No dia em que a Santa Sé anunciou o dia da canonização dos Papas/Beatos João Paulo II e João XXIII, aqui fica um pequeno vídeo, com João XXIII a explicar a missão do Papa, e como todos os dias fazia uma oração pelas crianças nascidas das últimas 24 horas, em todo o mundo, independentemente do país ou da religião:
A terceira Carta Encíclica de Bento XVI empresta o título a este blogue. A Caridade na Verdade. Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade, mas só esta entra na eternidade com Deus. Espaço pastoral de Tabuaço, Távora, Pinheiros e Carrazedo, de portas abertas para a Igreja e para o mundo...
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Editorial Voz Jovem - Ide e fazei discípulos
Enquanto aguardámos o lançamento do Ano Pastoral 2013/2014, e a publicação da CARTA PASTORAL de D. António Couto, nosso Bispo, propomos a reflexão que se segue, introduzindo a temática sobre a qual incidirá o próximo Plano Pastoral da Diocese de Lamego - Ide e fazei discípulos.
Decorre, de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013, solenidade do Cristo Rei e, na nossa Diocese, Dia da Igreja Diocesana, o ANO DA FÉ no qual procuramos acolher, traduzir, viver sob o lema pastoral: [Com MARIA] Vamos juntos construir a Casa da Fé e do Evangelho.
O lema aglutinador enquadra o ano da Fé e a inevitabilidade da Nova Evangelização, com uma linguagem mais acessível e vivência mais autêntica da Fé, redescobrindo a beleza do Evangelho, deixando-se preencher pela alegria da salvação, tornando-se testemunha, em palavras e gestos, do amor de Jesus Cristo.
O lema aponta para um movimento, que não tem fim, com a finalidade de edificar a Igreja como Casa onde todos cabem, para onde todos são chamados, onde a Fé e o Evangelho são alimento para a vida quotidiana. Uma CASA com ramificações em todas as casas, em todas as famílias, e em todas as dimensões da vida, como refere o nosso Bispo, D. António, na Carta Pastoral.
A Casa está em construção permanente. Jesus é a pedra angular. Sólidos alicerces: a graça de Deus, a Palavra, os Sacramentos, a vida em comunidade. Somos pedras vivas deste edifício. As portas estão escancaradas, para ACOLHER e para PARTIR ao encontro dos outros.
No início de pontificado, em 22 de outubro de 1978, o Papa João Paulo II lançava um desafio aos jovens e extensível a toda a Igreja: “Não, não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo!”
Bento XVI, no início do seu pontificado, a 24 de abril de 2005, renovava o apelo: “Quem deixa entrar Cristo não perde nada, nada do que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta. Queridos jovens: Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, concede tudo. Quem se dá a Ele, recebe cem por um. Sim, abri, escancarai as portas a Cristo – e encontrareis a verdadeira vida”.
Na Jornada Mundial da Juventude, na Alemanha, acentua a interpelação: “Atrevei-vos a colocar os vossos talentos e dons ao serviço do Reino de Deus... tende a ousadia de ser santos brilhantes, em cujos olhos e corações reluz o amor de Cristo, levando assim a luz ao mundo…”
«Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19-20).
Após a Ressurreição, Jesus aparece aos seus discípulos e envia-os. Envia-nos.
Ide e fazei discípulos.
Nunca deixamos de ser discípulos, alunos, aprendizes de Jesus Cristo. Simultaneamente, a missão de comunicar a alegria que recebemos. Ilustrativo o encontro de Maria com Isabel: “Logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio” (Lc 1, 44). Quem recebe a Boa Notícia, não pode fazer outra coisa senão passá-la ao próximo.
Ide e fazei discípulos.
É uma tarefa de sempre. Como os discípulos da primeira hora, temos de viver Jesus, deixando que Ele nos fale e aja através de nós, pelo Espírito Santo. Logo nos tornamos mensageiros do Seu amor, da Boa Notícia da salvação.
São Paulo deixou o mote: “se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar!” (1 Cor 9, 16).
O Papa Francisco, em vésperas da Sua eleição, já convocava a Igreja para sair a levar esta boa notícia a todos os recantos: “Evangelizar supõe na Igreja a "parresia" [coragem, entusiasmo] de sair de si mesma. A Igreja está chamada a sair de si mesma e ir para às periferias, não só as geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, as da dor, as da injustiça, as da ignorância e da indiferença religiosa, as do pensamento, as de toda a miséria… Quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar torna-se autorreferencial e então adoece… A Igreja, quando é autorreferencial, sem se aperceber, julga que tem luz própria, deixa de ser o mysterium lunae [mistério da lua]… [que o próximo Papa] …ajude a Igreja a sair de si para as periferias existenciais, que a ajude a ser a mãe fecunda que vive da “doce e reconfortante alegria de evangelizar”.
Estão a decorrer as Avalanches da Fé, uma proposta de D. António Couto, para percorrer todo o chão da Diocese de Lamego, levando Jesus Cristo, com o entusiasmo e a alegria dos jovens, a todas as pessoas e realidades envolventes. A perspetiva entra já neste novo ano pastoral: IDE E FAZEI DISCÍPULOS…
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A ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo
A Bíblia foi escrita pelo Povo de Deus e para o Povo de Deus, sob a inspiração do Espírito Santo. Somente com o «nós», isto é, nesta comunhão com o Povo de Deus, podemos realmente entrar no núcleo da verdade que o próprio Deus nos quer dizer. Aquele grande estudioso, para quem «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo», afirma que o carácter eclesial da interpretação bíblica não é uma exigência imposta do exterior; o Livro é precisamente a voz do Povo de Deus peregrino, e só na fé deste Povo é que estamos, por assim dizer, na tonalidade justa para compreender a Sagrada Escritura. Uma autêntica interpretação da Bíblia deve estar sempre em harmónica concordância com a fé da Igreja Católica. Jerónimo escrevia assim a um sacerdote: «Permanece fi rmemente apegado à doutrina tradicional que te foi ensinada, para que possas exortar segundo a sã doutrina e rebater aqueles que a contradizem».
São Gregório Magno: «As palavras divinas crescem juntamente com quem as lê».
Bento XVI, Verbum Domini, n.º 30.
domingo, 29 de setembro de 2013
Zé Perdigão - São Salvador do Mundo
Belíssimo fado de Zé Perdigão - São Salvador do Mundo. Talvez homenagem a São Salvador do Mundo de São João da Pesqaueira. De qualquer forma, belíssimo fado, com a história de fé, crença, piedade popular:
Uma Flor para a Madeira. Depois do flagelo das cheias, em 2010, na SIC. Uma das muitas e brilhantes prestações. Aqui com José Cid - Em Aranjuez com o teu amor:
Bento XVI - hora de Jesus, hora em que o amor vence
A hora de Jesus é a hora em que o amor vence. Por outras palavras: foi Deus que venceu, porque Ele é Amor. A hora de Jesus quer tornar-se a nossa hora e tornar-se-á a nossa hora se nós, mediante a celebração da Eucaristia, nos deixarmos envolver por aquele processo de transformações que o Senhor tem por finalidade. A Eucaristia deve tornar-se o centro da nossa vida. Não é positivismo ou ambição de poder, se a Igreja nos diz que a Eucaristia faz parte do domingo. Na manhã de Páscoa, primeiro as mulheres e depois os discípulos tiveram a graça de ver o Senhor. Daquele momento em diante eles souberam que agora o primeiro dia da semana, o domingo, teria sido o seu dia, o dia de Cristo. O dia do início da criação tornava-se o dia da renovação da criação. Criação e redenção caminham juntas. Por isso o domingo é tão importante.
