1 – «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?».
Os cristãos vivem à luz da Ressurreição de Jesus Cristo. O Domingo, o dia do Senhor, marca cadencialmente a vivência cristã. Daí a importância da Eucaristia, na qual se comemora a Páscoa de Jesus, semanal (ou diária). Anunciamos a Sua morte e a Sua ressurreição até que Ele venha, de novo, sempre, à nossa vida e seja Luz para o nosso mundo. Vivemos em constante tensão entre o JÁ e o AINDA NÃO. Jesus encarnou, revelou-nos o Seu projeto de vida de nova, resplandecente de perdão e de amor. Foi morto e ressuscitou. E por isso, tornamo-nos cristãos, enxertados no Seu Corpo que é a Igreja, da qual Ele é a cabeça e nós os membros, tornando presente a Sua vida, paixão redentora e ressurreição, através dos Sacramentos, especialmente na Eucaristia, Sacramento da Caridade. Ele será tudo em todos. Processo que se iniciou com o Batismo, fomos batizados na água e sobretudo no Espírito Santo. Com Cristo morremos para o pecado e para a morte, e ressuscitamos novas criaturas, para vivermos como filhos de Deus, mas o que havemos de ser só se manifestará plenamente na eternidade, porquanto Deus vai desvelando em nós a Sua graça, a Sua misericórdia infinita, agindo pela nossa voz e pelas nossas mãos.
A Quaresma prepara-nos para a festa anual da Páscoa, mas vivemo-la sempre em lógica de Páscoa, da Qual recebemos a Luz e a Vida nova. É como o pai que continua a ser filho, como o professor que será sempre aluno, como o médico que é também doente, como a sede que se sacia e alimenta da água, e quanto mais se bebe mais vontade tem de se beber. Preparamo-nos para a Páscoa, mas porque JÁ aconteceu Páscoa com Cristo, e connosco através do Batismo.
A Páscoa está em gérmen na Quaresma e em todo o tempo da nossa vida, como os frutos que surgirão pelo verão estão em gestão no tempo da primavera. Belíssima a conjugação verbal do Pe. Tolentino Mendonça: «eu primavero», «eu (re) começo a primaverar», assistindo à vitalização da natureza que mesmo parecendo adormecida vai rejuvenescendo, ressuscitando.
2 – «Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem luz consigo».
A divindade de Jesus não O torna nem Invisível nem Impassível; na Sua humanidade transparece Deus; Ele faz-Se próximo, Caminho, Luz, Ressurreição. Maria, Marta e Lázaro. Amigos de Jesus. "O teu amigo está doente". Uma família, uma casa, onde Jesus encontra carinho, compreensão, onde pode descansar e alimentar-se e onde as ausências se preenchem de saudade e cuja alegria transborda no regresso.
Maria, antecipando a morte do Seu Mestre, tinha ungido Jesus, enxugando-lhes os pés com os cabelos. Entretanto, a morte do seu irmão Lázaro. Marta e Maria acreditam em Jesus e têm a certeza que a Sua presença (física) evitaria um desenlace tão rápido do irmão. Nota-se, e sublinhe-se, que elas não perdem a confiança em Jesus e reafirmam a fé n'Ele, o Messias de Deus, e na ressurreição dos mortos. Enquadram a morte de Lázaro como um momento da vida.
Por outro lado, Jesus não Se detém na linearidade da história e do tempo, volta atrás, pois é necessário ir novamente a Betânia, os seus amigos precisam d'Ele. Surgem algumas nuvens no horizonte. Os discípulos chamam-n'O à razão, dizendo-lhe que vai regressar onde há poucos dias esteve quase a ser apedrejado. Evidenciam-se sinais que tornam visível a vizinhança de tempos complicados. Parece que a cruz, o sofrimento, a morte, estão à espreita para a qualquer momento fazerem das suas. Jesus não Se detém. Avança. A onda é a mesma de sempre: fazer a vontade do Pai, agir para glorificação de Deus.
