Vivia na cidade de Veneza um homem muito rico. Sua grande fortuna lhe permitia uma vida de luxo e comodidades, mas ele estava entristecido, sem poder desfrutar nada, pois todos os seus filhos morriam.
Tinha o coração triste, e nada o podia consolar. Com satisfação trocaria todas as suas riquezas pelos filhos, embora ficasse na miséria, mas com eles.
Um único filho pequeno lhe restava. Amedrontado com a idéia de perder também aquele, confiou-o ao abade de um mosteiro, convencido de que só a intervenção divina poderia conservar-lhe a vida.
O menino cresceu no mosteiro, em meio à dedicação de todos os monges, que gostavam dele e o atendiam. Sempre alegre, percorria os claustros ou brincava nos jardins, onde admirava as flores ou comia os frutos que colhia. Ele era o único menino ali.
Um dia, enquanto tomava sua merenda, entrou pela primeira vez na igreja, impressionando-se com a suntuosidade. Ficou admirando com grande curiosidade a imagem da Virgem, que tinha nos braços o Menino Jesus, e alegrou-se por encontrar ali outro menino como ele.
Parecendo-lhe que o menino devia também ter fome, sem ter o que comer, subiu ao altar e ofereceu sua merenda ao Menino Jesus.
Durante muitos dias continuou levando o seu pão, do qual separava a melhor parte para dá-la ao Menino Jesus. Ao cabo de um mês, o Filho da Virgem lhe disse:
— Não comerei mais do teu pão, se não quiseres ir comer comigo e com meu Pai celestial.
O menino ficou muito preocupado com essas palavras, e sem saber o que fazer para ir comer com o Menino Jesus. Não havia dito nada aos monges, e resolveu contar ao abade o que tinha feito nos dias precedentes, e que o Menino da Virgem agora se recusava a comer, até que ele o acompanhasse ao Céu.
O abade pediu-lhe que o deixasse ir em sua companhia, quando fosse atender ao convite celestial, e que fizesse esse pedido ao Menino seu amigo.
Naquela mesma tarde reuniu todos os monges e pediu que escolhessem seu sucessor, porque deixaria o cargo. Todos estranharam aquela decisão e a lamentaram, pois ele desempenhava muito bem a função, e todos o amavam. Mas não se atreveram a perguntar-lhe a causa.
À noite todos se recolheram, como de costume, e ao clarear o dia o abade e o menino se sentiram doentes. A doença se agravou, o médico foi chamado e diagnosticou em ambos a mesma doença, que era grave.
No mesmo dia morreram, com um sorriso nos lábios e banhados numa luz celestial, declarando aos monges que atendiam ao chamado para o banquete divino.
(Fonte: V. Garcia de Diego, "Antología de Leyendas de la Literatura Universal - Labor, Madrid, 1953)
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