É belo que hoje, em muitas culturas, o domingo seja um dia livre ou, juntamente com o sábado, constitua até o chamado "fim-de-semana" livre. Contudo, este tempo livre permanece vazio se nele não está Deus. Queridos amigos! Algumas vezes, num primeiro momento, pode parecer bastante incómodo ter que programar no domingo também a Missa. Mas se vos empenhardes, verificareis depois que é precisamente isto que dá o justo centro ao tempo livre. Não vos deixeis dissuadir de participar na Eucaristia dominical e de ajudar também os outros a descobri-la. Sem dúvida, para que dela emane a alegria da qual temos necessidade, devemos aprender a compreendê-la cada vez mais nas suas profundidades, devemos aprender a amá-la. Comprometámo-nos neste sentido vale a pena! Descubramos a profunda riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza: não somos nós que fazemos festa para nós, mas ao contrário é o próprio Deus vivo que nos prepara uma festa. Com o amor pela Eucaristia redescobrireis também o sacramento da Reconciliação, no qual a bondade misericordiosa de Deus permite sempre um novo início para a nossa vida.
Quem descobriu Cristo deve conduzir a Ele os outros. Uma grande alegria não se pode ter para si.
É belo que hoje, em muitas culturas, o domingo seja um dia livre ou, juntamente com o sábado, constitua até o chamado "fim-de-semana" livre. Contudo, este tempo livre permanece vazio se nele não está Deus. Queridos amigos! Algumas vezes, num primeiro momento, pode parecer bastante incómodo ter que programar no domingo também a Missa. Mas se vos empenhardes, verificareis depois que é precisamente isto que dá o justo centro ao tempo livre. Não vos deixeis dissuadir de participar na Eucaristia dominical e de ajudar também os outros a descobri-la. Sem dúvida, para que dela emane a alegria da qual temos necessidade, devemos aprender a compreendê-la cada vez mais nas suas profundidades, devemos aprender a amá-la. Comprometámo-nos neste sentido vale a pena! Descubramos a profunda riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza: não somos nós que fazemos festa para nós, mas ao contrário é o próprio Deus vivo que nos prepara uma festa. Com o amor pela Eucaristia redescobrireis também o sacramento da Reconciliação, no qual a bondade misericordiosa de Deus permite sempre um novo início para a nossa vida.
Quem descobriu Cristo deve conduzir a Ele os outros. Uma grande alegria não se pode ter para si.
FONTE. Homilia na Jornada Mundial da Juventude, na Alemanha em 2005: AQUI.
sábado, 28 de setembro de 2013
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Festa e Romaria de Santa Eufémia 2013
O dia 16 de setembro é o mais marcante para a comunidade paroquial de Pinheiros, Festa da Padroeira, Santa Eufémia. É uma data para os paroquianos e devotos de Santa Eufémia. Todos os que se encontram fora, Porto, Lisboa, Andorra, Angola, Macau, Suiça, França ou em outras paragens, fazem todo o esforço por estar presentes nesta ocasião. Só compromissos de maior impedem a participação na festa e romaria. A maior do Concelho de Tabuaço.
Considerada a última festa (popular) de Tabuaço, aqui acorre uma multidão de pessoas, para coroar o tempo de festas, para honrar Santa Eufémia, para cumprir promessas, para rezar, suplicar, colocar novos pedidos diante de Santa Eufémia, para agradecer os benefícios por intercessão de Santa Eufémia.
A partir do dia 7 de setembro, a NOVENA de preparação, com momentos diversos, recitação do Terço em honra de Nossa Senhora, celebração da Santa Missa, em honra de Santa Eufémia, e pelos que entretanto já partiram, no domingo, e este ano foram dois, a exposição e bênção do Santíssimo Sacramento, já que a Eucaristia se mantém no horário habitual, no final da manhã.
No dia 14, sábado, e pela primeira vez, Procissão das Velas, em honra de Nossa Senhora do Rosário, Padroeira primitiva da paróquia.
Mas o dia maior é mesmo o dia 16. Logo pela manhã, 8h00, a celebração da Missa matutina, para cozinheiros/as e outros que estarão ocupados durante a solene Eucaristia. Logo depois tempo dedicado ao Sacramento da Reconciliação. E são sempre tantas as pessoas que se confessam neste dia. Para algumas faz parte da promessa de se confessarem e participarem na Santa Missa.
O facto deste ano ser numa segunda-feira, afastou alguns da festa e romaria, por se encontrarem na apanha da Maça, gentes de Armamar, por exemplo, ou já nas vindimas. Mas os romeiros são mais que muitos e o largo de Santa Eufémia preenche-se de pessoas vindas das paróquias vizinhas, dos concelhos de Tabuaço, em maioria, de Armamar e de Moimenta da Beira. A hora da Missa é a mais sagrada. E a pessoas cumprem com grande generosidade e em grande silêncio. Nem o calor as afasta.
Este ano o pregador foi o Pe. Manuel João, sacerdote há dois anos, e natural de Penedono, precisamente onde existe um Santuário dedicado a Santa Eufémia. Esta ligação, só por si, já diz muito da devoção a Santa Eufémia por esta região. Contamos também com a presença amiga e prestável do Pe. Jorge Giroto, pregador em 2011.
Depois da Missa, da Pregação, evocando a firmeza e fidelidade de Santa Eufémia e o desafio a vivermos testemunhando Jesus Cristo, a magestosa procissão com as 9 imagens dos Santos à veneração em Pinheiros: São Sebastião, Padroeiro da Diocese de Lamego, Santo António, Menino Jesus, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora do Rosário, Sagrado Coração de Jesus, São José, Santa Bárbara e Santa Eufémia. Este ano, outra novidade, os andores foram enfeitados com flores e já não com os tradicionais panos coloridos. A beleza honra-nos e sobretudo como homenagem aos santos evocados através das Imagens.
No dia 17 de setembro a festa continua, mais reservada, mais familiar, maioritariamente para os pinheirenses. Se na véspera estiveram, muitos deles, concentrados em acolher/atender aos romeiros, neste segundo dia de festa, em Honra de Santa Bárbara, podem participar de forma mais descontraída. Inicia-se a Procissão, da Igreja para a Capela de Santa Bárbara, onde é celebrada a Eucaristia, com a pregação, seguindo a Procissão até à Igreja Paroquial.
O mais também é muito importante, comes e bebes, o convívio, a música e a dança, os minutos em família, esteeitanto laços, amizades, vivendo a vida.
Para o ano há mais, se Deus quiser. Em todo o caso, todo o ano há romeiros devotos de Santa Eufémia, que se deslocam a Pinheiros para cumprir promessas, agradecer a sua intercessão, ou fazer pedidos.
Para visualizar outras fotos visite o perfil da Paróquia de Pinheiros no facebook.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Bento XVI - Caro Odifreddi, vou-lhe contar quem foi Jesus
O papa emérito Bento XVI escreve uma carta ao matemático ateu italiano Piergiorgio Odifreddi sobre a fé, a ciência, o mal. Um diálogo à distância sobre o livro Caro papa, ti scrivo, de autoria de Odifreddi. O cientista, por sua vez, relatou emoção e surpresa ao receber em sua casa a "inesperada carta" do ex-pontífice.
Ilustríssimo Senhor Professor Odifreddi, (...) gostaria de lhe agradecer por ter tentado até o último detalhe se confrontar com o meu livro e, assim, com a minha fé; é exatamente isso, em grande parte, que eu havia intencionado com o meu discurso à Cúria Romana por ocasião do Natal de 2009. Devo agradecer também pelo modo leal como tratou o meu texto, buscando sinceramente prestar-lhe justiça.
O meu julgamento acerca do seu livro, no seu conjunto, porém, é em si mesmo bastante contrastante. Eu li algumas partes dele com prazer e proveito. Em outras partes, ao invés, me admirei com uma certa agressividade e com a imprudência da argumentação. (...)
O meu julgamento acerca do seu livro, no seu conjunto, porém, é em si mesmo bastante contrastante. Eu li algumas partes dele com prazer e proveito. Em outras partes, ao invés, me admirei com uma certa agressividade e com a imprudência da argumentação. (...)
