sábado, 10 de maio de 2014

Domingo IV da Páscoa - ano A - 11 de maio de 2014

       1 – A belíssima imagem do pastor e das ovelhas, em Dia Mundial das Vocações, remete-nos imediatamente para a iniciativa de Deus, que cria por amor, respeitando a nossa liberdade, mas mantendo-Se próximo, potenciando as nossas capacidades e opções. Mas se Ele é o Bom Pastor, que Se mistura com as Suas ovelhas, nós somos o rebanho que deve fixar o olhar em Jesus Cristo. Permanentemente. Para não nos desviarmos, para não nos perdermos, para não corrermos o risco de ser devorados pelos lobos, pelo mal, pelo egoísmo.
       Quando nos centramos no nosso interesse, naquilo que comemos, naquilo que temos, a séria possibilidade de nos perdermos dos outros e de Jesus Cristo. Incisiva a imagem: se uma ovelha pastar, preocupada em saciar a sua fome, mas esquecendo-se das que seguem ao lado, ou deixando de avistar o pastor, poderá perder-se momentaneamente ou para sempre. Assim connosco. Em todo o caso, o Pastor vigia o tempo todo e, se o rebanho é muito grande, conta com ajudantes, companheiros, parentes, ou cães de guarda. Nós somos as ovelhas, o rebanho do Senhor, mas somos também os Seus ajudantes, procurando, com a nossa voz e o nosso peregrinar, fazer com que nenhuma ovelha se perca, e como ovelhas não perder de vista os que nos acompanham e Aquele que é o Bom Pastor.
       O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas, congregando-as na unidade, procurando as melhores pastagens. «O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva me a descansar em verdes prados, conduz me às águas refrescantes e reconforta a minha alma» (Salmo). Se alguma tem dificuldade em acompanhar o rebanho, o Pastor volta atrás, pega-lhe ao colo ou põe-na aos ombros. É o que faz Jesus pela humanidade. É o que deveremos fazer uns pelos outros. Ele identifica-Se connosco, não para ficar como nós, mas para que nós possamos tornar-nos semelhantes a Ele, seguindo-O.
       2 – O pastor conhece as ovelhas pelo nome e sabe as características específicas de cada uma. Elas, por sua vez, conhecem a sua voz, percebem a aproximação até pelo jeito de andar. Se entra no aprisco um ladrão ou salteador, as ovelhas ficam agitadas.
«Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. As ovelhas conhecem a sua voz. Ele chama cada uma delas pelo seu nome. Caminha à sua frente e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. Se for um estranho, não o seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos».
       O pastor entra pela porta, às claras, falando, cantando. O salteador, o inimigo, entra silencioso, sorrateiro, para que ninguém se aperceba da sua presença, de noite quando todos dormem, ou em momentos em que o pastor não está por perto. É um pouco como os lobos, pronto para devorar. As obras do bem e da verdade não precisam de estar acobertas da noite e da escuridão.
       Outra imagem sugestiva usada por Jesus:
Eu sou a porta das ovelhas. Aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo: é como a ovelha que entra e sai do aprisco e encontra pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância».
       É por Ele que seremos salvos. Podemos abrandar o nosso passo, distrair-nos, afastar-nos. Poderemos seguir por outras portas, ou ir atrás de outros "pastores", mas no final é n'Ele que nos encontraremos como irmãos. Identificando-nos com Jesus, sabemos que estamos no bom caminho. Há que adaptar a nossa vida ao jeito de ser e de viver de Jesus: amando, dando a vida. A salvação que chega até nós não nos castiga ou destrói. Como referia Bento XVI, nas Jornadas Mundiais da Juventude, em Colónia, Cristo não nos tira nada. Ele vem precisamente para que tenhamos a vida e vida em abundância.
       3 – Pedro – escolhido por Cristo para sobre ele assentar a Sua Igreja –, mostra-se pastor atento, desenvolto, testemunhando a alegria da Ressurreição mas também as implicações do seguimento.
