Sua morte e ressurreição não é um acontecimento ocasional nem um acontecimento passado. É vontade de Deus, assumida por Jesus, e que nos mostra que o Seu amor vai até ao fim. Ele entrega a Sua vida para nossa salvação, que acontece também HOJE. Estamos em dinâmica de ressuscitados em Cristo.

Disse Jesus à multidão: «Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Está escrito no livro dos Profetas: ‘Serão todos instruídos por Deus’. Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai; só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é a minha carne que Eu darei pela vida do mundo» (Jo 6, 44-51).

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Levantou-se uma grande perseguição à Igreja

       No tempo de Páscoa são-nos apresentadas leituras dos Atos dos Apóstolos e muito do Evangelho de São João. A primeira transparece a vida, a alegria, a garra, a vitalidade com que as comunidades cristãs se vão formando, enfrentando dificuldades e novas realidades. O anúncio do Evangelho dá frutos efetivos, ainda que surgem obstáculos nem sempre fáceis de vencer. O Espírito Santo guia os discípulos para nossas paragens.
       Depois do apedrejamento de Estêvão, o primeiro mártir cristão, a perseguição à Igreja acentuou-se o que vai permitir a expansão mais célere do cristianismo. Os persguidos levam a mensagem e os motivos da perseguição e suscitam entusiasmo noutros, pela alegria, convicção, pelo testemunho.
Levantou-se uma grande perseguição contra a Igreja de Jerusalém e todos, à excepção dos Apóstolos, se dispersaram pelas terras da Judeia e da Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram grandes lamentações por ele. Saulo, por sua vez, devastava a Igreja: ia de casa em casa, arrastava homens e mulheres e metia-os na prisão. Entretanto, os irmãos dispersos andaram de terra em terra, a anun¬ciar a palavra do Evangelho. Foi assim que Filipe, tendo descido a uma cidade da Samaria, começou a anunciar Cristo àquela gente. As multidões aderiam unânimemente às palavras de Filipe, porque ouviam falar dos milagres que fazia e também os viam. De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. E houve muita alegria naquele cidade (Atos 8, 1b-8).
       No evangelho, São João fala-nos da identidade de Jesus, como o verdadeiro alimento, o Pão que desce do Céu para dar vida ao mundo, para que n'Ele saciemos a nossa sede, a nossa ânsia de sentido e de felicidade:
Disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão da vida: Quem vem a Mim nunca mais terá fome e quem acredita em Mim nunca mais terá sede. No entanto, como vos disse, ‘embora tivésseis visto, não acreditais’. Todos aqueles que o Pai Me dá virão a Mim e àqueles que vêm a Mim não os rejeitarei, porque desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou. E a vontade d’Aquele que Me enviou é esta: que Eu não perca nenhum dos que Ele Me deu, mas os ressuscite no último dia. De facto, é esta a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e acredita n’Ele tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia» (Jo 6, 35-40)
       Para Jesus, e assim também para os seus discípulos, que somos nós também, a missão fundamental é fazer a vontade de Deus, procurando que a nossa vontade se aproxime ou funda com a vontade de Deus para nós e para a humanidade. Ele vem para salvar. A salvação acontece quando nos tornamos dóceis ao Espírito de Deus e disponíveis para darmos a vida a favor de muitos.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim não terá fome

