sábado, 12 de outubro de 2013

XXVIII Domingo do Tempo Comum - ano C - 13 de outubro

       1 – O amor exige amor. E o bem realizado provoca a gratidão. A gratidão só é possível partindo da humildade e do reconhecimento do bem que o outro nos faz. Quem agradece abre-se ao dom alheio, disponibiliza-se a valorizar o que recebeu, comunicando. Em muitas situações da vida, o melhor agradecimento está em usar bem o que se recebeu.
       Amar implica relação, coração que se debruça sobre alguém. Tem implícita uma resposta positiva. O Papa Bento XVI, servindo-se de conceitos gregos, apresenta o amor nos seus diversos graus. Agape, é o amor oblativo, o nível superior, que procura o bem do outro, sem esperar nada em troca. Neste sentido, o amor de Deus é sobretudo agape (caritas = caridade). Deus dá-Se totalmente ao ser humano. Noutro polo está o eros, “o amor de quem deseja possuir aquilo que lhe falta, ansiando pela união do amado”. Haverá alguma coisa que o homem é e tem e que Deus não possua já?
       Porém, sublinha Bento XVI, “o amor de Deus também é eros... o Omnipotente espera o «sim» das suas criaturas, tal como um jovem esposo espera o sim da sua esposa… Na Cruz o próprio Deus mendiga o amor da sua criatura: Ele tem sede do amor de cada um de nós… A resposta que o Senhor deseja ardentemente de nós é, antes de mais, que acolhamos o seu amor e nos deixemos atrair por Ele. Aceitar o seu amor não basta. Devemos corresponder a esse amor e, depois, empenharmo-nos em comunicá-lo aos outros”.
       2 – Jesus passa entre a Samaria e a Galileia, a caminho de Jerusalém e encontra 10 leprosos. Está em movimento, a caminhar. Vem ao nosso encontro, ao nosso caminho. Cabe-nos acolher a Sua presença: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». As condições colocadas por Jesus para a cura estão ao nosso alcance, que no caso dos 10 leprosos, é mostrarem-se ao sacerdote. Pelo caminho ficam curados. A cura coloca-nos a caminhar, e no caminhar, no sair de si, está a cura para muitos dos nossos males físicos e espirituais.
       A narração continua e mostra a atitude de um dos leprosos que, vendo-se curado, glorifica a Deus em alta voz e se prostra aos pés de Jesus para Lhe agradecer. Era um estrangeiro, um samaritano, inimigo dos judeus, impuro como leproso e impuro por ser samaritano. Ainda assim, só ele glorifica a Deus e agradece a Jesus.
       Rapidamente o desabafo de Jesus: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?» Jesus, quando os curou não lhes perguntou pela origem, pela classe social, pela religião, pelas suas histórias passadas. Simplesmente, curou-os. Atendeu aos seus pedidos. Também aqui Jesus dá a Sua vida, dá a Sua graça. Cura. Sem esperar receber nada em troca. É o amor-agape. Brota da Sua benevolência, da Sua compaixão, de um coração que transborda de Amor. Seguindo a reflexão de Bento XVI, seria expectável o agradecimento, manifestação do eros. Uma resposta. Um obrigado. Uma palavra. Um gesto. O amor gera amor.
       Além disso, é um agradecimento mediado, a Jesus, mas pelo DOM de Deus. Não basta, responder ao amor com amor, é necessário comunicá-lo, testemunhá-lo aos outros e daí o envio: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou». Levantar-se. Pôr-se a caminho. De novo. Sempre. A fé como ponto de partida, como condição para nos fazermos caminho.
       3 – A primeira leitura traz-nos uma situação semelhante. Um estrangeiro que vem reconhecer o “poder” do Deus de Israel, através dos seus profetas. Eliseu manda que o sírio Naamã se lave por sete vezes no rio do Jordão. Para sermos curados precisamos de nos reconhecer doentes e de fazermos o que nos compete, seguindo as recomendações do médico. Se ele nos dá uma receita e nós seguimos a nossa, de que adianta ter ido à consulta? (Ainda que na reação a medicamentos e dietas a opinião da pessoa doente seja essencial).
       Após a cura, o reconhecimento: «Agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus senão o de Israel». E a gratidão «Peço-te que aceites um presente deste teu servo». O profeta sabe e sente que o que fez não é da sua lavra mas resulta do poder e da intervenção de Deus. Para Eliseu, a sua missão é sobretudo mediação dos dons que Deus lhe concedeu. O agradecimento há de ser dirigido a Deus. Assim o faz compreender a Naamã.
       Note-se, também aqui, que a bênção de Deus, há de dar lugar à mudança de vida, à conversão. Curado, doravante o sírio Naamã só a Deus prestará culto.
       Numa palavra, a iniciativa do amor de Deus que nos precede, há de levar-nos à identificação deste amor, acolhendo-o, vivendo-o, comunicando-o. Diz Paulo a Timóteo: «É digna de fé esta palavra: Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com Ele reinaremos; se O negarmos, também Ele nos negará; se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo».

       4 – Hoje, 13 de outubro, no Vaticano, diante da imagem da Capelinha das Aparições de Nossa Senhora de Fátima, o Papa Francisco consagrará de novo o mundo à Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, Mãe nossa. Olhando para Maria, primeira discípula de Cristo, a obra que Nela se opera, pelo Espírito Santo, dá lugar ao louvor e à caridade. Ao amor de Deus, Maria responde com o SIM e com o serviço. Corre apressadamente para a montanha, para ajudar a sua prima Isabel. Diante de Isabel, o hino de louvor e de gratidão, o Magnificat. “A minha alma glorifica o Senhor porque olhou para a sua humilde serva…”

       5 – Cientes da palavra de Deus que hoje toca o nosso coração, que propósitos para renovar aspetos da nossa vida? Agradeço o que sou, o que tenho, a minha família? Agradeço o sol ou a chuva de cada manhã? Louvo a Deus por tudo o que de bom me rodeia? Reconheço os dons que Deus dá aos outros, as suas qualidades? E de que forma eu agradeço pelos dons que Ele me dá? Ponho-os a render? Guardo-os para mim?
       Não tenhamos medo de usar muitas vezes o “obrigado”. Agradeçamos a quem nos faz a refeição. Elogiemos este ou aquele prato confecionado. Obrigado a alguém que nos deu a passagem, nos emprestou um lápis, agradeçamos a Deus por cada sorriso que nos predispõe para o bem. Agradeça. Louve. Hoje. Faça um elogio a cada pessoa da sua família. Há sempre oportunidades. Pelo cabelo, pela roupa, pela refeição, pela expressividade do rosto, pelo olhar, pelo sorriso. Um elogio. Um obrigado. Muda o seu olhar. Muda a atitude de quem escuta. Faça o domingo acontecer. Hoje.

Textos para a Eucaristia (ano C): 2 Reis 5, 14-17; 2 Tim 2, 8-13; Lc 17, 11-19.

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