sábado, 6 de fevereiro de 2016

Domingo V do Tempo Comum - ano C - 7 de fevereiro

       1 – «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Com Jesus a pesca será abundante.
       Ontem, Pedro e os Onze, e os 72 discípulos. HOJE cada um de nós é chamado à pescaria, com Ele, seguindo-O, pois só nessa condição a pesca será generosa.
       Depois das dificuldades encontradas em Nazaré, "Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho", fazendo-Se Caminho para nós, o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6). É para nos salvar que Jesus vem ao mundo e se faz à estrada. Não é um capricho de um deus poderoso que se diverte a ver-nos destruir-nos uns aos outros, ou a controlar-nos como se fôramos marionetas, ou submetendo-nos por entre medos e hesitações e superstições. Ele vem e entrega-Se para nos libertar, para nos aliviar a carga. Respeita-nos na nossa liberdade e, por conseguinte, podemos até negá-l'O, afastá-l’O ou matá-l'O para sermos totalmente independentes, sem regras nem ligações. E, depois, ficará o vazio e a solidão.
       Em Jesus, Deus propõe-Se e expõe-Se, definitivamente, tornando-Se mendigo do nosso amor. Por amor. Por que nos quer bem. Porque nos quer filhos. Porque, sabendo o que nos salva, nos envolve no seu projeto de amor e de perdão e de vida nova.
       Como Pai, Deus não Se mantém longe. Nem longe de nós nem de fora ou à parte. Nem indiferente. Nem juiz. Não se alheia da nossa história. Depois de nos enviar os Profetas, os Juízes, os Patriarcas, envia-nos o Seu próprio Filho, encarnando, assumindo a nossa pele e a nossa carne por inteiro. Sujeita-Se, porque assim foi do Seu agrado, às nossas escolhas.
       2 – A multidão segue Jesus para ouvir a palavra de Deus. Nem só de pão vive o homem. Também vive e precisa do alimento corporal, todos os dias, mas a vida de uma pessoa não se esgota no que come, no que veste ou no que tem. A vida realiza-se no encontro com os outros, na amizade e na ternura que nos envolve como irmãos, apesar e além das limitações, dos pecados e das fragilidades de cada um. A vida realiza-se na ligação ao mundo que nos rodeia e na abertura ao Transcendente, donde, em definitivo, nos vem a esperança e a certeza de que a nossa vida nos ultrapassa no tempo e no espaço. A vida não nos mata. Pode destruir-nos. Pode despedaçar-nos. Mas não nos mata, porque no final se encontra o Pai, Deus de Misericórdia. A garantia é-nos dada pelo Filho. Podemos já experimentar esta Presença amorosa, apesar de todo o sofrimento que possamos atravessar.
       A Palavra de Deus alimenta a nossa esperança, sanciona a nossa fé, dá força à nossa caridade.
       Para melhor Se fazer ouvir, Jesus sobe para o barco de Simão, pedindo-lhe que se afaste um pouco da terra, para continuar a ensinar a multidão.
       Logo depois, diz a Simão Pedro: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca».
       Pedro hesita. São pescadores experientes. Andaram na faina toda a noite e não foram bem-sucedidos. A noite não correu bem. Já lavam as redes para outra jornada. «Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Por vezes é necessário lançar-nos, confiando. Se te estás a afogar, melhor do que esbracejar pode ser "boiar", tranquilizar-se e deixar-se guiar pela água ou por quem te deita a mão. Já que é Jesus que nos desafia, então, só por isso, só por Ele, já vale a pena lançar as redes e lançar-nos à pesca. E a pesca é abundante. Naquele mar da Galileia, mas em todos os mares da nossa vida. A quantidade é tanta que as redes começam a dar-se e é necessário pedir ajuda aos companheiros do outro barco.
       A pesca acontece por iniciativa de Jesus. Mas conta connosco. Com o nosso barco. Com a nossa fé. Com o nosso trabalho. Precisamos de lançar as redes. Precisamos de contar uns com os outros. Todos não somos demais. Venham os do outro barco. O mal é quando queremos fazer tudo sozinhos, sem Deus e sem os outros. Então o nosso barco não sairá do ancoradouro, as nossas redes não servirão para nada e se se romperem perderemos todo o peixe, puxamos de um lado e o peixe sai do outro.
       3 – Diante da Santidade de Deus pode advir o medo, o receio que o nosso pecado não seja digno da grandeza e da beleza de Deus. Logo ficamos a saber que a santidade de Deus não é estática nem distância, nem afastamento ou separação. O nosso pecado não contamina a santidade de Deus! Pelo contrário, a santidade de Deus assume e purifica o nosso pecado. Se mais nada tivermos a dar a Deus, demos-lhes o nosso pecado, para que passe para Deus e em nós sobrevenha a Sua misericórdia.
       Como amiúde nos tem lembrado o Papa Francisco, e com maior insistência no Jubileu da Misericórdia, Deus não Se cansa de nós, não se cansa de nos perdoar e de nos assumir como filhos. A Sua vingança é a misericórdia. Perdoa-nos e acaricia-nos. Podemos cansar-nos de Lhe pedir perdão, Ele não Se cansa de nos amar, de Se lançar ao nosso encontro, não Se cansa de esperar por nós.
       Pedro visualiza a santidade de Jesus: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador».
       A santidade de Deus é para nossa salvação. Jesus, Rosto da Misericórdia, vem contagiar o mundo com a Sua graça santificante. «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens».
      Pedro e os discípulos conduzem o barco para terra, deixam tudo e seguem Jesus.
       Isaías sente o mesmo assombro, em sonhos contempla a fímbria do manto do Senhor, que enche todo o templo, e o canto dos Serafins: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!». O profeta sente-se esmagado com a magnificência de Deus e com a Sua santidade: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo».
       Deus faz-lhe saber, através de um dos serafins, que lhe toca com um carvão ardente: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa». Vem a proposta em jeito de interpelação: «Quem enviarei? Quem irá por nós?». E logo a resposta pronta: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».
       Sabemos como respondeu Isaías e como responderem os apóstolos.
       Também a nós Deus nos chama com as nossas fragilidades, com os nossos medos e com o nosso pecado, mas chama-nos como filhos. Qual a resposta que damos?

       4 – Paulo foi um dos que deixou tudo para seguir Jesus. O seu percurso é luminoso. Fariseu zeloso, cumpridor da Lei mosaica. Persegue os cristãos, levando ao excesso a sua fé judaica, pensando que dessa forma prestaria um serviço a Deus! Jesus mete-se no seu caminho, faz-Se Caminho para Paulo, e deixa que este O siga em novos caminhos.
       Continuamos a escutar o amor de Paulo às comunidades cristãs, nomeadamente a Corinto, lembrando-nos que não se anuncia a si mesmo mas a Cristo Jesus: «Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim...».
       Como Isaías, como Pedro, também Paulo se sente indigno de ser alcançado pela misericórdia de Deus. «Não sou digno de ser chamado Apóstolo... Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo».
       Façamo-nos ao largo, lancemos as redes para a pesca, façamo-nos Casa de Oração e de Misericórdia para todos. Porque Ele segue connosco, pois nós O seguimos. Ele é o nosso Caminho!

Pe. Manuel Gonçalves



Textos para a Eucaristia (ano C): Is 6, 1-2a. 3-8; Sl 137 (138); 1 Cor 15, 1-11; Lc 5, 1-11.

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