Disse a multidão a Jesus: «Que milagres fazes Tu, para que nós vejamos e acreditemos em Ti? Que obra realizas? No deserto os nossos pais comeram o maná, conforme está escrito: ‘Deu-lhes a comer um pão que veio do céu’». Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão que vem do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão que vem do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo». Disseram-Lhe eles: «Senhor, dá-nos sempre desse pão». Jesus respondeu-lhes: «Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede» ( Jo 6, 30-35 ).
       Persistir e voltar ao passado é uma tentação muito frequente, sobretudo quando ainda não se sabe muito do futuro que se vai tornando presente. O que lá vem, envolve uma dose de desconfiança e medo, pois não sabemos com o que podemos contar. Repetir o que já vivemos, fazer o que já fizemos, dá-nos alguma tranquilidade e sossego. Já sabemos com o que contamos. Na vida pessoal, na vida familiar, na vida profissional, precisamos de nos sentirmos em casa, seguros, saber com o que contámos, sem grandes surpresas. A rotina também solidifica a nossa relação com os outros e com a vida. O que valoriza a festa é a féria, se todos os dias fossem de festa, a festa passava a ser rotina e deixava festa. Mas, muitas vezes, precisamos de abrir as janelas e as portas, para entrar ar fresco e salubre, e para sairmos para que os nossos movimentos nos tornem ágeis e saudáveis.
        Jesus é água vida, e vida nova, é ar puro, alimento que nos sacie, Irrompe pela nossa vida, como uma enxurrada de vida e de compaixão. Ele é NOVIDADE, a grande BOA NOVA, bela notícia de salvação. Vem por inteiro e traz-nos Deus, dando-nos o melhor de Si, dando-Se, entregando a Sua vida, mostrando que o amor de Deus por nós não tem limite, o limite é a eternidade. Desde sempre nos chama, para sempre nos quer com Ele junto do Pai. Não quer que nenhum de nós se perca, quer-nos TODOS com Ele. Faz-Se Um connosco, um de nós, para nos unir a Ele e nos elevar.
        A multidão segue-O. Vamos nós também. Sigamos. Vejamos. Ouçamos. Também duvidamos das Suas palavras? E do Seu amor? Ver para crer! Por vezes, diante do sofrimento e das dificuldades, parece que não há sol nem esperança. Quereríamos um sinal inequívoco que podemos contar com Deus e que Deus está na nossa vida. Jesus desafia-nos: quem acredita n'Ele tem a vida eterna, encontra um sentido para a vida, que ultrapassa o tempo, a morte, o sofrimento.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

VL - Jesus Cristo, nossa Páscoa e nossa alegria

Jesus Cristo é a nossa Páscoa, a nossa esperança e alegria, e a Luz que nos conduz e nos envolve no Seu amor e na Vida nova que nos dá. Tão grande este mistério que guia, ilumina e dá forma à nossa vida como cristãos. Existimos para a Páscoa, porque dela nascemos. Somos o que somos por causa da Páscoa. Sem a Páscoa não seríamos cristãos, não seríamos Corpo de Cristo, que é Igreja. E caminhamos como peregrinos para a Páscoa (eterna), que é Jesus Cristo. 
Com efeito, quando batizados, mergulhámos neste mistério maior, morrendo com Cristo, ressuscitando com Ele, tornando-nos novas criaturas. Por outro lado, o mistério da Eucaristia configura-nos totalmente a Cristo, morto e ressuscitado, somos Corpo n'Ele e com Ele. 

A cada ano, a festa das festas cristãs, a Páscoa anual, para recentrar a nossa fé, para imprimir a prioridade que deve habitar-nos, a essência do nosso crer, do nosso celebrar e do nosso agir. Vai e faz do mesmo modo. Como Eu vos fiz, fazei vós também. Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Lavei-vos os pés... para que assim o façais aos vossos irmãos. Dai-lhes vós mesmos de comer. Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome aí estarei no meio deles. Estarei convosco até ao fim dos tempos. Não temais, Eu venci o mundo. Quem acreditar em Mim será salvo. Vinde a Mim todos vós que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei. Vinde benditos de Meu Pai. O que fizerdes ao mais pequeno dos irmãos é a Mim que o fazeis. Quem quiser ser o primeiro, seja o último e o servo de todos. Sede perfeitos e misericordiosos como o Vosso Pai do Céu. Nem um copo de água ficará sem recompensa. Perdoai, sempre, pois assim o Pai vos perdoará a vós. Ide reconciliar-vos com os irmãos. 

As palavras de Jesus são acompanhadas por gestos e vice-versa, os gestos são explicitados pelas palavras. Mas tudo é "sacralizado", fixado, elevado no mistério da Sua Páscoa que Ele nos deixa como memorial, para que também hoje, na minha e na tua, na nossa vida, Ele Se faça presente com a Sua vida e com o Seu amor sem fim. Ele vive, Ele está no meio de nós. A distância "ontológica" – Ele vive na dimensão do Pai – é contemporaneizada no mistério da Igreja, concentrado, vivido e celebrado no dom da Eucaristia em que Ele, Deus sempre connosco, Se faz presente nas espécies do vinho e do pão, novamente e sempre pela ação do Espírito Santo.

