quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Conselhos Pastorais - Povo de Deus

       Os conselhos pastorais fazem parte das inovações que modificaram a vida das paróquias depois do Concílio Vaticano II. Para compreendermos tal entusiasmo importa apenas referir a noção de “Povo de Deus” apresentada na constituição dogmática Lumen gentium (LG) e como isso abre uma nova via para pensar o lugar de todos na vida da Igreja.
       O primeiro esquema deste documento (1962) propunha um texto que se identificava com outros anteriores e colocava a hierarquia antes e o laicado no final. Um primeiro debate promove alterações ao texto e, após sugestões sucessivas, é aprovado o texto actual, em 1964. Uma das alterações mais visíveis, e que importa sublinhar aqui, é a colocação do capítulo sobre o Povo de Deus antes da parte que aborda a hierarquia. Há uma inversão da disposição dos capítulos que é muito mais que a mudança na disposição do conteúdo. Colocar antes a realidade do Povo de Deus contribui de forma decisiva para uma procura do equilíbrio eclesiástico do todo. O Povo de Deus é anterior à hierarquia, concebendo-se a Igreja, na sua totalidade, como unidade e permitindo colocar antes a noção de comunidade, ao mesmo tempo que permite situar os ministros. A partir daqui não é o leigo que se define face ao clérigo, mas é o padre que se apresenta com uma função particular em referência ao Povo de Deus.
       É esta nova perspectiva que permite aos Padres conciliares reconhecer que “a todo o discípulo incumbe o encargo de difundir a fé, segundo a própria medida” (LG 17). A Igreja é reconhecida como uma realidade comum que pertence a todos; melhor, que está para lá dos seus membros.
       É o Espírito Santo que move toda a Igreja, todo o povo de Deus, para continuar a obra da criação e da Redenção, “a cooperar para que o desejo de Deus que fez de Cristo o princípio de salvação para todo o mundo se realize totalmente” (LG 17).
       Este aspecto comunitário, que emerge através da introdução da noção de Povo de Deus, revela a pertinência de pensar a Igreja a partir de todos os seus membros. Este “todos” pode ser associado a uma outra noção, particularmente fecunda para o Concílio, a de “participação”.

FONTE: Jornal diocesano VOZ DE LAMEGO, n.º 4248, de 21 de janeiro de 2014.

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