3 – «Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem luz consigo». Jesus é a nossa LUZ. Ele quer-nos do Seu lado, a caminhar juntamente com Ele, a trabalhar na Sua vinha, querendo viver em nós. Configurados na Sua morte e ressurreição, passamos da morte à vida. É tempo de vivermos nesta condição de novas criaturas: praticando as obras do dia, da luz, para não tropeçarmos.
Diz-nos São Paulo, na segunda leitura, que "se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós".
Não nos preocupemos em demasia com o dia de amanhã, vivamos AQUI e AGORA junto daqueles e daquelas que Deus colocou junto de nós. A Ele a ameaça não O paralisa. Há tempo para tudo. O tempo dá-o Deus gratuitamente para que o usemos do mesmo jeito. Enquanto é dia, enquanto é tempo. Jesus comunica serenidade. Não Se deixa abater nem pela doença nem pela morte de Lázaro, ainda que o evangelho sublinhe que a notícia O deixou comovido. Falam-lhe da doença de Lázaro. Jesus decide voltar a Betânia. Mas permanece ainda dois dias. Faz o que tem a fazer. O fundamental é realizarmos o que estamos a fazer. Por vezes é necessário deixar tudo para ir. Por vezes é preciso deixar tudo para cumprir a missão de anunciar a Boa Notícia, fazer bem o que se está a fazer.
“Eu confio no Senhor, a minha alma espera na sua palavra. A minha alma espera pelo Senhor mais do que as sentinelas pela aurora. Porque no Senhor está a misericórdia e com Ele abundante redenção. Ele há de libertar Israel de todas as suas faltas” (Salmo). A confiança em Deus alimenta a vida de Jesus. Que alimente também a nossa vida, especialmente nos momentos de maior dor e maior treva, nos momentos em que as nuvens passam em tons cinzentos.
Os discípulos vão-se apercebendo, e nós com eles, que o projeto de Jesus pode trazer riscos acrescidos para quem O quiser seguir. «Vamos nós também, para morrermos com Ele». O seguimento de Jesus implicará sempre a Cruz. É inevitável. Jesus não a deseja para Si, muito menos para os Seus, para nós. É incontornável. Optar pela verdade, pela retidão, pela transparência, poderá conduzir a dissabores e violências, pois que esta opção implicará pôr a descoberto tudo o que se afasta da luz. Por vezes as trevas, a noite, o pecado têm, ou parecem ter, uma força maior, numa luta em que procuram anular a força e o brilho da Luz, que vem do amor e do bem.
4 – «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?»
Quando chega Jesus a Betânia, Lázaro já está morto há quatro dias. Já está em decomposição.
Assim fala o Senhor Deus: «Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar, ó meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel. Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e deles vos fizer ressuscitar, ó meu povo. Infundirei em vós o meu espírito e revivereis. Hei de fixar-vos na vossa terra e reconhecereis que Eu, o Senhor, digo e faço» (primeira Leitura).
O diálogo com Marta e a ressurreição de Lázaro mostram que em Jesus se cumprem as promessas de Deus ao Seu povo. Nesta ressurreição, que é provisória, histórico-temporal, Jesus diz ao que vem: identifica-se com a nossa dor, "e Jesus chorou", e coloca-nos no coração de Deus, intercedendo por nós: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste».
E Deus, como Pai, não haveria de responder às súplicas do Filho a nosso favor? "O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário".
Um dia e já falta pouco, Jesus será morto. Passados três dias ressuscitará. O Seu corpo, a Sua vida por inteiro, será a mais genuína oração de intercessão por nós. Redimidos nas Suas dores para com Ele ressuscitarmos. Ele é a Ressurreição e a Vida. Procuremos, desde já, viver fazendo que em nós ressuscitam os frutos que nos colocam na vida eterna, na vida de Deus.
Pe. Manuel Gonçalves
Textos para a Eucaristia (ano A): Ez 37, 12-14; Sl 129 (130); Rom 8, 8-11; Jo 11, 1-45.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
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