“Hoje podemos afirmar com bastante certeza que a
cruz é o lugar de origem da fé em Jesus, o Cristo, e de toda a fé cristã. O
próprio Jesus não Se autoproclamou diretamente Cristo («Messias»). Esta
afirmação, que no parece um pouco estranha, sobressai hoje com alguma nitidez
no meio das disputas dos historiadores, qua causaram tantas confusões. E
revela-se incontornável precisamente quando se assume a devida posição crítica
diante do procedimento precipitado de subtração que atualmente domina a
investigação sobre Jesus. Pode-se dizer, portanto, que Jesus não declarou
claramente que era o Messias (Cristo) – quem o declarou foi Pilatos, que se baseou,
por sua vez, na acusação feita pelos judeus; cedendo às instâncias deles,
Pilatos mandou colocar no alto da cruz, nas línguas universais daquela época, o
motivo pelo qual Jesus foi executado, proclamando-O rei (= Messias, Cristo) dos
judeus. Este título de execução, ou seja, a sentença de morte proferida pela
história, transformou-se, na sua unanimidade paradoxal, na «profissão de fé»,
no verdadeiro ponto de partida e na raiz da fé cristã que vê em Jesus o Cristo.
Na sua condição de crucificado, esse Jesus é o Cristo, o rei. Ele é o rei
enquanto crucificado. Ser rei é, no seu caso, ter-Se entregado a Si mesmo aos
homens; a palavra, a missão e a existência tornam-se idênticas precisamente na
entrega dessa existência. Assim, a sua existência é a sua palavra. Ele é a Palavra, porque é amor. A partir da
cruz, a fé passa a entender cada vez melhor que esse Jesus não Se limitou
simplesmente a fazer e a dizer algo,
mas que n’Ele a missão e a pessoa são idênticas, de moto que Ele já é aquilo
que diz… esse Jesus é «Palavra», é «Verbo», uma pessoa que não só tem palavras,
mas também é a sua palavra e a sua obra, é o próprio logos («a Palavra», a razão), desde sempre e para sempre; ela é o
fundamento sobre o qual se ergue o mundo. Quando encontramos uma pessoa assim,
ela passa a ser aquela razão de ser que nos sustenta e pela qual todos somos
sustentados.
in Introdução ao Cristianismo, pp 150-151.
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