Várias vezes, o senhor me aponta que a teologia seria ficção científica. A esse respeito, eu me admiro que o senhor, no entanto, considere o meu livro digno de uma discussão tão detalhada. Permita-me propor quatro pontos a respeito de tal questão:
1. É correto afirmar que "ciência", no sentido mais estrito da palavra, só a matemática o é, enquanto eu aprendi com o senhor que, mesmo aqui, seria preciso distinguir ainda entre a aritmética e a geometria. Em todas as matérias específicas, a cientificidade, a cada vez, tem a sua própria forma, segundo a particularidade do seu objeto. O essencial é que ela aplique um método verificável, exclua a arbitrariedade e garanta a racionalidade nas respectivas modalidades diferentes.
2. O senhor deveria ao menos reconhecer que, no âmbito histórico e no do pensamento filosófico, a teologia produziu resultados duradouros.
3. Uma função importante da teologia é a de manter a religião ligada à razão, e a razão, à religião. Ambas as funções são de essencial importância para a humanidade. No meu diálogo com Habermas, mostrei que existem patologias da religião e – não menos perigosas – patologias da razão. Ambas precisam uma da outra, e mantê-las continuamente conectadas é uma importante tarefa da teologia.
4. A ficção científica existe, por outro lado, no âmbito de muitas ciências. Eu designaria o que o senhor expõe sobre as teorias acerca do início e do fim do mundo em Heisenberg, Schrödinger, etc., como ficção científica no bom sentido: são visões e antecipações para chegar a um verdadeiro conhecimento, mas são, justamente, apenas imaginações com as quais tentamos nos aproximar da realidade. Além disso, existe a ficção científica em grande estilo, exatamente dentro da teoria da evolução também. O gene egoísta de Richard Dawkins é um exemplo clássico de ficção científica. O grande Jacques Monod escreveu frases que ele mesmo deve ter inserido na sua obra seguramente apenas como ficção científica. Cito: "O surgimento dos vertebrados tetrápodes (...) justamente tem sua origem do fato de que um peixe primitivo 'escolheu' ir a explorar a terra, sobre a qual, porém, ele era incapaz de se deslocar, exceto saltitando desajeitadamente e criando, assim, como consequência de uma modificação do comportamento, a pressão seletiva graças à qual se desenvolveriam os membros robustos dos tetrápodes. Entre os descendentes desse audaz explorador, desse Magellan da evolução, alguns podem correr a uma velocidade de 70 quilômetros por hora..." (citado segundo a edição italiana de Il caso e la necessità, Milão, 2001, p. 117ss.).
Em todas as temáticas discutidas até agora, trata-se de um diálogo sério, para o qual eu – como já disse repetidamente – sou grato. As coisas são diferentes no capítulo sobre o sacerdote e a moral católica, e ainda diferentes nos capítulos sobre Jesus. Quanto ao que o senhor diz sobre o abuso moral de menores por parte de sacerdotes, eu só posso reconhecer – como o senhor sabe – com profunda consternação. Eu nunca tentei mascarar essas coisas. O fato de que o poder do mal penetra a tal ponto no mundo interior da fé é para nós um sofrimento que, por um lado, devemos suportar, enquanto, por outro, devemos, ao mesmo tempo, fazer todo o possível para que casos desse tipo não se repitam. Também não é motivo de conforto saber que, segundo as pesquisas dos sociólogos, a porcentagem dos sacerdotes réus desses crimes não é mais alta do que a presente em outras categorias profissionais semelhantes. Em todo caso, não se deveria apresentar ostensivamente esse desvio como se se tratasse de uma imundície específica do catolicismo.
1. É correto afirmar que "ciência", no sentido mais estrito da palavra, só a matemática o é, enquanto eu aprendi com o senhor que, mesmo aqui, seria preciso distinguir ainda entre a aritmética e a geometria. Em todas as matérias específicas, a cientificidade, a cada vez, tem a sua própria forma, segundo a particularidade do seu objeto. O essencial é que ela aplique um método verificável, exclua a arbitrariedade e garanta a racionalidade nas respectivas modalidades diferentes.
2. O senhor deveria ao menos reconhecer que, no âmbito histórico e no do pensamento filosófico, a teologia produziu resultados duradouros.
3. Uma função importante da teologia é a de manter a religião ligada à razão, e a razão, à religião. Ambas as funções são de essencial importância para a humanidade. No meu diálogo com Habermas, mostrei que existem patologias da religião e – não menos perigosas – patologias da razão. Ambas precisam uma da outra, e mantê-las continuamente conectadas é uma importante tarefa da teologia.
4. A ficção científica existe, por outro lado, no âmbito de muitas ciências. Eu designaria o que o senhor expõe sobre as teorias acerca do início e do fim do mundo em Heisenberg, Schrödinger, etc., como ficção científica no bom sentido: são visões e antecipações para chegar a um verdadeiro conhecimento, mas são, justamente, apenas imaginações com as quais tentamos nos aproximar da realidade. Além disso, existe a ficção científica em grande estilo, exatamente dentro da teoria da evolução também. O gene egoísta de Richard Dawkins é um exemplo clássico de ficção científica. O grande Jacques Monod escreveu frases que ele mesmo deve ter inserido na sua obra seguramente apenas como ficção científica. Cito: "O surgimento dos vertebrados tetrápodes (...) justamente tem sua origem do fato de que um peixe primitivo 'escolheu' ir a explorar a terra, sobre a qual, porém, ele era incapaz de se deslocar, exceto saltitando desajeitadamente e criando, assim, como consequência de uma modificação do comportamento, a pressão seletiva graças à qual se desenvolveriam os membros robustos dos tetrápodes. Entre os descendentes desse audaz explorador, desse Magellan da evolução, alguns podem correr a uma velocidade de 70 quilômetros por hora..." (citado segundo a edição italiana de Il caso e la necessità, Milão, 2001, p. 117ss.).
Em todas as temáticas discutidas até agora, trata-se de um diálogo sério, para o qual eu – como já disse repetidamente – sou grato. As coisas são diferentes no capítulo sobre o sacerdote e a moral católica, e ainda diferentes nos capítulos sobre Jesus. Quanto ao que o senhor diz sobre o abuso moral de menores por parte de sacerdotes, eu só posso reconhecer – como o senhor sabe – com profunda consternação. Eu nunca tentei mascarar essas coisas. O fato de que o poder do mal penetra a tal ponto no mundo interior da fé é para nós um sofrimento que, por um lado, devemos suportar, enquanto, por outro, devemos, ao mesmo tempo, fazer todo o possível para que casos desse tipo não se repitam. Também não é motivo de conforto saber que, segundo as pesquisas dos sociólogos, a porcentagem dos sacerdotes réus desses crimes não é mais alta do que a presente em outras categorias profissionais semelhantes. Em todo caso, não se deveria apresentar ostensivamente esse desvio como se se tratasse de uma imundície específica do catolicismo.
Se não é lícito calar sobre o mal na Igreja, também não se deve silenciar, porém, sobre o grande rastro luminoso de bondade e de pureza, que a fé cristã traçou ao longo dos séculos. É preciso lembrar as figuras grandes e puras que a fé produziu – de Bento de Núrsia e a sua irmã Escolástica, Francisco e Clara de Assis, Teresa de Ávila e João da Cruz, aos grandes santos da caridade como Vicente de Paulo e Camilo de Lellis, até a Madre Teresa de Calcutá e as grandes e nobres figuras da Turim do século XIX. Também é verdade hoje que a fé leva muitas pessoas ao amor desinteressado, ao serviço pelos outros, à sinceridade e à justiça. (...)
O que o senhor diz sobre a figura de Jesus não é digno do seu nível científico. Se o senhor põe a questão como se, no fundo, não soubesse nada de Jesus e como se d'Ele, como figura histórica, nada fosse verificável, então eu só posso lhe convidar de modo decidido a tornar-se um pouco mais competente do ponto de vista histórico. Recomendo-lhe, para isso, sobretudo os quatro volumes que Martin Hengel (exegeta da Faculdade de Teologia Protestante de Tübingen) publicou juntamente com Maria Schwemer: é um exemplo excelente de precisão histórica e de amplíssima informação histórica. Diante disso, o que o senhor diz sobre Jesus é um falar imprudente que não deveria repetir. O fato de que na exegese também foram escritas muitas coisas de escassa seriedade é, infelizmente, um fato indiscutível. O seminário norte-americano sobre Jesus que o senhor cita nas páginas 105ss. só confirma mais uma vez o que Albert Schweitzer havia notado a respeito da Leben-Jesu-Forschung (Pesquisa sobre a vida de Jesus), isto é, que o chamado "Jesus histórico" é, em grande parte, o espelho das ideias dos autores. Tais formas mal sucedidas de trabalho histórico, porém, não comprometem, de fato, a importância da pesquisa histórica séria, que nos levou a conhecimentos verdadeiros e seguros sobre o anúncio e a figura de Jesus.
