sábado, 6 de abril de 2013

Domindo II de Páscoa - ano C - 7 de abril de 2013

       1 – «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão de acontecer depois destas».
       Revelador o texto do Apocalipse (= Revelação). Aparições (Visões) do Ressuscitado, trazem-nos o Céu, a certeza que Deus não nos larga à nossa sorte. As palavras de Jesus durante a Sua peregrinação humana são DITAS de novo: não temais, Eu venci o mundo, Eu Sou o Senhor da Vida e da Morte. Nada vos pode separar do amor de Deus, nem a espada, nem a potestade, nem a vida nem a morte. Basta querer. Basta acolher Aquele que vem de Deus.
       Ressuscitado, Jesus apresenta-Se com o mesmo ROSTO (mais luminoso), a mesma PRESENÇA, a mesma PALAVRA redentora. Somos testemunhas destas coisas, então demos testemunho do que experimentamos, a ALEGRIA de sermos filhos bem-amados de Deus, a paz de sabermos que Deus nos habita. Jesus vive e está no meio de nós.
       O autor do Apocalipse e do Evangelho, São João, percebe a tarefa de colocar por escrito o que viu, ouviu, o que viveu junto de Jesus, o que lhe foi revelado e, por conseguinte, coloca por escrito para que outros tenham acesso a Jesus e à Sua Mensagem. As palavras são instrumento da REVELAÇÃO. São palavras humanas a servirem a COMUNICAÇÃO de Deus, e por isso são também Palavra de Deus, palavra de salvação. Não podemos calar o que vimos e ouvimos. Não posso deixar de evangelizar, de levar o mais longe possível a BOA NOTÍCIA. Deus veio até nós, para nos reunir, para nos remir, para construir connosco novos céus e nova terra, para que todas as coisas sejam novas, sob a luz da ressurreição.
       Escrevamos também nós. Façamos com que as nossas palavras e a nossa vida sejam um livro aberto, pintado com a postura de Jesus, escrito com o SONHO de cavar em todos os corações AMOR e PERDÃO.
 
       2 – Os primeiros discípulos (que presenciam a peregrinação terrena de Jesus e a sua visitação gloriosa) e nós, os últimos discípulos de Cristo, os discípulos deste tempo e para este mundo, somos RESPONSÁVEIS por tornar habitável esta terra. Teremos que contagiar. Mostrar que JESUS ressuscitou há dois mil anos mas que também ressuscitou na minha, na tua, na nossa vida, nos dias que passam. Ele continua a encontrar-Se no nosso caminho, por vezes silenciosamente, escondido nas lágrimas e nos sorrisos das pessoas que estão ao nosso lado, nas crianças ou nos idosos, nos jovens sonhadores ou nos adultos desencantados, como naquela manhã de Páscoa e naquela tarde, o primeiro dia da NOVA CRIAÇÃO.
“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
       Com a Ressurreição chega Jesus e com Ele a Paz e o Envio. Os discípulos não vão sozinhos. Nós não vamos isoladamente. Vamos como irmãos. Levamos as MARCAS de Jesus. Guia-nos o Seu Espírito de Amor. Ele vive. Não temamos. Ressuscitou e com Ele vêm as marcas da crucifixão, melhor, os sinais do Seu amor por nós. São as mesmas mãos que se abriram para abraçar, para perdoar, para acolher, para apoiar, para levantar. É o mesmo lado que nos anima, o lado do CORAÇÃO. O amor que o levou à Cruz é o mesmo que no-lo devolve VIVO.
        3 – Dizia o então Cardeal Ratzinger, papa emérito Bento XVI, respondendo a uma questão, que a Igreja tem tantos caminhos quantas as pessoas, pois cada pessoa faz o seu caminho, ainda que na aproximação ao CAMINHO que é Cristo Jesus. Ao olharmos para o colorido dos apóstolos que compõem o grupo de seguidores vemos como todos eles acolhem Jesus de maneira diferente, mas todos experimentam a dúvida sinalizada hoje em Tomé:
“Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão na seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome”.
       Tomé, chamado Gémeo (veja-se texto de D. António: AQUI), precisa de provas. Ele não está no primeiro dia da semana. Mais um que se deixou prender pelo medo. Ele não estava com a comunidade e por conseguinte precisa de se incluir DENTRO, para que Jesus possa apresentar-Se no MEIO deles. Só estando com eles O podemos ver. Fora, à margem, contra os outros, não podemos ver Jesus. Tomé é irmão gémeo. Somos como ele. Nos silêncios de Deus aguardamos por clarividências, por provas. Quantas vezes Deus está sorrateiramente no MEIO de nós e nem nos apercebemos, tão grandes sãos as nossas feridas, tão amargas são as nossas lágrimas. O medo deu lugar à alegria, as portas fechadas são escancaradas pela PRESENÇA do Senhor. Mas é preciso deixar que Ele esteja no MEIO de nós. Só assim nos reconhecemos como seus discípulos, como irmãos. A dúvida de Tomé é igual à minha e à tua dúvida. Quando estamos mais sós assola-nos o medo e a treva e a noite.
       Mas duvidar não é pecar. O ser humano é um ser que se inquieta e se questiona. A dúvida abre o nosso coração e a nossa mente às SURPRESAS que vêm dos outros, que vêm de Deus. Quando deixarmos de perguntar ou nos tornamos deuses ou demónios, ou temo-nos como auto suficientes, ou como incapazes de Deus. Sem dúvida, sem perguntas, caímos no cinismo que nos pesa e aniquila. Que o nosso irmão Gémeo nos leve à contemplação de Jesus e à sábia profissão de fé: “Meu Senhor e Meu Deus”.
 
       4 – O medo paralisante junto à Cruz dá lugar à alegria contagiante junto do Ressuscitado. Porém, não é um comprazimento pessoal, egoísta. A alegria, a festa, só têm sentido se vividas com os outros, partilhadas. Quando a vida nos sorri saímos fora de nós, por vezes aluamos, saltamos, cantamos, tornámos audível a nossa alegria.
       O encontro com Jesus Ressuscitado compromete-nos com o anúncio do Evangelho, visualizando em nossas palavras e nos nossos gestos que Jesus vive em nós. A Igreja dos primeiros dias dá lugar à Igreja contemporânea de cada pessoa, atraindo todos para os últimos tempos, para a plenitude.
“Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão; nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os. Cada vez mais gente aderia ao Senhor pela fé, uma multidão de homens e mulheres, de tal maneira que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros e todos eram curados”.
       A alegria da nossa fé há de transformar-nos e transbordar para os outros, para que outros se sintam desafiados a viver a fé, a viver ao jeito de Jesus.

Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 5,12-16; Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31

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