Publicado na Voz de Lamego, 27 de março de 2018

Trabalhai pelo alimento que dura até à vida eterna

       Depois de Jesus ter saciado os cinco mil homens, os seus discípulos viram-n’O a caminhar sobre as águas. No dia seguinte, a multidão que permanecera no outro lado do mar notou que ali só estivera um barco e que Jesus não tinha embarcado com os discípulos; estes tinham partido sozinhos. Entretanto, chegaram outros barcos de Tiberíades, perto do lugar onde eles tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. Quando a multidão viu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, subiram todos para os barcos e foram para Cafarnaum, à procura de Jesus. Ao encontrá-l’O no outro lado do mar, disseram-Lhe: «Mestre, quando chegaste aqui?»
       Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará. A Ele é que o Pai, o próprio Deus, marcou com o seu selo». Disseram-Lhe então: «Que devemos nós fazer para praticar as obras de Deus?» Respondeu-lhes Jesus: «A obra de Deus consiste em acreditar n’Aquele que Ele enviou» (Jo 6, 22-29).


       Nas palavras de Jesus a fé é o conteúdo essencial para alcançar a vida eterna e para, neste mundo, realizar as obras de Deus. Muitas vezes referimos a necessidade de passar da fé à vida, da oração para a acção, da igreja para a rua, para o trabalho, para o lazer. Ora, Jesus identifica as duas realidades: acreditar n'Aquele que o Pai enviou é a forma de realizar a obra de Deus.
       Numa leitura atenta das palavras de Jesus podemos ver facilmente que a fé não é oca, vazia, desligada da vida e das preocupações de transformar o mundo, pelo contrário, a fé implica a maior das mudanças e das revoluções, a adesão firme e militante à vida nova recebida de Deus. Uma pessoa crente, em que a fé seja autêntica e signifique seguimento de Jesus Cristo, leva inevitavelmente ao compromisso com os outros. Aliás, só na fé de Jesus Cristo nos reconhecemos como irmãos. Acreditar n'Ele implica que O imitemos em tudo, dando a vida uns pelos outros.
       Uma pessoa enamorada tudo fará para ser agradável à pessoa por quem nutre tal afeição. Se nos enamoramos por Jesus Cristo, a nossa vida seguirá nas Suas peugadas...

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Aquele que vem do alto está acima de todos...

       A Páscoa de Jesus reabilita e reúne os discípulos. O medo dá lugar à alegria, a dúvida cede à fé, o temor é assumido pela esperança. As portas e janelas antes fechadas abrem-se para o mundo e os discípulos apregoam Jesus vivo e o Seu Evangelho de compaixão em todos os lugares, ocasiões e oportunidades.
       O livro dos Atos dos Apóstolos, que nos acompanha em todo o tempo de Páscoa, mostra-nos como as primeiras comunidades assumem e testemunham o Evangelho e como os Apóstolos vão alargando o espaço e os mundos a que se dirigem para pregar.
       No Sinédrio, diante do tribunal judeu, no Templo ou na Sinagoga, os Apóstolos garantem que Jesus vive e só a Ele deverão obedecer, ainda que respeitem as autoridades dos judeus, dos gregos ou do romanos, por quem rezem.
       O Querigma, o primeiro anúncio, está bem sintetizado nas Palavras de Pedro e dos Apóstolos, como se pode ver na primeira leitura:
O comandante do templo e os guardas trouxeram os Apóstolos e fizeram-nos comparecer diante do Sinédrio. O sumo sacerdote interpelou-os, dizendo: «Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem». Pedro e os Apóstolos responderam: «Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós destes a morte, suspendendo-O no madeiro. Deus exaltou-O pelo seu poder, como Chefe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e o perdão dos pecados. E nós somos testemunhas destes factos, nós e o Espírito Santo que Deus tem concedido àqueles que Lhe obedecem». Exasperados com esta resposta, decidiram dar-lhes a morte (Atos 5, 27-33).
       O Evangelho continua a trazer-nos o diálogo de Jesus com Nicodemos. A noite do encontro vai dando lugar à luz da fé, do esclarecimento, do testemunho.
       Disse Jesus a Nicodemos: «Aquele que vem do alto está acima de todos; quem é da terra, à terra pertence e da terra fala. Aquele que vem do Céu dá testemunho do que viu e ouviu; mas ninguém recebe o seu testemunho. Quem recebe o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro. De facto, Aquele que Deus enviou diz palavras de Deus, porque Deus dá o Espírito sem medida. O Pai ama o Filho e entregou tudo nas suas mãos. Quem acredita no Filho tem a vida eterna. Quem se recusa a acreditar no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele» (Jo 3, 31-36).
       Ouvíamos ontem no Evangelho Jesus dizer-nos claramente: "Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele". Hoje acentua-se a Mensagem de Jesus: Deus ama-nos, com amor eterno, criou-nos por amor, por amor nos dá o Seu Filho, Jesus Cristo, enviado ao mundo para que a humanidade seja salvo por Seu intermédio. A salvação é dom de Deus. Ele oferece-a de bom grado, gratuitamente. Aliás, dá-nos o melhor de Si mesmo, o Seu Filho Unigénito, que permanece no mundo através do Espírito Santo.
       Cabe-nos acreditar em Jesus, acolher a Sua mensagem de amor e de perdão, viver na/da Sua vida.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