(...) Além disso, devo rejeitar com força a sua afirmação (p. 126) segundo a qual eu teria apresentado a exegese histórico-crítica como um instrumento do anticristo. Tratando o relato das tentações de Jesus, apenas retomei a tese de Soloviev, segundo a qual a exegese histórico-crítica também pode ser usada pelo anticristo – o que é um fato incontestável. Ao mesmo tempo, porém, sempre – e em particular no prefácio ao primeiro volume do meu livro sobre Jesus de Nazaré – eu esclareci de modo evidente que a exegese histórico-crítica é necessária para uma fé que não propõe mitos com imagens históricas, mas reivindica uma historicidade verdadeira e, por isso, deve apresentar a realidade histórica das suas afirmações de modo científico também. Por isso, também não é correto que o senhor diga que eu estaria interessado somente na meta-história: muito pelo contrário, todos os meus esforços têm o objetivo de mostrar que o Jesus descrito nos Evangelhos também é o Jesus histórico real; que se trata de história realmente ocorrida. (...)
Com o 19º capítulo do seu livro, voltamos aos aspectos positivos do seu diálogo com o meu pensamento. (...) Mesmo que a sua interpretação de João 1, 1 seja muito distante da que o evangelista pretendia dizer, existe, no entanto, uma convergência que é importante. Se o senhor, porém, quer substituir Deus por "A Natureza", resta a questão: quem ou o que é essa natureza. Em nenhum lugar, o senhor a define e, assim, ela parece ser uma divindade irracional que não explica nada. Mas eu gostaria, acima de tudo, de fazer notar ainda que, na sua religião da matemática, três temas fundamentais da existência humana continuam não considerados: a liberdade, o amor e o mal. Admiro-me que o senhor, com uma única referência, liquide a liberdade que, contudo, foi e é o valor fundamental da época moderna. O amor, no seu livro, não aparece, e também não há nenhuma informação sobre o mal. Independentemente do que a neurobiologia diga ou não diga sobre a liberdade, no drama real da nossa história ela está presente como realidade determinante e deve ser levada em consideração. Mas a sua religião matemática não conhece nenhuma informação sobre o mal. Uma religião que ignore essas questões fundamentais permanece vazia.
Ilustríssimo Senhor Professor, a minha crítica ao seu livro, em parte, é dura. Mas a franqueza faz parte do diálogo; só assim o conhecimento pode crescer. O senhor foi muito franco e, assim, aceitará que eu também o seja. Em todo caso, porém, avalio muito positivamente o fato de que o senhor, através do seu contínuo confronto com a minha Introdução ao Cristianismo, tenha buscado um diálogo tão aberto com a fé da Igreja Católica e que, apesar de todos os contrastes, no âmbito central, não faltem totalmente as convergências.
Com cordiais saudações e com todos os melhores votos para o seu trabalho.
FONTE: AQUI.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Papa Francisco - na Universidade das Mães
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, volto a falar sobre a imagem da Igreja como mãe. Gosto muito desta imagem da Igreja como mãe. Por este motivo quis voltar a falar sobre ela, porque me parece que esta imagem nos diz não só como é a Igreja, mas também que rosto esta nossa Mãe-Igreja deveria ter cada vez mais.Gostaria de frisar três situações, considerando sempre as nossas mães, tudo o que elas fazem, vivem e sofrem pelos próprios filhos, continuando aquilo que eu disse na quarta-feira passada. Interrogo-me: o que faz uma mãe?
Antes de tudo, ensina a caminhar na vida, ensina a comportar-se bem na vida, sabe como orientar os filhos, procura sempre indicar o caminho recto na vida para crescer e para se tornar adultos. E fá-lo sempre com ternura, carinho e amor, até quando procura endireitar o nosso caminho, porque nos desviamos um pouco na vida ou seguimos veredas que levam para um precipício. A mãe sabe o que é importante, para que o filho caminhe bem na vida, e não o aprendeu dos livros, mas do próprio coração. A Universidade das mães é o seu coração! Ali elas aprendem a orientar os seus filhos.
A Igreja age do mesmo modo: orienta a nossa vida, oferece-nos ensinamentos para caminhar bem. Pensemos nos dez Mandamentos: indicam-nos uma senda a percorrer para amadurecer, para dispor de pontos firmes no modo de nos comportarmos. E são fruto da ternura, do amor do próprio Deus que no-los concedeu. Vós podereis dizer-me: mas são ordens! São um conjunto de «nãos»! Gostaria de vos convidar a lê-los — talvez os tenhais esquecido um pouco — e depois a considerá-los positivamente. Vereis que dizem respeito ao modo de nos comportarmos em relação a Deus, a nós mesmos e ao próximo, precisamente como nos ensina a nossa mãe, para vivermos bem. Convidam-nos a não construir ídolos materiais que depois nos tornam escravos, a recordar-nos de Deus, a ter respeito pelos pais, a ser honestos, a respeitar os outros... Procurai vê-los assim, a considerá-los como se fossem as palavras, os ensinamentos sugeridos pela mãe para caminhar bem na vida. A mãe nunca ensina o que é mal, mas só quer o bem dos filhos, e é assim que a Igreja age.
Gostaria de vos dizer algo mais: quando um filho cresce, torna-se adulto, toma o seu caminho, assume as suas responsabilidades, caminha com as próprias pernas, faz o que quer e, às vezes, pode até sair do caminho, acontece algum incidente. Em todas as situações, a mãe tem sempre a paciência de continuar a acompanhar os filhos. O que a impele é a força do amor; a mãe sabe acompanhar com discrição e ternura o caminho dos filhos e até quando erram procura sempre o modo de os compreender, para estar próxima, para ajudar. Nós — na minha terra — dizemos que a mãe sabe «dar la cara». Que significa? Quer dizer que a mãe sabe «dar a cara» pelos próprios filhos, ou seja, é levada a defendê-los sempre. Penso nas mães que sofrem pelos filhos na prisão, ou em situações difíceis: não se perguntam se são culpados ou não, continuam a amá-los e muitas vezes sofrem humilhações, mas não têm medo, não deixam de se doar.
A Igreja é assim, é uma mãe misericordiosa que entende, que procura sempre ajudar, encorajar, até quando os seus filhos erram, e nunca fecha as portas da Casa; não julga, mas oferece o perdão de Deus, oferece o seu amor que convida a retomar o caminho até aos filhos que caíram num precipício profundo, a Igreja não tem medo de entrar na sua noite para dar esperança; a Igreja não tem medo de entrar na nossa noite, quando estamos na escuridão da alma e da consciência, para nos infundir a esperança, pois a Igreja é mãe!
Um último pensamento. A mãe sabe também pedir, bater a todas as portas pelos próprios filhos, sem calcular; fá-lo com amor. E penso no modo como as mães sabem bater, também e sobretudo, à porta do Coração de Deus! As mães rezam muito pelos seus filhos, especialmente pelos mais frágeis, por quantos enfrentam maiores necessidades, por aqueles que na vida empreenderam caminhos perigosos ou errados. Há poucas semanas celebrei na igreja de Santo Agostinho, aqui em Roma, onde estão conservadas as relíquias da sua mãe, santa Mónica. Quantas orações elevou a Deus aquela santa mãe pelo filho, e quantas lágrimas derramou! Penso em vós, amadas mães: quanto rezais pelos vossos filhos, sem vos cansardes! Continuai a rezar, a confiar os vossos filhos a Deus; Ele tem um coração grande! Batei à porta do Coração de Deus com a prece pelos filhos!
