O Profeta de Elias, depois de matar os profetas idólatras, é avisado pelo Rei Acaz que o mesmo lhe sucederá. Elias sai da cidade e caminha pelo deserto. Já esgotado, pede ao Senhor que lhe tire a vida. O anjo do Senhor aparece-lhe por duas vezes e ordena-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer». Elias faz como o Senhor lhe ordena e dirige-se para o monte Horeb. Aí passa a noite. O Senhor faz saber a Elias que vai passar… «Passou um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna» (1 Reis 19, 1- 14).
Deus nem sempre é evidente. Em questões de fé nem tudo é branco e preto. Um crente passa por momentos de treva, de dúvida e hesitação. Um “ateu” pode estar perto de Deus, em busca, a percorrer um caminho de aproximação.
É, em meu entender, uma das linhas condutoras do texto de Tomáš Halík, Paciência com Deus, procurando fazer pontes, prevenir juízos precipitados, para não encerrar o próprio Deus em ideias preconcebidas e limitando a Sua ação.
Deus poderá não ser tão evidente como por vezes se faz crer. Por um lado, em Jesus Cristo, Deus manifesta-Se em plenitude, revela o Seu rosto. Mas não Se deixa aprisionar por uma pessoa ou por uma instituição ou por uma religião. Quem se convence que possui Deus está perto de blasfemar, pois Deus é e continuará a ser Mistério.
Por outro lado, segundo o teólogo checo, o caminho da fé não é linear. A busca honesta e decidida tem avanços e recuos. Deus nem sempre está onde O queremos, pode estar onde não pensamos. Elias é surpreendido. Deus não está na tempestade mas na brisa suave, onde quase não Se percebe.
Santa Teresinha, no momento de especial sofrimento vive a “noite da fé”, contudo, não diminui o amor que permanece até à eternidade. Em Nietzsche, na proclamação da morte de Deus, segundo o autor, também se intui o silêncio dos crentes que deixaram que Deus fosse morto sem protestarem, sem reivindicarem a Sua vida e a Sua presença… Mais perigoso que um ateu convicto é um crente apático!
publicado na Voz de Lamego, n.º 4398, de 7 de fevereiro de 2017
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