...para que o mundo seja salvo por Ele

       Disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más acções odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus» (Jo 3, 16-21).
       Em tempo pascal, Jesus explica a Nicodemos a Encarnação, a entrega do Filho do Homem à humanidade: o amor infinito e pleno ao ser humano, a toda a pessoa. Diz-nos claramente que vem para salvar-nos. E, se nos deixarmos iluminar pela Sua luz, entramos no reino de eternidade.
       Nicodemos era um dos chefes dos fariseus, sensível para escutar a Palavra vinda de Jesus. Jesus acentua a bondade de Deus para com a Humanidade. Deus criou-nos por amor e não desiste de nós, quer a nossa salvação.
       A vinda de Jesus ao mundo tem como fito principal a salvação da humanidade. Quem n'Ele acredita tem a vida eterna. Quem O recusa, e à Sua Palavra, exclui-se da salvação. Destarte, a condenação não é uma acção positiva de Deus, mas uma acção dependente da vontade e da liberdade da pessoa, que Deus respeita, mesmo que fira o Seu amor de Pai.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Damos testemunho do que vimos...

       A Ressurreição é um desafio e um compromisso dos seguidores de Jesus Cristo em mostrá-l'O vivo nas palavras e nos gestos, na organização das comunidades crentes. Jesus coloca-se no MEIO deles e eles perdem o medo, pois Ele sempre estará.
       Na primeira leitura, que atravessa este tempo de Páscoa, do livro dos Atos dos Apóstolos, vamos acolhendo a chama com que os discípulos dão a conhecer o Evangelho de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, suscitando entusiasmo mas também ódios e perseguição. O texto de hoje caracteriza a a comunidade, a forma como procurou encarnar o Evangelho:

A multidão dos haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém considerava seu o que lhe lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de muita simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos, e distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade. José, um levita natural de Chipre, a quem os Apóstolos chamaram Barnabé – que quer dizer «Filho da Consolação» – possuía um campo. Vendeu-o e trouxe o dinheiro, que depositou aos pés dos Apóstolos (Atos 4, 32-37)
No Evangelho, Jesus continua em diálogo com Nicodemos:
Disse Jesus a Nicodemos: «Não te admires por Eu te haver dito que todos devem nascer de novo. O vento sopra onde quer: ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito». Nicodemos perguntou: «Como pode ser isso?» Jesus respondeu-lhe: «Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo: Nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho. Se vos disse coisas da terra e não acreditais, como haveis de acreditar, se vos disser coisas do Céu? Ninguém subiu ao Céu, senão Aquele que desceu do Céu: o Filho do homem. Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna» (Jo 3, 7b-15).
       São João coloca-nos junto de Jesus e de Nicodemos, doutor da Lei. Jesus diz claramente a Nicodemos que tem de nascer de novo, uma nova vida, que não virá apenas da conversão, mas também da redenção operado por Jesus Cristo. Por outro lado, Jesus coloca a transcendência de Deus em destaque, não O podemos encerrar na nossas concepções muito nossas. A força do Espírito manifesta-se onde quer, é como o vento que não sabemos de onde vem ou para onde vai.
       Por outro lado ainda, Jesus anuncia a elevação do Filho do homem, para que todos O vejam e acreditando tenham a vida eterna. A elevação do filho enquadra a crucifixão de Jesus, a Sua morte redentora, mas também o NOME que é colocado acima de todos os todos e ao qual todos os joelhos se deve dobrar, não como penitência, mas para que a contemplação de Deus os leve ao serviço dos irmãos.