E assim age também a Igreja: põe nas mãos do Senhor, com a oração, todas as situações dos seus filhos. Confiemos na força da oração da Mãe-Igreja: o Senhor não permanece insensível. Ele sabe surpreender-nos sempre, quando menos esperamos. A Mãe-Igreja sabe fazê-lo!
Eis, estes eram os pensamentos que que vos queria transmitir hoje: vejamos na Igreja uma boa mãe que nos indica o caminho a percorrer na vida, que sabe ser sempre paciente, misericordiosa, compreensiva, e que sabe pôr-nos nas mãos de Deus.
in Audiência Geral, Praça de São Pedro, Quarta-feira, 18 de Setembro de 2013: AQUI.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Bento XVI responde a matemático italiano
Papa emérito destaca importância do diálogo entre fé e razão apesar das divergências
O Papa emérito Bento XVI escreveu ao matemático e escritor italiano Piergiorgio Odifreddi, que em 2001 publicou a obra ‘Caro Papa, escrevo-te’, para responder a algumas das suas críticas e questões sobre Jesus e a Igreja.
A missiva, parcialmente divulgada hoje pelo jornal italiano ‘La Reppublica’, assume uma crítica “dura”, mas franca, às posições de Odifreddi sobre a historicidade de Jesus e a relação entre a Teologia e o mundo científico.
“Aquilo que diz sobre a figura de Jesus não é digno do seu nível científico”, escreve Bento XVI, após o matemático italiano ter afirmado que sobre Cristo não se saberia nada, do ponto de vista histórico, recomendando ao seu interlocutor a leitura da obra de Martin Hengel (publicada em conjunto com Maria Schwemer), exegeta protestante.
Joseph Ratzinger, autor de uma trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré, nega ter desvalorizado a exegese histórico-crítica dos evangelhos e diz nesta carta que a mesma é “necessária para uma fé que não propõe mitos com imagens históricas, mas reclama uma verdadeira historicidade”.
“Por isso, também não é correto que afirme que eu me teria apenas interessado apenas pela meta-história: pelo contrário, todos os meus esforços têm o objetivo de mostrar que o Jesus descrito nos evangelhos é também o real Jesus histórico”, acrescenta o Papa emérito.
Bento XVI responde também às observações de Piergiorgio Odifreddi a respeito dos casos de abusos sexuais de menores por parte de sacerdotes, começando por mostrar “profunda consternação”.
“Eu procurei desmascarar estas coisas: que o poder do mal penetre até este ponto no mundo interior da fé é um sofrimento para nós”, sublinha, antes de frisar que a Igreja vai fazer “todos os possíveis para que tais casos não se repitam”.
Segundo o Papa emérito, que liderou a Igreja entre abril de 2005 e fevereiro deste ano, não é “lícito” calar os problemas das comunidades católicas, mas isso não deve fazer esquecer “o grande rasto luminoso de bondade e pureza que a fé cristã deixou ao longo dos séculos”.
“Ainda hoje, a fé leva muitas pessoas ao amor desinteressado, ao serviço aos outros, à sinceridade e à justiça”, refere.
A resposta de Bento XVI chegou à casa do matemático italiano no último dia 3: 11 páginas com data de 30 de agosto.
A carta agradece pelo confronto “leal” de ideias e manifesta o “proveito” tirado de algumas das passagens do livro de Odifreddi, sem deixar de observar “uma certa agressividade e descuido na argumentação” do autor.
Joseph Ratzinger deixa críticas, em particular, ao que chama de “religião matemática” que deixaria de fora questões “fundamentais” da existência humana, como “a liberdade, o amor e o mal”.
“A sua religião matemática não tem qualquer informação sobre o mal. Uma religião que descura estas questões fundamentais fica vazia”, responde a Piergiorgio Odifreddi.
Neste contexto, Bento XVI destaca a necessidade de “manter a religião ligada à razão e a razão à religião”, pedindo que se reconheça que a Teologia produziu resultados “no âmbito histórico e no do pensamento filosófico”.
A missiva refuta a acusação de que a Teologia seria apenas “ficção científica” e aponta o dedo às teorias sobre a origem do homem e do universo que apresentam “imaginações” com as quais se procura “aproximar-se da realidade”.
NOTÍCIA: Agência Ecclesia.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
A Arte da Alegria
Alguém falou no pecado da tristeza. Realmente, há pessoas tristes, desanimadas, desiludidas. Há no mundo de hoje uma espécie de doença, a de não se procurar a verdadeira alegria, ou procurá-la onde não está. O rosto é o espelho da alma, e a alegria, a grande mensageira do coração em paz.
Não achas que o mundo está com os lábios cerrados de mais? Que há poucas pessoas que podem ser consideradas cartaz do bom humor, modelos de alegria? Falta aos homens dos nossos dias o dom da verdadeira alegria, faltam lábios a transbordar sorrisos e rostos a vender felicidade.
A alegria está em vencer o egoísmo e a ganância. Está em sofrer com espírito de luta, mas com aceitação. A verdadeira alegria está na fraternidade.
Há mais alegria em dar que em receber. A alegria está nas boas amizades e no dever levado a sério. Está na vida condividida, no diálogo com Deus, no lar onde existe a verdadeira fé e o verdadeiro amor.
Já não se faz nada com emoção, com alegria e cordialidade. Vamos reagir. Sem alegria morre-se antecipadamente.
Que tipo de felicidade já experimentaste? Hoje tornaste alguém feliz?
BÁGGIO, António - Tudo transformar em cada amanhecer. Lisboa: Edições Paulistas, 1993
Pe. Tolentino Mendonça: Que fizemos nós da Alegria?
Mas o que é a alegria? A alegria é expansão pessoalíssima e profunda. Não há duas alegrias iguais, como não há duas lágrimas ou dois prantos iguais. A alegria é uma gramática singular. Por um lado, tem uma expressão física, mas, por outro, conserva uma natureza evidentemente espiritual. Não se reduz a uma forma de bem-estar ou a um conforto emocional, embora se possa traduzir também dessas maneiras. A alegria é uma revelação da vida profunda. É abrir uma porta, um caminho, um corredor para a passagem do Espírito.
No espaço teológico e eclesial, infelizmente, a alegria tornou-se um motivo tratado com alguma parcimónia. Falamos pouco do Evangelho da Alegria e, entre tudo aquilo que assumimos como dever, como tarefa, raramente ele está. O dever da alegria, estarmos quotidianamente hipotecados à alegria, enviados em nome da alegria, não nos é tantas vezes recordado quanto devia. As nossas liturgias, pregações, catequeses e pastorais abordam a alegria quase com pudor.
Isto para dizer que a alegria tornou-se um tópico mais ou menos marginal, uma espécie de subtema e, por vezes, até uma espécie de interdito. Nietzsche dizia que o cristianismo seria mais credível se os cristãos parecessem alegres. Que fizemos nós do Evangelho da Alegria?
Definimo-nos culturalmente como homo faber, homem artesão, fabricante, aquele que se realiza na própria ação. E distanciamos da nossa própria vida o horizonte do homo festivus, isto é, o que é capaz de celebrar, aquele que conduz a criação à sua plenitude.
A alegria nasce do acolhimento. Nasce quando aceitamos construir a vida numa cultura de hospitalidade. Há um filme de Ingmar Bergman em que uma personagem é uma rapariga anoréxica - e sabemos como a anorexia é uma forma de desistir da própria vida, de desinvestir afetivamente. A rapariga vai falar com um médico e ele diz-lhe isto, que também vale para todos nós: “Olha há só um remédio para ti, só vejo um caminho: em cada dia deixa-te tocar por alguém ou por alguma coisa”. A alegria é esta hospitalidade.
Pe. Tolentino Mendonça, Editorial da Agência Ecclesia.
domingo, 22 de setembro de 2013
sábado, 21 de setembro de 2013
Não importa o ponto de partida
(reposição desta reflexão na Festa de São Mateus:)
Importa
(sobretudo e acima de tudo) a nossa predisposição para escutar a voz de
Deus, o caminho que nos dispomos a percorrer, a disponibilidade para
nos deixarmos converter pela graça de Deus e de caminharmos juntamente
com o Mestre dos Mestres, Jesus Cristo.
