1 – No Evangelho deste Domingo, Jesus fala-nos de novo em parábolas:
- "O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e deu fruto, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio? Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’ ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’".
- "O reino dos Céus pode comparar-se a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as hortaliças e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos".
- "O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado".
2 – Num primeiro momento, tal como na parábola do Semeador que saiu a semear, do passado domingo, nota-se como a Palavra de Deus, qual semente, pequenina, às vezes quase imperceptível, como o grão de mostarda, ou como fermento invisível ao olhar e até ao paladar (quando muito pode notar-se a sua ausência), germina com eficácia, ainda que por vezes sobrevenha conjuntamente o mal, o joio, que pode abafar o trigo, a boa semente, tal como na vida em que muitas vezes o mal esconde todo o bem de uma pessoa, de um grupo, de uma instituição.
Veja-se o caso das notícias que passam nos meios de comunicação social: quase na totalidade, negativas. Se aparece uma positiva ou é relativizado, colocada no boletim informativo quase como um apêndice, ou já não provoca entusiasmo. No dia seguinte (se não for no mesmo dia), quando nos encontramos no café, na rua, nos nossos passeios e nos nossos encontros, de que é que falamos, daquela boa notícia? Talvez. Mas o mais certo e habitual é falarmos de mais um episódio negativo, da crise, da corrupção...
3 – Mas vejamos o significado que Jesus dá à parábola do trigo e do joio. Também agora Ele no-la explica: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Demónio. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão-de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai".
Tal como na parábola da semana passada, também acerca desta não é descabido pensar que o trigo e o joio crescem juntos nas mesmas pessoas. Imediatamente, os bons são o trigo e os maus o joio. Mas, reflectindo um pouco mais, vemos como em cada um de nós cresce simultaneamente o trigo e o joio, ainda que por vezes se destaque um dos elementos. Há pessoas que produzem trigo em abundância. Há pessoas que deixam que o joio abafe e destrua a boa semente que trazem em si.
4 – Olhando ainda para esta parábola, podemos aferir como a paciência de Deus é infinita. Ele não julga no início ou quando surgem as primeiras dificuldades ou os primeiros erros, espera, cuida, ama, perdoa, respeita a nossa liberdade e as nossas escolhas, deixam-nos tentar, deixa-nos errar, mas impele-los para Si, sempre, pacientemente, até ao fim, até que o bem possa abafar o mal.
Também nas palavras da Sabedoria e do Salmo encontramos esta certeza:
- "Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento".
- "Senhor, sois um Deus bondoso e compassivo, paciente e cheio de misericórdia e fidelidade. Voltai para mim os vossos olhos e tende piedade de mim".
5 – Neste entretanto, enquanto cresce o trigo e o joio, conjuntamente, nós temos a ajuda do Senhor, da Sua Palavra, dos Seus Sacramentos, do Espírito Santo. Como o Apóstolo também nós estamos cientes que "o Espírito Santo vem em auxilio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, sabe que Ele intercede pelos santos em conformidade com Deus".
Se o Espírito Santo nos habita, tudo se torna mais fácil, basta-nos acreditar, basta-nos deixar que a nossa vontade se transfigure e se vá identificar com a vontade de Deus, para que o joio que possa haver em nós perca força diante da boa semente que cresce, amadurece e dá fruto.
Textos para a Eucaristia (ano A):
Sab 12,13.16-19; Sl 85 (86); Rom 8,26-27; Mt 13,24-43.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.
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