1 – Prestemos atenção à força e luminosidade das palavras de Jesus no Evangelho deste domingo:
“Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor… Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer... Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos”.
No domingo passado, Jesus apresentava-Se como o Bom Pastor, Aquele que cuida de todo o rebanho e conhece cada ovelha pelo seu nome, Aquele que dá a vida, por opção livre, testemunhando na Sua carne, com toda a Sua vida, o amor de Deus. Esse é o Seu alimento. Há de ser também o nosso. Alimentar-nos de Deus, da Sua Palavra, da Sua presença, do Seu Espírito de Amor. Só em comunhão estreita com Ele daremos fruto em abundância.
Hoje Jesus utiliza uma imagem igualmente feliz e expressiva. Ele é a videira, nós os ramos. Os ramos – todos os discípulos – só produzirão fruto se ligados à vide. Se cortados, ou “desligados” da videira, se não lhes chegar o “alimento” que percorre a cepa, os ramos secam, serão cortados, servirão para queimar. O fruto produzido atesta a ligação. A fé é o ponto de partida, o sustento e a chegada; são as obras, contudo, que mostram até que ponto a “ligação” a Deus é efetiva.
As palavras de Jesus convocam-nos para uma vida comprometida com os outros, neste tempo e no lugar em que nos encontramos. Dar fruto para verificar a fé. Dar muito fruto para ser mais forte a nossa ligação a Deus e a nossa comunhão com os outros. Dar fruto para fortalecermos a nossa filiação divina.
2 – As missivas dos apóstolos, às primeiras comunidades cristãs, têm a preocupação de avivar a fé e a pertença a Cristo, como cabeça da Igreja, o estreito seguimento do Mestre e do Seu jeito de viver e de amar. Neste sentido, a urgência de transformar a fé em obras concretas de amor, de serviço e de partilha. Os ramos bem unidos à videira darão frutos em abundância!
A fé desligada da vida, da história e do tempo, seria artificial, vazia, condenada ao fracasso. A fé em Jesus Cristo conduz-nos aos outros, ao mundo, à transformação das realidades temporais, envolve-nos na promoção do bem, na prática das obras de misericórdia (corporais e espirituais), expressão da CARIDADE que é o próprio Deus.
Diz-nos São João, na sua primeira Carta:
“Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade… É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele”.
Por mais argumentos que tenhamos sobre a fé que possuímos, esta é verificável pela nossa vida. Amemos com obras e em verdade, não apenas com palavras. Estas têm valor e espaço quando confortam, abençoam, acolhem, protegem, interpelam, como expressão da caridade. É contraproducente pregar a estômagos vazios. As palavras não excluem o serviço, promovem-no; não impedem a caridade, incentivam-na. O mandamento é acreditar em Jesus Cristo como filho de Deus, a fé, e amar-nos uns aos outros, a caridade. É a nossa ligação a Deus que põe em evidência e fortalece a nossa ligação aos outros. O alimento de Jesus é fazer a vontade de Deus. Para isso Ele vai ao encontro de todos, mas sobretudo dos que têm mais necessidade de cura, de atenção, de acolhimento, do pão e da paz.
3 – A vivência da fé engloba duas dimensões que se completam, a pessoal e a comunitária. Com efeito, cada pessoa, única e irrepetível, acolhe a fé “à sua maneira”. Não conta apenas o conteúdo, também o recipiente, e nem todos são iguais. Mas a fé é cristã, é referida a Cristo, é a fé de Cristo, a fé do Corpo de Cristo que é a Igreja. Nós somos membros, somos os ramos da videira, só produzimos fruto de qualidade e abundante se estivermos ligados à verdadeira vide. A fé sem obras é morta. A fé desligada da comunidade crente é uma contradição, uma farsa. A fé (como a religião) liga-nos a Deus e aos outros.
A primeira leitura dá-nos conta do percurso de São Paulo, da conversão até à comunidade-mãe, Jerusalém, e como procura integrar-se antes de qualquer outra missão. Barnabé, por sua vez, torna-se seu padrinho, garantindo aos apóstolos que Saulo/Paulo não é uma ameaça mas um apóstolo entusiasta de Jesus.
"Saulo chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos. Mas todos o temiam, por não acreditarem que fosse discípulo. Então, Barnabé tomou-o consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado, e como em Damasco tinha pregado com firmeza em nome de Jesus”.
Numa altura em que a Igreja goza de paz e é benquista por todos, Paulo dá testemunho de Jesus Cristo e da forma como se “converteu”. No entanto, bem cedo Paulo começa a ser perseguido pelos helenistas que querem dar-lhe a morte. A comunidade protege-o e envia-o em nova missão, para outras comunidades cristãs.
Movidos e inspirados pelo Espírito Santo, procuremos que a nossa fé se aprofunde na prática da caridade e inserida na comunidade paroquial. Ramos que se ligam à videira. Cristãos unidos a Cristo. Fé projetada e comprometida com a vida e com os outros.
Textos para a Eucaristia (ano B): Atos 9, 26-31; 1 Jo 3, 18-24; Jo 15, 1-8.
Reflexão dominical na página da Paróquia de Tabuaço
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