São Mateus, cuja festa celebramos hoje, diz-nos isso mesmo. É um
cobrador de impostos. Está ao serviço do Império Romano, que oprime e
subjuga Israel. É (considerado) inimigo dos judeus. Publicano (=cobrador
de impostos) é o mesmo que pecador público. É ostracizado na
convivência social, política e religiosa. E. no entanto, Jesus chama-o
no seu local de trabalho, na sua condição actual, sem preconceitos...
Mateus torna-se discípulo e apóstolo de Jesus. Convida-O para sua casa.
A refeição é uma forma de comunhão. Só se senta à minha mesa quem me
quer bem. Só me sento à mesa com quem me dou. E Jesus lá está, no meio
de pecadores e publicanos, em casa de Mateus, sujeito a olhares, a
juízos de valor. O preconceito de alguns leva-os a murmurar. Jesus vive
eliminando todo e qualquer preconceito. Todos somos igualmente filhos de
Deus.
Podemos
ser os maiores pecadores. Ainda assim, Deus chama-nos, espera por nós,
quer a nossa conversão, a nossa felicidade, a nossa salvação.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Papa Francisco - a Igreja é Mãe
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Retomemos hoje as catequeses sobre a Igreja, neste «Ano da fé». Entre as imagens que o Concílio Vaticano II escolheu para nos levar a compreender melhor a natureza da Igreja, existe a da «mãe»: a Igreja é a nossa mãe na fé, na vida sobrenatural (cf. Const. dogm. Lumen gentium, 6.14.15.41.42). Trata-se de uma das imagens mais usadas pelos Padres da Igreja nos primeiros séculos e na minha opinião ela pode ser útil também para nós. Para mim, é uma das imagens mais bonitas da Igreja: a Igreja-mãe! Em que sentido e de que modo a Igreja é mãe? Comecemos a partir da realidade humana da maternidade: o que faz uma mãe?
Antes de tudo, a mãe gera para a vida, leva no seu ventre por nove meses o seu filho e depois abre-o à vida, gerando-o. Assim é a Igreja: gera-nos na fé, por obra do Espírito Santo que a torna fecunda, como a Virgem Maria. Tanto a Igreja como a Virgem Maria são mães; o que se diz da Igreja pode ser dito também de Nossa Senhora; e o que se diz de Nossa Senhora pode ser dito inclusive da Igreja! Sem dúvida, a fé é um acto pessoal: «eu creio», eu, pessoalmente, respondo a Deus que se faz conhecer e quer entrar em amizade comigo (cf. Enc. Lumen fidei, 39). Mas eu recebo a fé de outros, numa família, numa comunidade que me ensina a dizer «eu creio», «nós cremos». O cristão não é uma ilha! Não nos tornamos cristãos em laboratórios, não nos tornamos cristãos sozinhos e só com as nossas forças, mas a fé é uma dádiva, um dom de Deus que nos é concedido na Igreja e através da Igreja. E a Igreja doa-nos a vida de fé no Baptismo: este é o momento no qual nos faz nascer como filhos de Deus, o instante em que nos concede a vida de Deus, que como mãe nos gera. Se fordes ao Baptistério de São João de Latrão, a Catedral do Papa, encontrareis uma inscrição latina que reza mais ou menos assim: «Aqui nasce um povo de estirpe divina, gerado pelo Espírito Santo que fecunda estas águas; a Igreja-Mãe dá à luz os seus filhos nestas ondas». Isto leva-nos a entender algo importante: o nosso fazer parte da Igreja não é um dado exterior e formal, não consiste em preencher um papel que nos dão, mas é um gesto interior e vital; não se pertence à Igreja como se pertence a uma sociedade, a um partido ou a uma organização qualquer. O vínculo é vital, como aquele que temos com a nossa mãe porque, como afirma santo Agostinho, «a Igreja é realmente mãe dos cristãos» (De moribus Ecclesiae, I, 30, 62-63: PL 32, 1336). Interroguemo-nos: como considero a Igreja? Se estou grato também aos meus pais, porque me concederam a vida, estou grato à Igreja, porque me gerou na fé mediante o Baptismo? Quantos cristãos recordam a data do próprio Baptismo? Gostaria de vos dirigir uma pergunta aqui, mas cada qual responda no seu coração: quantos de vós recordam a data do seu Baptismo? Alguns levantam as mãos, mas quantos não recordam! Todavia, o dia do Baptismo é a data do nosso nascimento na Igreja, a data em que a nossa Igreja-mãe nos deu à luz! E agora dou-vos um dever para fazer em casa. Hoje, quando voltardes para casa, ide procurar bem qual é a data do vosso Baptismo, e isto para a festejar, para dar graças ao Senhor por este dom. Fá-lo-eis? Amamos a Igreja como amamos a nossa mãe, sabendo entender também os seus defeitos? Todas as mães têm defeitos, todos nós temos defeitos, mas quando se fala dos defeitos da mãe, nós cobrimo-los, amamo-la assim. E inclusive a Igreja tem os seus defeitos: amamo-la como amamos a nossa mãe, ajudamo-la a ser mais formosa e mais autêntica, mais em conformidade com o Senhor? Deixo-vos estas perguntas, mas não vos esqueçais do dever: procurar a data do vosso Baptismo para a manter no coração e festejar.
Uma mãe não se limita a dar a vida, mas com grande atenção ajuda os seus filhos a crescer, dá-lhes o leite, alimenta-os, ensina-lhes o caminho da vida, acompanha-os sempre com as suas atenções, com o seu carinho e com o seu amor, até quando são adultos. E nisto sabe também corrigir, perdoar e compreender, sabe estar próxima na enfermidade e no sofrimento. Em síntese, uma mãe boa ajuda os filhos a sair de si mesmos, a não permanecer comodamente debaixo das asas maternas, como uma ninhada debaixo das asas da galinha. Como uma mãe boa, a Igreja faz a mesma coisa: acompanha o nosso crescimento, transmitindo a Palavra de Deus, o qual é uma luz que nos indica o caminho da vida cristã; administrando os Sacramentos. Alimenta-nos com a Eucaristia, concede-nos o perdão de Deus através do Sacramento da Penitência e apoia-nos na hora da doença com a Unção dos enfermos. A Igreja acompanha-nos durante toda a nossa vida de fé, em toda a nossa vida cristã. Então, podemos fazer outras perguntas: qual é a minha relação com a Igreja? Sinto-a como mãe que me ajuda a crescer como cristão? Participo na vida da Igreja, sinto-me parte dela? A minha relação é formal ou vital?
Um terceiro breve pensamento. Nos primeiros séculos da Igreja, era muito clara uma realidade: enquanto é mãe dos cristãos, enquanto «faz» os cristãos, a Igreja é também «feita» de cristãos. A Igreja não é algo diverso de nós mesmos, mas deve ser vista como a totalidade dos fiéis, como o «nós» dos cristãos: eu, tu, todos nós fazemos parte da Igreja. São Jerónimo já escrevia: «A Igreja de Cristo outra coisa não é, a não ser as almas daqueles que acreditam em Cristo» (Tract. Ps 86: PL 26, 1084). Então, a maternidade da Igreja é vivida por todos nós, pastores e fiéis. Às vezes ouço: «Creio em Deus, mas não na Igreja... Ouvi que a Igreja diz... os sacerdotes dizem...». Mas uma coisa são os sacerdotes, pois a Igreja não é formada só por sacerdotes, todos nós somos a Igreja! E se tu dizes que crês em Deus e não na Igreja, dizes que não acreditas em ti mesmo; e esta é uma contradição. Todos nós somos a Igreja: desde a criança recentemente baptizada, até aos Bispos e ao Papa; todos nós somos Igreja e todos somos iguais aos olhos de Deus! Todos somos chamados a colaborar para o nascimento de novos cristãos na fé, todos somos chamados a ser educadores na fé, a anunciar o Evangelho. Cada um de nós deve perguntar-se: o que faço para que os outros possam compartilhar a fé cristã? Sou fecundo na minha fé, ou vivo fechado? Quando repito que amo uma Igreja não fechada no seu espaço, mas capaz de sair, de se mover até com alguns riscos, para levar Cristo a todos, penso em todos, em mim, em ti, em cada cristão. Participamos todos na maternidade da Igreja, a fim de que a luz de Cristo alcance os extremos confins da Terra. Viva a santa Igreja-mãe!
in Audiência Geral, Praça de São Pedro, Quarta-feira, 11 de Setembro de 2013: AQUI.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
O nada é eternamente estéril
"O nada é eternamente estéril. O nada nunca poderia ter despertado do pesadelo da inexistência para o sonho da existência. Nem a teoria do Big Bang, ou a do Universo Oscilante, ou a do universo Estático se desenvencilharam de uma causa fundamental. Tu tens de Ser a Causa das causas".
