sábado, 19 de janeiro de 2013

II Domingo do Tempo Comum - ano C - 20 de janeiro

SOLENIDADE DE SÃO SEBASTIÃO,

PADROEIRO DA DIOCESE DE LAMEGO


       1 – Com o Batismo de Jesus, no último domingo, iniciámos o TEMPO COMUM, que será interrompido com a Quaresma e Tempo Pascal, e nos levará até o próximo ano litúrgico que sempre inicia com o Advento. É comum ou ordinário, mas não é um tempo vazio ou secundário, é uma oportunidade para o cristão “contemplar de perto, episódio após episódio, toda a vida histórica do seu Senhor, desde o Batismo no Jordão até à Cruz e à Glória da Ressurreição” (D. António Couto).
       Depois do Batismo, a liturgia da palavra apresenta-nos Jesus nas Bodas de Canaã, na vida comum, no quotidiano das pessoas e das famílias. Assim O veremos em momentos de festa, de alegria e nos momentos de tristeza e luto. Jesus não está acima ou à margem. Está no meio, no centro da vida humana. Vai às margens para trazer para a luz, para a vida, para a felicidade aqueles que se perderam ou estão em vias disso.
       Como membro da comunidade, e certamente da família, também vai à festa. Estão todos. Sua Mãe. Os discípulos. São José já teria morrido, por isso não está presente. Onde pulsa a vida, Jesus diz presente. E a Sua presença passa a ser notada, ainda que de forma discreta, mas eficiente.
       O quadro que nos é apresentado por São João é revelador. Vejamos o texto.
       2 – “A certa altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Não têm vinho». Jesus respondeu-Lhe: «Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora». Sua Mãe disse aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser». Havia ali seis talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, levando cada uma de duas a três medidas. Disse-lhes Jesus: «Enchei essas talhas de água». Eles encheram-nas até acima. Depois disse-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa». E eles levaram. Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho, – ele não sabia de onde viera, pois só os serventes, que tinham tirado a água, sabiam – chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho bom e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste o vinho bom até agora».
       Antes de mais a delicadeza de Maria, Mãe de Jesus. Atenta. Discreta. Interventiva. Recorre a Quem deve recorrer. Confiante, cheia de graça e de fé. Intercede. E não duvida de Jesus, ainda que o Filho a chame a atenção. E dá uma ordem clara – fazei tudo o que Ele vos disser. Também é para nós esta recomendação, sabendo que se fizermos o que Ele nos disser, entramos no Seu caminho de salvação e vida nova.
       Jesus faz a Sua parte. Conta connosco. Mais uma experiência para a qual os discípulos estão convocados. O milagre acontece quando damos o melhor de nós mesmos, o que temos, mesmo que seja uma bilha de água. Deus opera a salvação em nós, transforma-nos no mais saboroso e suculento vinho para a festa. Criou-nos sem nós, como diz Santo Agostinho, mas não nos salva sem nós, sem a nossa resposta.
       O bom vinho chega com Jesus Cristo. Definitivamente está na nossa vida. Do nosso lado.
       3 – O profeta Isaías intui, de forma sublime, a vinda do Messias de Deus, que ora vemos concretizado em Jesus Cristo. Com Ele chegará o tempo de graça e salvação, será restabelecida toda a justiça.
“Os povos hão de ver a tua justiça e todos os reis a tua glória. Receberás um nome novo, que a boca do Senhor designará... Não mais te chamarão «Abandonada», nem à tua terra «Deserta», mas hão de chamar-te «Predileta» e à tua terra «Desposada», porque serás a predileta do Senhor e a tua terra terá um esposo. Tal como o jovem desposa uma virgem, o teu Construtor te desposará; e como a esposa é a alegria do marido, tu serás a alegria do teu Deus”.
       Os que são envolvidos por esta LUZ, nova e bela, tornar-se-ão anunciadores, testemunhas, gritando a salvação, transparecendo em Si mesmos a graça que acolhem de Deus, como se reza no salmo: “Anunciai dia a dia a sua salvação, publicai entre as nações a sua glória, em todos os povos as suas maravilhas”.
       4 – Cumpre-nos acolher a salvação de Deus, pela fé que professamos, pela esperança que anunciamos, pela caridade que nos aproxima dos outros para neles encontrar a PRESENÇA de Deus. Somos diferentes, é certo, na idade, no tempo, nas qualidades, e nas limitações, no temperamento, no lugar em que nos encontramos, mas o compromisso com Jesus é para todos. Batizados na mesma fé, no mesmo Espírito Santo, com a nossa vida havemos de levar Jesus mais longe, ao coração de cada pessoa que encontramos, nas mais diversas situações e circunstâncias.
       Belíssima mensagem do apóstolo, salientando como os dons são concedidos a uns mas a favor de todos:
“Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum... é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto, distribuindo os dons a cada um conforme Lhe agrada”.
       5 – Celebrámos, na nossa Diocese de Lamego, a solenidade do Padroeiro principal, mártir São Sebastião, o bom soldado de Cristo. O patrono escolhido deverá ser uma referência que inspire a viver o Evangelho na identificação com Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
       A vida de São Sebastião, naquilo que a tradição assimilou e transmitiu, é um exemplo como a fé ajuda a ultrapassar os obstáculos da vida e como o cristão se pode santificar nas mais diversas profissões e/ou ocupações. Mais forte que tudo, é o amor a Deus. Sebastião seria soldado romano, vinculado à guarda pretoriano do grande perseguidor da Igreja, Diocleciano, responsável por demasiados martírios de cristãos. De Milão, o jovem soldado deslocou-se para Roma, onde a perseguição era mais intensa e feroz, para testemunhar a fé e defender os cristãos.
       Primeiro cai nas graças do imperador, logo a defesa da fé cristã e a intercessão pelos cristãos perseguidos desencadeiam a sua morte, que seria com setas, estando preso a uma árvore. É deixado como morto. Entretanto uma jovem, de nome Irene (santa Irene?) passou e verificou que ainda estava vivo. Levou-o para casa e curou-lhe as feridas. Antes de estar completamente restabelecido voltou junto do imperador para defender os cristãos, condenando-lhe a impiedade e injustiça. Desta feita, foi morto através de vergastadas. É um segundo martírio. Sepultado nas catacumbas, na via Ápia, logo começou a ser venerado como santo.
       Testemunhou a fé, com coragem e alegria, a partir da sua vida, como jovem soldado, cristão. Daqui se conclui que a santidade é possível em qualquer trabalho, em qualquer vocação, em qualquer compromisso humano.


Textos para a Eucaristia (ano C): Is 62, 1-5; Sl 95 (96); 1 Cor 12, 4-11; Jo 2, 1-11.

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