sábado, 7 de abril de 2018

Domingo da Divina Misericórdia - ano B - 8.abril.2018

Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho

       Continuamos em DIA de PÁSCOA, uma semana como se fora um só DIA, tal é o mistério e a grandeza do AMOR de Deus para com a humanidade que Se revela em plenitude em Jesus Cristo, na extensão de toda a Sua vida e mensagem, mas mais expressivamente na Morte, Paixão redentora e Ressurreição. Com efeito, a Ressurreição é surpreendente. A morte do Mestre já fora uma surpresa, ninguém esperava que o Messias prometido e esperado, e que viria para trazer o esplendor a Israel, acabasse pregado numa cruz como malfeitor. Surpresa maior, Aquele que foi morto afinal vive e está no meio de nós. Três dias depois, Ele aparece ressuscitado, dando prosseguimento ao Seu projeto de amor e salvação:
Jesus ressuscitou na manhã do primeiro dia da semana e apareceu em primeiro lugar a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demónios. Ela foi anunciar aos que tinham andado com Ele e estavam mergulhados em tristeza e pranto. Eles, porém, ouvindo dizer que Jesus estava vivo e fora visto por ela, não acreditaram. Depois disto, manifestou-Se com aspecto diferente a dois deles que iam a caminho do campo. E eles correram a anunciar aos outros, mas também não lhes deram crédito. Mais tarde apareceu aos Onze, quando eles estavam sentados à mesa, e censurou-os pela sua incredulidade e dureza de coração, porque não acreditaram naqueles que O tinham visto ressuscitado. E disse-lhes: «Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16, 9-15).
       A ressurreição e o encontro com o Ressuscitado há de dar lugar ao testemunho e à missão (a missão parte do testemunho): ide por todo o mundo e anunciai a todos os Evangelho. A Diocese de Lamego continua a acentuar esta dimensão missionária, ainda que com os olhos colocados na família: IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS. Os Apóstolos fazem a experiência de encontro com Jesus Cristo e não mais deixarão de dar testemunho acerca d'Ele, mesmo colocando em perigo a próprio vida e sofrendo todo o tipo de ataques e perseguições:
Os chefes do povo, os anciãos e os escribas, vendo a firmeza de Pedro e de João e verificando que eram homens iletrados e plebeus, ficaram surpreendidos. Reconheciam-nos como companheiros de Jesus, mas, como viam diante deles o homem que fora curado, nada podiam replicar. Mandaram-nos então sair do Sinédrio e começaram a deliberar entre si: «Que havemos de fazer a estes homens? Que se realizou por meio deles um milagre, sabem-no todos os habitantes de Jerusalém e não podemos negá-lo. Mas para que isto não continue a divulgar-se entre o povo, vamos intimá-los com ameaças que não falem desse nome a ninguém. Chamaram-nos então e proibiram-nos terminantemente falar ou ensinar em nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam: «Se é justo aos olhos de Deus obedecer-vos antes a vós que a Ele, julgai-o vós próprios. Nós é que não podemos calar o que vimos e ouvimos». Depois de novas ameaças, puseram-nos em liberdade, pois não encontravam modo de os castigar, por causa do povo, uma vez que todos davam glória a Deus pelo que tinha acontecido (Atos 4, 13-21).

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Tendes alguma coisa para comer?

        Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, e Natanael, que era de Caná da Galileia. Também estavam presentes os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes então Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa para comer?» Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes. Então o discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor»...
        Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar: «Quem és Tu?» bem sabiam que era o Senhor. Então Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe. Foi esta a terceira vez que Jesus Se manifestou aos discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos (Jo 21, 1-14).
       Oito dias de Páscoa, como se de um só dia se tratasse, para sublinhar a importância primordial da Ressurreição de Jesus Cristo, como acontece também por ocasião do Natal. Em cada dia desta Semana, celebramos o primeiro dia - eis o DIA que o Senhor fez, exultemos e cantemos de alegria -, o grande DIA em que se inicia um tempo novo, de graça e salvação.
       Com o primeiro dia, vêm as aparições de Jesus aos seus, para renovar neles a esperança, para confirmar neles a missão de serem Apóstolos para a humanidade, Apóstolos da salvação, da ressurreição.
       Esta, segundo São João, é a terceira aparição.
       Jesus aparece-lhe no local de trabalho. Já por si é um dado importante. Jesus vem ao nosso encontro, não apenas nos momentos de oração e de reunião, mas também no hoje da nossa existência, no meio das nossas preocupações e trajetos. Podemos encontrar Deus em qualquer parte, em todos os momentos.
       Jesus dá-Se a conhecer no lugar onde tinha chamado alguns dos discípulos, relembrando que doravante serão pescadores de homens. É outro dado importante.
       Manifesta-Se na pesca abundante mas uma vez mais também na refeição, que poderá apontar para a abundância da outra refeição - a Eucaristia, como alimento espiritual até à vida eterna, saciando-nos com o Pão descido do Céu, que é o próprio Jesus.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

... a Paz esteja convosco!

        Os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?» Deram-Lhe uma posta de peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’» (Lc 24, 35-48).
        O Evangelho de hoje continua a narração de ontem. Jesus aparece aos discípulos de Emaús, e estes, depois de O reconhecerem no partir do pão, vão a correr relatar o que lhes sucedeu e como o Mestre os encontrou.
       Estão reunidos, com alegria, a contarem uns aos outros os momentos em que Jesus apareceu às mulheres, como os discípulos que foram ao sepulcro e o encontraram vazio, a aparição em Emaús, e eis que Jesus Se coloca no meio deles e lhes diz: "A paz esteja convosco".
       Entra aqui mais um elemento novo. Jesus não é um espírito a vaguear pelo mundo ou um fantasma. Por um lado, a realidade temporal foi ultrapassada pela ressurreição, por outro, a identidade corpórea é evidente. O Crucificado é o Ressuscitado. Jesus relembra a mensagem anterior à Paixão. Manifesta-Se num corpo glorioso mas a Sua aparição é mais do que um susto, um fantasma, uma ilusão, é o próprio Cristo com a Sua identidade humana e divina e daí que no poder de Deus que Se manifesta Ele poder comer e ser "tacteado", apesar da Sua presença gloriosa.
       No tempo em que vivemos, por vezes, queremos explicar e encerrar Deus nas nossas concepções racionais e empíricas. Mas Deus, enquanto Deus, não pode ser limitado nem prisioneiro dos nossos conceitos. A palavra de Deus convida-nos a abrir-nos à esperança e ao futuro, a deixarmo-nos surpreender por Deus, como aconteceu com os discípulos daquele tempo.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Paróquia de Pinheiros | Páscoa 2018

       A Páscoa faz os cristãos, faz a Igreja. Porque Jesus ressuscitou, tornamo-nos cristãos, inseridos no Seu Corpo que é a Igreja. A Páscoa existe por nossa causa, Cristo entrega-Se para nos salvar e com a Sua ressurreição agrega-nos à vida divina. É o que celebramos nos sacramentos, especialmente da Eucaristia, na qual a Páscoa acontece, Jesus está realmente presente.
       As comunidades solenizam com devoção e alegria estes dias de festa. Também a Paróquia de Santa Eufémia de Pinheiros.
       Neste videoporama, dois dias solenes: Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, 25 de março de 2018, e Segunda-feira de Páscoa, com a Visita Pascal, 2 de abril de 2018.
       A música do fundo é da Banda Jota - "Porque o amor está no ar".

Não ardia cá dentro o nosso coração...

       ... «Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão (Lc 24, 13-35).
       É-nos hoje apresentado o relato da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús.
       Salientam-se diversos momentos e sentimentos. Os discípulos caminham em direcção a casa desiludidos e tristes com os acontecimentos desses dias. No meio deles surge Jesus que os interroga sobre a discussão que vinham a ter e sobre o motivo da sua tristeza. Eles revelam o que aconteceu com o Mestre, Jesus. Então, por sua vez, Jesus faz-lhe ver que não foi o fim do mundo mas o início de um tempo novo. Com efeito, a Sagrada Escritura já anunciara o que haveria de acontecer com o Messias, o que sucedeu confirmou as diversas profecias.
       Chegados perto de casa, convidam Jesus a ficar com eles, sem saberem que era Ele. Por aqui se vê, que há uma diferença entre o Jesus terreno e o Jesus glorificado. Embora seja o mesmo Cristo Jesus, a Sua aparência coloca-O na "vastidão" de Deus, de onde Se manifesta a todo o mundo.
       Mas se pela aparência não O reconhecem, reconhecem-n'O nas palavras e sobretudo nos gestos, no partir o pão como memorial da Sua presença, antecipado para os Apóstolos na Quinta-feira santa. Reconhecem-n'O nos seus corações, ainda que necessitados de serem iluminados.
       Reconhecido o Mestre, o medo desaparece e no seu lugar a alegria que se partilhada. Antes convidaram o "Desconhecido" a pernoitar com eles, por ser noite. Agora, mesmo de noite, voltam a Jerusalém para contarem como Jesus lhes apareceu pelo caminho e como se manifestou ao partir do pão.