Augusto Cury, O Semeador de Ideias.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Leituras: RINO FISICHELA - A Nova Evangelização
R. FISICHELA. A Nova Evangelização. Um desafio para sair da indiferença. Paulus Editora. Lisboa 2012, 176 páginas.
O autor é nada mais nada menos que o Presidente do Pontíficio Conselho para Promoção da Nova Evangelização. Em 2010, o Arcebispo Fisichela foi chamado por Bento XVI para uma Audiência, como é relatado no início deste livro. Não poderia imaginar que o Papa pretendia criar este novo discatério e que o seu primeiro presidente seria precisamente o autor. A partir daqui se contrói esta reflexão sobre a Nova Evangelização.
Fisichela faz uma viagem pelas origens da Nova Evangelização, a utilização do termo, na América Latina, a divulgação e aprofundamento pelo Papa João Paulo II, a intuição presente no concílio Vaticano II, e o contributo do Papa Paulo VI, que sem usar a terminologia já desafiava à nova evangelização, voltar de novo aos lugares onde o cristianismo era conhecido, tinha sido vivido e precisava de novo vigor, para que o divórcio entre a fé e a cultura, a Igreja e a sociedade pudesse ser dirimido.
Uma parte significativa desta reflexão traz-nos a intuição de Bento XVI que dá forma e força à necessidade da nova evangelização, mormente numa Europa adormecida, indiferente, contraditória. Em 2012, celebrava-se em Roma o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã, dando maior visibilidade a esta urgência. Aguarda-se a publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal, agora já com o papa Francisco.
O autor fala dos fundamentos, mas também dos conteúdos a priviligiar, naquela que é uma missão imprescindível de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, em toda a parte, em todos os ambientes, em palavras e obras, sobretudo com a coerência de vida, ontem como hoje.
É uma leitura leve e interessante, acessível e pertinente. Quando fala dos autores da nova evangelização traz pouca novidade, podendo ter feito um breve resumo de meia dúzia de linahs, já que segue de perto as intuições de documentos papais.
De grande beleza a reflexão sobre a Catedral e especificamente a catequese á volta da Basílica da Sagrada Família, em Barcelona.
- Apresentação deste livro por D. António Couto, no Seminário Maior de Lamego, a 19 de março de 2012: AQUI e AQUI.
- Veja também o vídeo de apresentação:
Veja-se o seguinte Texto sobre NOVA EVANGELIZAÇÃO: AQUI e o Sínodo dos Bispos.
A visão de D. António Couto, Bispo de Lamego e responsável da Comissão Episcopal das Missões e Nova Evangelização: AQUI.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
domingo, 15 de setembro de 2013
Novena de Santa Eufémia - nono Dia
A frase profética do velho Simeão dita a Nossa Senhora durante a Apresentação do Menino Jesus no Templo, espelham as dores e os sofrimentos que atravessarão a vida da Mãe de Jesus, Mãe de Deus e nossa Mãe.
Qualquer pessoa passa por momentos de grande felicidade, de encontro, de descoberta, de festa e de encanto. Mas a vida, na sua fragilidade e finitude, também é caracterizada por desencontros, desencantos, desilusões, perdas.
Maria, criatura como nós, atravessa este "vale de lágrimas" confiante na bondade e misericórdia de Deus, experimentado momentos difíceis: na anunciação - não sabe como se vai realizar o mistério e também os momentos que pode passar se for desamparada pelo futuro esposo; na Apresentação, as palavras de Simeão deixam-n'A de atalaia sobre o que virá. Muitas serão as vezes que o seu coração se sobressalta com os perigos que acompanham a vida de Seu Filho, muitas vezes é chamada a encontrar-se com Ele para ver com os próprios olhos que nada de mal Lhe acontece. Mas a prisão de Jesus, o processo que O obriga a ser julgado em várias casas e praças, os açoites, a cruz aos ombros, a crucifixão, os momentos que antecedem a morte, a morte e a descida da Cruz, colocando-lhes nos braços o Filho morto, nos mesmos braços em que O acolheu com vida e O deu ao mundo, a espera até à ressurreição... quanta dor, quanta lágrima, quanta incerteza. Não é alheia a grande fé de Nossa Senhora, que confia, que ama, que espera, que une em oração os discípulos que entretanto dispersariam.
Santa Eufémia é sujeita também a muitas dores, a muito sofrimento. Não é Mãe de Jesus, mas é por Jesus que ela sofre, suporta o peso das torturas e do escárnio, e enfrenta a "pena de morte" por ser cristã, por ser seguidora de Jesus Cristo. No amor maior por Jesus Cristo, tudo suporta porque muito ama. A confiança, como em Nossa Senhora, ultrapassa o medo e o sofrimento.
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!
Santa Eufémia, rogai por nós!
sábado, 14 de setembro de 2013
SANTA EUFÉMIA e a exaltação da Santa CRUZ
O oitavo dia da novena coincide com a Festa da Exaltação da Santa Cruz.
Para o cristão, a cruz não é um acessório, mais ou menos na moda, nem tão pouco um objecto decorativo ou um objecto de arte, a CRUZ é uma referência fundante e fundamental na vida do discípulo de Jesus Cristo.
A exaltação da Cruz não significa que o cristão vai à procura do sofrimento, em atitude masoquista de se infligir sofrimento, mas é antes de mais e acima de tudo expressão máxima do amor de Deus por nós, que se manifesta em plenitude na entrega até à Cruz
Lembra-nos o Apóstolo: "Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes" (Filip 2, 6-11).
Ele assume a nossa fragilidade e a nossa finitude humanas, morre connosco e por nós, para nos elevar à Ressurreição.
Sublinhe-se que a CRUZ sem a RESSURREIÇÃO seria vazia, teria um corpo morto, seria apenas um objecto de tortura até à morte. Com a Ressurreição, a CRUZ é preenchida com o AMOR de Deus para com a humanidade. A Cruz é expressão de amor e de entrega. Sexta-feira Santa. Mas dá lugar à LUZ e à VIDA, dá lugar ao Domingo de Páscoa. Ele é exaltado, porque ousou levar o amor até às últimas consequências.
Santa Eufémia é fortalecida nesta certeza e nesta dialéctica. Assume a vida como um testemunho de Jesus. Leva o o seu amor por Jesus Cristo até às últimas consequências. É permanentemente desafiada a renegar a Jesus, o que evitaria a tortura e a morte, evitaria a Cruz. Mas por amor, e na certeza da Ressurreição, leva a sua cruz até ao fim. Confia inteiramente que na morte passará à vida eterna junto de Jesus Cristo. A morte assusta, mas mais assusta a escuridão que nos coloca longe de Deus.
XXIV Domingo do Tempo Comum - ano C - 15 de setembro
1 – «Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: Enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».
São Lucas presenteia-nos com uma parábola de Jesus que é uma pérola, sem menosprezar outras parábolas muito significativas para bem perceber e sobretudo acolher a mensagem de Jesus. Há poucas semanas, através da parábola do Bom Samaritano, Jesus mostrava-nos o Pai. Assim o Pai, assim o Filho, assim os discípulos, que hoje somos nós. Servir. Amar. Sem olhar a quem. Está alguém caído à beira do caminho? Alguém à beira do abismo? Alguém a precisar de uma palavra, de um abraço, de uma ajuda? De que estamos à espera?
