sábado, 10 de dezembro de 2016

Domingo III do Advento - 11 de dezembro de 2016

       1 – Alegra-te, rejubila. O terceiro domingo do Advento, é Domingo da Alegria (gaudete), pois estamos às portas do Natal, celebração festiva do nascimento de Jesus. Em menos de nada estamos lá. À nossa volta já tudo nos fala desta quadra, mesmo que este tudo seja pouco, enfeites e prendas, vendas e compras e luzes, tudo faz parte e obviamente é importante, mas já que se faz a despesa que se festeje com o aniversariante, com Jesus. A iluminação, as árvores enfeitadas, as decorações natalícias, intuem um pouco da festa, pena se ficarmos apenas pela intuição. Essencial será renovar a fé, acolher Jesus, amar Jesus, descobrir Jesus, na oração e na celebração, em casa e na rua, na Igreja e no trabalho, na pessoa amiga e na vizinha, no que está próximo e no que está distante, naquele de quem precisamos e quem precisa de nós, da nossa ajuda, da nossa mão e do nosso coração, do afeto e do pão, da palavra, do sorriso e da vida partilhada.
       O dia a nascer! São horas de despertar. Os primeiros raios de Sol começam a clarear a aurora. Já o galo canta e já a vida encanta. É tempo de cantar, de sorrir, de louvar, é tempo de levantar, de amar e de servir, é tempo de aprontar o biberão e dispor das mãos para trabalhar e para partilhar.
       A certeza da chegada é anunciada, é prometida, será cumprida, será dada. A promessa vem de Deus, o anúncio feito pelo Batista, tem em Jesus guarida. João cumpriu a sua missão, preparar a chegada do Messias. É o mensageiro que mostra o Reino a emergir. João é preso pela frontalidade com que anuncia e denuncia, pondo a descoberto os artesãos do mal e da corrupção. Da cadeia pede informações sobre Jesus e a Sua luz. Já ouviu dizer mas quer saber em definitivo que Aquele Jesus é mesmo o Messias prometido. A resposta, faz saber Jesus, está nas palavras proferidas, na mensagem proclamada, mas sobretudo no fazer e no viver: «Os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo».
       2 – Estamos centrados em Jesus. O centro há de ser sempre Jesus. João com alegria e humildade dá-nos a chave para seguir Jesus. Se o que ouve dizer, é o fazer de Jesus, então há que passar das trevas à luz e das palavras proferidas começar a sarar feridas, imitando, testemunhando e transparecendo Jesus, com o mesmo dizer, com o mesmo fazer, amando e gastando a vida.
       Mas, querendo ainda olhar para João, para melhor percebermos o que nos quer levar a viver, ouçamos então o que Jesus também tem para dizer: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Mas aqueles que usam roupas delicadas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim – Eu vo-lo digo – e mais que profeta. É dele que está escrito: ‘Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, para te preparar o caminho’. Em verdade vos digo: Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele».
       O deserto é incerto, mas é desafio certo, dele sair para cumprir o projeto que está a surgir. Jesus é a Palavra e o Rosto e a Vida do Pai. João é a Voz que ressoa pelo deserto até que doa, é Profeta e Precursor, que mostra que é essencial seguir o Salvador, Cristo Senhor.

       3 – E continuando neste pendor, em preparação para celebrarmos o nascimento do Redentor, o desafio do Profeta Isaías: alegria, alegria! Não por qualquer passe de magia. Pelo contrário, é a vida, dada e oferecida, trabalhada e comprometida.
       A convocação para o júbilo estende-se e abarca toda a criação, o campo, o descampado e a terra árida. Dirige-se a todo o povo, também aos que estão fatigados e abatidos. O Senhor Deus "vem fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-nos". É um tempo novo, de graça e de salvação, para todo o povo. Anuncia-se o que se cumprirá com a chegada do Messias, cegos, coxos e mudos hão de ver, saltar e cantar com alegria. Regressão a Sião os cativos libertos e guiados pelo Senhor.
       A alegria firma-se na fé e na confiança em Deus. A Sua vinda está para breve. A Sua promessa é para concretizar. Ele volta-Se para nós, especialmente para aqueles que se predispõem a crescer, a amadurecer, que se querem protegidos, amados e redimidos.
       Na verdade "o Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos. O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores. O Senhor reina eternamente. O teu Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações".
       É a vida de Deus, que nos assume como filhos, desde sempre! A Sua vontade é a nossa felicidade, que passa pela solidariedade, partilhando a vida, as dificuldades e os sofrimentos, as esperanças e a alegrias. O sofrimento é inevitável. Se o "não" está certo, cabe-nos procurar o "sim" e lutar pela justiça, pelo verdade e pelo bem de todos. Preparamos a chegada do Salvador agindo ao Seu jeito, cuidando de quem está mais frágil, pois cada vez que tratarmos a ferida do outro é de Cristo que estamos a cuidar, como muitas vezes lembrava a Santa Teresa de Calcutá.
       4 – Vivemos uma época em tudo acelerada, no desenvolvimento científico e tecnológico, nos meios de comunicação, o que nos permite no mesmo instante estar e não estar, estar aqui e na outra parte do mundo, ou deslocar-nos com uma rapidez impensável há uma vintena de anos. Esta volatilidade passa para o pensamento e para os sentimentos. Pressa para tudo, mesmo que não tenhamos feito por isso. É um frenesim. Somos profetas da pressa e da novidade. Tudo rapidamente e tudo dispensável com a mesma brevidade. Temos direito a tudo e no mais breve espaço de tempo, mesmo que tenhamos queimar etapas ou passar por cima dos outros. Andamos apressados. Melhor, corremos sem nos fixarmos em nada. Quando alguém fala mais lentamente, ficamos nervosos porque queríamos que se despachasse. Temos mais que fazer. Só estamos bem onde não estamos. Disponíveis, mas logo mortos por partir. Por vezes partimos antes de chegar. Stresse e ansiedade são o pão nosso de cada dia. Adultos e quantas vezes agimos infantilmente: ou temos ou nos dão, ou fazemos birra!
       A alegria sustentada na fé e na confiança em Deus não nos torna incólumes ao sofrimento, ao esforço e ao sacrifício. A alegria dá-nos o ânimo (alma) para continuar, persistir, porque Aquele que nos criou está mais à frente, à nossa espera, à espera de nos levar ao colo se formos a cair. A certeza que Deus nos ama como Pai e nos sustenta no Seu regaço com amor de Mãe não nos apressa, não nos precipita, pelo contrário, fortalece-nos para caminharmos no frio e no calor, na tempestade e no zénite. "O Senhor é a minha força, n'Ele eu confio e nada temo" (cântico de Taizé).
       Escutemos as sábias e inspiradas palavras de São Tiago: "Esperai com paciência a vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia. Sede pacientes, vós também, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns dos outros, a fim de não serdes julgados. Eis que o Juiz está à porta. Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor".
       São palavras que nos desafiam e nos serenam. Desafiam-nos à paciência fundada no amor e na fé. Antecipamos a vinda do Senhor com a paciência e com a benevolência para com os outros, para que o juízo de Deus que vem nos seja favorável.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (A): Is 35,1-6a.10; Sl 45 (46); Tg 5,7-10; Mt 11,2-11.

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