sábado, 5 de janeiro de 2013

Solenidade da Epifania do Senhor - 6 de janeiro

       1 – Celebramos hoje a solenidade da Epifania do Senhor, revelação ao mundo inteiro da realeza de Jesus Cristo, reconhecida e dada a conhecer pelos Magos vindos do Oriente. Escutemos com atenção o texto de São Mateus:
“Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém... Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho”.
       Quando encontrámos Jesus na nossa vida, qual o caminho que percorremos? Como vai a nossa vida? E as nossas escolhas? Jesus é Luz para nós? Transforma-nos verdadeiramente? Voltamos ao mesmo de sempre, ou regressamos à vida por uma caminho novo, diferente, sendo transparência de Deus que nos habita?

       2 – Os magos de então seriam hoje astrónomos (e não tanto astrólogos), e neste propósito representam o mundo da ciência e da cultura, que se abre à fé e presta adoração a Deus que Se revela na fragilidade daquele Menino. A grandeza e o extraordinário muitas vezes (para não dizer quase sempre) vem do mais simples e humilde, do que passa quase despercebido. A ciência não anula e não contrapõe a fé. A ciência sem Deus é um emaranhado de reações químicas, vazias, sem consciência, sem a sabedoria que liga à vida. A fé, por sua vez, socorre-se da ciência, e da cultura, e da história, para racionalizar, tornar perceptível e ligado ao mundo o que lhe vai na alma. Sem a abertura à ciência e ao mundo, poderia não passar de uma alucinação...
       Os Magos vêm do Oriente, ou seja, vêm do mundo inteiro, representam a Humanidade toda. E nesta medida, a Visita dos Magos é Epifania do Senhor, é o reconhecimento de Cristo como Rei do Universo. Os magos estavam ao serviço do rei; os Magos deixam o serviço real e prostram-se diante do Rei por excelência.
       Olham para o Céu, e não apenas para si mesmos. Quando nos centramos apenas em nós, acabaremos sós, em ruína, tropeçando nos acontecimentos, se positivos em alegria estonteante, se negativos em frágil e angustiante desilusão e tristeza. Os magos estão atentos às estrelas, ao Céu estrelado, o seu olhar descobre o horizonte. A Estrela que está no Céu só é visível pela fé, pela humildade, por um olhar que escuta. É possível que quem se centre em si mesmo, não veja outra luz (ou outra escuridão) que não seja a sua.
       No Céu daquele tempo havia uma nova Estrela, mais brilhante que todas as outras. E nós? Olhamos para o Céu, para Deus? Quais são as estrelas que nos guiam? Onde está colocado o nosso olhar? Que luz nos faz caminhar, procurar, peregrinar, descobrir, partir? Que estrela nos faz sair de casa para encontrar Deus? Onde O procuramos? Em quem?
       Voltam por outro caminho. O encontro com Jesus é revelador e transformador. Não é um comprazimento pessoal e egoísta. Encontrar-se com Jesus é deixar-se tocar por Ele, pelo Seu olhar, pelas Suas palavras. A vida não será mais a mesma. Nada voltará a ser como dantes. Os caminhos serão outros, transformados pelo olhar e pela fé. É bem diferente olhar a vida a partir do nada, do vazio, do ocaso, ou olhar a vida a partir da Estrela, a partir do Céu, de Jesus Cristo, do amor que Deus nos tem. Quem caminha com um sentido de plenitude, iluminado, caminha mais seguro, mais confiante, mesmo que os caminhos continuem a ser tortuosos.
       A ciência levou os Magos a descobrir a grandeza do Universo numa criança inocente e desprotegida. Voltam por outro caminho. O que os movia ganha um novo sentido e sabor. Qual será o nosso caminho? Preenchido da Luz do Deus Menino? Até onde nos dispomos a levar a luz de Jesus?
       3 – O profeta Isaías, na primeira leitura, canaliza a esperança de todo o Israel para a LUZ de Deus que está a chegar. A estrela que guia os Magos até Jesus, também guiou os profetas, através dos tempos, levando-os a preparar a humanidade para reconhecer e acolher a Luz que viria irradiar todas as trevas.
       O profeta faz-nos entrar numa esperança quase palpável. Ainda não se experimenta a luz, mas é como se o coração já rebentasse de alegria pela chegada certa e inevitável da luz. É uma experiência que fazemos pela chegada das pessoas que nos são próximas. Mesmo antes de chegarem, a alegria ilumina os dias e/ou as horas que faltam. Queremos antecipar o tempo. Ocupámo-nos em preparativos, tal a intensidade das emoções e sentimentos que temos necessidade de nos abstrairmos; uma e outra vez fazemos o mesmo que tínhamos feito antes. Parece que o tempo não passa. A pressa é tanta que a cada segundo olhamos para o relógio a ver quanto falta, e ainda agora tínhamos olhado. Levantamo-nos, sentámo-nos. Bebemos. Comemos. Andamos para trás e para diante. Assim com os familiares que vêm de longe. Assim a mulher que está para ser mãe. Assim os meninos quando veem uma prenda que vão receber. E assim quando estamos à espera de alguma coisa, alguma resposta, que sabemos certa, mas que nos torna ansiosos até ao momento de se revelar.
“Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro”.
       4 – O que Isaías vê para o futuro, como esperança, que o faz rejubilar, envolvendo todo o Israel, e que o salmo evoca como oração – “Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar / e a vossa justiça ao filho do rei. / Ele governará o vosso povo com justiça / e os vossos pobres com equidade" – os Magos contemplam quando chegam à casa onde Maria, José e Jesus se encontram, prostrando-se diante de tão grande mistério. Não há palavras para descrever tamanha alegria que pode ser experimentada por todos os discípulos de Jesus.
       É precisamente esse testemunho que Paulo confessa à comunidade de Éfeso:
“Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho”.
       A Luz de Deus, desta feita, não é apenas para o povo da Aliança, mas estende-se, em Jesus Cristo, Nova Aliança, a toda a humanidade.


Textos para a Eucaristia (ano C): Is 60, 1-6 ; Sl 71 (72); Ef 3, 2-3a.5-6 ; Mt 2, 1-12.

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