Deus faz-Se próximo, tão próximo que reduz a Omnipotência para caber dentro da humanidade. Em Jesus, Deus assume-nos na nossa fragilidade e finitude.
Tendo presente a parábola do Filho Pródigo, e que deveria ser conhecida como parábola do Pai misericordioso, Deus é Aquele que parte a cara, perde a vergonha, humilhando-Se diante dos filhos. Espera, respeita, acredita, liberta. Dá a vida e a herança, toda a herança. Não fica com nada e no entanto nada Lhe falta, nada Lhe faz falta. Só a distância e/ou a morte dos filhos O deixa de rastos.
2 – Este Pai faz tudo ao contrário do que é expectável. O filho mais novo deseja-lhe a morte e nem assim deixa de o respeitar como filho, procurando fazer-lhe a vontade. A herança é por morte. Pedir a herança aos pais, ou a pessoas mais velhas, é desejar que nos deixem o que é seu, que morram rápido para podermos beneficiar dos seus haveres. Naquele tempo, e naquelas civilizações, a herança nem sequer era direito dos filhos. Quando muito ficava com o filho mais velho, para que não se dispersasse o património. Ainda assim, o Pai faz a vontade ao filho, quando se espera que sejam os filhos a obedecer aos pais. Dá-lhe parte da herança. Dá-lhe do que é seu. Sem calculismos. A tristeza não vem do ficar sem os bens, vem da desfeita do filho, do querer sair de casa, abandonando a casa paterna, em troca de uma vida desconhecida, de uma casa alheia. O filho pode perder-se para sempre. Pode não saber o caminho de regresso e morrer antes de voltar.
O Pai confia. Dá-lhe os bens. Deixa-o partir. Fica de coração despedaçado. Com a fuga do filho morre uma parte importante dentro de si, e que não pode ser substituída. Ama-o totalmente. Um filho não substitui o outro. Os pais sabem isso. Deus é Pai e é Mãe, como referia o papa João Paulo I. Os seus olhos estão pregados no horizonte. Todos os dias. A todas as horas. Em todos os momentos. O coração fica bem apertadinho. Em espera constante e confiante. Do horizonte um dia o filho há de voltar. É o coração que lho diz. Amou-o tanto, tanto o ama, que um dia o filho vai lembrar-se desse amor, desse olhar, daquele abraço e terá saudades de casa e sobretudo do amor do Pai/Mãe.
Quando o filho mais novo regressa, o Pai renasce. Recupera os anos perdidos em consumação. Com o filho nos braços, tudo o mais se torna relativo. O melhor vitelo para a festa. Devolve-lhe a dignidade de filho, colocando-lhe o anel no dedo, e vestindo-o com as roupas de príncipe. Não olha a gastos, porque tudo vale a recuperação do filho.
3 – É tão grande o amor do Pai, que até custa compreender e aceitar. O filho mais velho estranha. Como é possível que o Pai esqueça tudo o que de mal o filho mais novo lhe causou?! Primeiro um pedido estranho. Depois os anos de sofrimento. O filho mais velho tinha o pai só para si, sem o dividir com ninguém. Não sente como o Pai (como a Mãe). O Pai tem o coração dilacerado. Mesmo que não se fale no filho ausente, para o Pai está sempre presente.
Não bastava acolhê-lo de volta em casa, e perdoá-lo, e, ainda por cima, uma festa grandiosa para o filho regressado?! Não pode ser! Nós a trabalhar, a poupar, a tentar amealhar mais algumas poupanças, e vem este teu filho e gastas uma fortuna com uma festa? Como é possível! E se um dia destes ele voltar a sair de casa? E se vier a dar-te um desgosto? Seja, mas ele é meu filho, como tu és meu filho. Amo cada um com todo o meu coração. O meu amor por vós não se divide. Amo-vos por inteiro. Nenhum de vós substitui o outro. Amo-te do mesmo jeito de sempre, da única forma que sei amar, totalmente. Este teu irmão estava morto e voltou à vida. Estava perdido, e agora está connosco. Vem alegrar-te com o regresso do teu irmão. Partilha da minha alegria. A minha alegria também é tua. Tudo o que é meu é teu. Não há nada que pague a vossa vida.
O contexto desta e das parábolas anteriores é a resposta à crítica, mais ou menos clara, feita a Jesus por Ele comer com publicanos e pecadores, não fazendo distinção de pessoas. Para alguns grupos, fariseus e doutores da lei, era um ultraje, pois tinham como adquirido que Deus enviaria o Messias apenas para eles que estavam no bom caminho. Presunção e água benta... No entanto, Jesus vem sobretudo para os que precisam de cura e salvação. É Este o Deus revelado em Jesus, Deus próximo e que Se humaniza para todos recuperar.
O reino de Deus está de portas abertas. Não se impõe. As portas por onde sair, estão sempre abertas para regressar. Há que ir ao encontro da ovelha perdida. Como tem vindo a acentuar o papa Francisco, a Igreja, voltada para si mesma, corre o sério risco de se tranquilizar com a ovelha que está dentro, quando no exterior já estão as 99 ovelhas. Outra parábola outra pérola. Dona de casa que perde uma das 10 dracmas. Procura-a. Encontra-a. Faz uma festa com amigas. Gasta mais do que o que recuperou. Assim é Deus, gasta tudo para nos encontrar. Envia o Seu próprio Filho. Sempre que alguém se converte, Deus faz uma festa enorme, coloca todos os anjos e santos a cantar e a dançar.
4 – O Deus de Jesus Cristo é o mesmo Deus que Moisés nos revela: pronto a perdoar. Lento para a ira, rico de misericórdia e de paciência. Deus fala a Moisés: «Desce depressa, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se… Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação».
O primeiro impulso de Moisés é desistir e destruir todo o povo. As palavras que Moisés coloca em Deus não são mais que o seu desejo imediato. A oração, o diálogo íntimo com Deus, fá-lo descobrir o povo e as suas gentes através do olhar misericordioso de Deus. Tal como Abraão tinha descoberto, pela oração, que Deus quer a vida e não morte do seu filho. Tal como Jonas que esperava que Deus destruísse toda a cidade de Nínive, vem a descobrir que Deus tão só quer a salvação de todos os seus filhos. Assim também Moisés descobre a vontade misteriosa de Deus. O discernimento vem-lhe da oração: «Por que razão, Senhor, se há de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa? Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel…».
Deus desiste do castigo. De notar a força da oração, não para convencer Deus, mas para acolhermos a Sua bondade, predispondo-nos a contruir, a edificar, a encontrar razões para amar, para perdoar, para envolver os outros.
5 – Percorrendo as páginas da Sagrada Escritura encontramos um fio condutor que desemboca na Encarnação de Deus. Deus cria por amor e por amor envia mensageiros, por amor nos entrega o Seu próprio Filho. Entrelaçada com a história – com os seus dramas e sonhos, com os conflitos, as divisões e as guerras, as suas descobertas, conquistas e sucessos –, a Presença de Deus.
Ontem como hoje. Abrão e Moisés, Elias e Jeremias, JESUS CRISTO, Pedro e Paulo, Bento e Francisco, a tia Rosa e o tio José, eu e tu, Deus continua a querer fazer-Se AMOR em cada coração, em cada casa, em cada comunidade. A morte de Jesus tem o condão de redimir do pecado e da morte, para que mortos para o pecado com Ele possamos viver como ressuscitados.
Paulo testemunha com a sua conversão e com o chamamento. Fui blasfemo, perseguidor e violento, mas Deus, em Jesus Cristo, achou-me digno de confiança. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo superabundou em mim e n'Ele alcancei misericórdia. "Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles".
Textos para a Eucaristia (ano C): Ex 32,7-11.13-14; 1 Tim 1,12-17; Lc 15,1-32.
Reflexão dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
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