       Nos Atos dos Apóstolos, assumindo a liderança que lhe cabe, diz alto e bom som: «Saiba com absoluta certeza toda a casa de Israel que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes». A constatação de Pedro traz ao de cima a sua espontaneidade, aproveitando para desafiar: «Convertei-vos e peça cada um de vós o Batismo em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo, porque a promessa desse dom é para vós, para os vossos filhos e para quantos, de longe, ouvirem o apelo do Senhor nosso Deus».
       O perdão dos pecados e a vida nova no Espírito Santo está ao alcance de todos. Porém e mais uma vez Pedro não esconde as dificuldades do tempo presente. Tornamo-nos novas criaturas mas não super-homens ou supermulheres imunes ao sofrimento. A identificação a Jesus permite-nos suportar melhor e relativizar as adversidades:
“Se vós, fazendo o bem, suportais o sofrimento com paciência, isto é uma graça aos olhos de Deus. Para isto é que fostes chamados, porque Cristo sofreu também por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos. Ele não cometeu pecado algum e na sua boca não se encontrou mentira. Insultado, não pagava com injúrias; maltratado, não respondia com ameaças; mas entregava-Se Àquele que julga com justiça. Ele suportou os nossos pecados no seu Corpo, no madeiro da cruz, a fim de que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas fomos curados. Vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes para o pastor e guarda das vossas almas”.
       É Jesus, o Bom Pastor, que nos congrega para Deus. É a referência. O testemunho de pessoas próximas de nós ajuda-nos a perceber o caminho, mas o critério último é sempre Jesus Cristo.
       4 – Na Mensagem para Dia Mundial das Vocações, o Papa Francisco sublinha que a abundância de vocações se deve antes de mais à proximidade a Deus:
«Disse, então, aos seus discípulos: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe” (Mt 9, 35-38). Estas palavras causam-nos surpresa, porque todos sabemos que, primeiro, é preciso lavrar, semear e cultivar, para depois, no tempo devido, se poder ceifar uma messe grande. Jesus, ao invés, afirma que “a messe é grande”. Quem trabalhou para que houvesse tal resultado? A resposta é uma só: Deus. Evidentemente, o campo de que fala Jesus é a humanidade, somos nós. E a ação eficaz, que é causa de “muito fruto”, deve-se à graça de Deus, à comunhão com Ele (cf. Jo 15, 5). Assim a oração, que Jesus pede à Igreja, relaciona-se com o pedido de aumentar o número daqueles que estão ao serviço do seu Reino".
       Continua o Papa Francisco: «Não devemos ter medo: Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada estação da vida. Ele nunca nos abandona!»
       Somos terra de cultivo. «A vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno.»
       Seremos testemunhas do Evangelho, mas antes teremos que deixar que a nossa vida frutifique em abundância. «Disponhamos, pois, o nosso coração para que seja “boa terra” a fim de ouvir, acolher e viver a Palavra e, assim, dar fruto. Quanto mais soubermos unir-nos a Jesus pela oração, a Sagrada Escritura, a Eucaristia, os Sacramentos celebrados e vividos na Igreja, pela fraternidade vivida, tanto mais há de crescer em nós a alegria de colaborar com Deus no serviço do Reino de misericórdia e verdade, de justiça e paz. E a colheita será grande, proporcional à graça que tivermos sabido, com docilidade, acolher em nós».
       Ninguém pode dar o que não tem. Cabe-nos acolher a misericórdia de Deus, no Espírito Santo, e tornarmo-nos facilitares do mesmo Espírito para os outros, deixando que a Luz de Cristo, atuando em nós, transparece para os outros.

Pe. Manuel Gonçalves

Textos para a Eucaristia (ano A): Atos 2, 14a. 36-41; Sl 22 (23), 1 Ped 2, 20b-25; Jo 10, 1-10.

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