Paróquia de Tabuaço | Semana Santa 2018

       Videoporama com fotos da Semana Santa, 25 de março a 1 de abril de 2018, na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Tabuaço.
       A comunidade cristã-católica parte (sempre) do mistério pascal, da paixão redentora de Jesus Cristo, que entrega a Sua vida, inteira, ao Pai, por nós e com Ele nos oferece, elevando-nos com Ele, pela Ressurreição, para a vida divina. É esse mistério que neste dias celebramos de forma ainda mais festiva, mais solene.
       A acompanhar o conjunto das fotos, a belíssima música de Claudine Pinheiro, com dois temas retirados do Álbum "Até quando?": Quero ser como Tu (letra e música do Pe. Leonel Claro) e Porque te ris? (letra e música de Claudine Pinheiro)

terça-feira, 3 de abril de 2018

Mulher, porque choras? A quem procuras?

       Liturgicamente celebramos a Páscoa durante 8 dias como se de UM só e grande DIA se trate. A Páscoa não é o fim de um ciclo, é início de vida nova. Também hoje, em terça feira da Páscoa, celebramos a vida nova da ressurreição que acontece em Cristo Jesus e em nós acontecerá... melhor, em nós deverá acontecer constantemente, num exercício de passarmos da quaresma das nossas vidas, da morte, para a Páscoa, para as páscoas que nos ligam aos outros e a Deus.
       No evangelho hoje proposto, de São João, vemos como Maria Madalena, junto ao sepulcro de Jesus, é por Ele surpreendido. A experiência de encontro com o Ressuscitado há de levar-nos ao anúncio da boa nova, à proclamação da ressurreição, ao testemunho. Maria Madalena vai jubilosa comunicar o viu e e ouviu.
Maria Madalena estava a chorar junto do sepulcro. Enquanto chorava, debruçou-se para dentro do sepulcro e viu dois Anjos vestidos de branco, sentados, um à cabeceira e outro aos pés, onde estivera deitado o corpo de Jesus. Os Anjos perguntaram a Maria: «Mulher, porque choras?» Ela respondeu- lhes: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram». Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, sem saber que era Ele. Disse-lhe Jesus: «Mulher, porque choras? A quem procuras?» Pensando que era o jardineiro, ela respondeu-Lhe: «Senhor, se foste tu que O levaste, diz-me onde O puseste, para eu O ir buscar». Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela voltou-se e respondeu em hebraico: «Rabuni!», que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não Me detenhas, porque ainda não subi para o Pai. Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que vou subir para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus». Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: «Vi o Senhor». E contou-lhes o que Ele lhe tinha dito (Jo 20, 11-18).
       O mesmo sucede com Pedro e os demais apóstolos. Fazem a experiência de encontro com o Ressuscitado, e tornam-se, agora sim, verdadeiros apóstolos, anunciadores da BOA NOTÍCIA, levando outros à conversão, ao batismo:
No dia de Pentecostes, disse Pedro aos judeus: «Saiba com absoluta certeza toda a casa de Israel que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes». Ouvindo isto, sentiram todos o coração trespassado e perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: «Que havemos de fazer, irmãos?» Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um de vós o Baptismo em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo, porque a promessa desse dom é para vós, para os vossos filhos e para quantos, de longe, ouvirem o apelo do Senhor nosso Deus». E com muitas outras palavras os persuadia e exortava, dizendo: «Salvai-vos desta geração perversa». Os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o Baptismo e naquele dia juntaram-se aos discípulos cerca de três mil pessoas (Actos 2, 36-41).