sábado, 21 de setembro de 2013

XXV Domingo do Tempo Comum - ano C - 22 de setembro

       1 – «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro... Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro». As palavras de Jesus são inequívocas. Tentámos explicar, enquadrar, justificar, colocar a prioridade, Deus ou o dinheiro. Um e outro? Jesus diz de forma lapidar: Deus ou o dinheiro. Só um pode ser o meu, o teu, o nosso Senhor, o nosso Amor único e maior.
       Diz-me qual é o teu senhor e dir-te-ei quem és!
       Os bens materiais são necessários e desvalorizá-los pode muito bem ser uma desculpa para justificar a pobreza material, a miséria de milhares de pessoas. Menosprezar o dinheiro não ajuda a resolver os problemas do mundo e das pessoas, das famílias e dos povos. Faz-se, por isso, a distinção entre pobreza, como uma atitude face aos bens materiais, e miséria, com pessoas e famílias a viver em condições verdadeiramente indignas.
       Diz-me quem é o teu senhor, quem concentra as tuas preocupações, quem preenche o teu coração, e dir-te-ei quem és. Qual a minha postura diante do dinheiro, dos bens materiais? Quais os objetivos da minha vida? O que mais prezo, o que tenho, a minha carteira recheada, ou quem tenho à minha volta, a família e os amigos?
       2 – Jesus conta mais uma parábola. Um homem rico tem um administrador que desperdiça os seus bens. Pede-lhe contas. Sabendo que será despedido, o administrador usa de novo a sua esperteza saloia para se sair bem. Perdoa/anula parte da dívida aos devedores do seu senhor. Detetada a jogada, aquele senhor, e com ele Jesus, elogia tamanha astúcia: “de facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes”. A riqueza pode, como se vê, facilitar a amizade.
       “O homem ultrapassa infinitamente o homem”. A bela e forte expressão de Blaise Pascal aponta para o Infinito, para a eternidade, para Deus, para tudo aquilo que transcende o nosso corpo, o mundo, a história, e que nos projeta para Alguém que está acima e para além de nós, num desejo, muito humano, de se superar a si mesmo, nas diversas dimensões da vida. Podemos concluir que a ambição não é estranha à pessoa. Pelo contrário, este desejo está inscrito no coração. Melhorar as condições de vida significa cooperar com a obra criadora de Deus.
       Uma pessoa sem ambição seria uma pessoa resignada, indiferente, cínica, sem esperança, incapaz de mudar e se converter, de corrigir os aspetos negativos da sua vida, insensível aos outros e fechada ao futuro. A ambição é outro nome do aperfeiçoamento. Sede perfeitos como o Vosso Pai celeste é perfeito, sede santos como o Vosso Pai do Céu é santo. A primeira ambição do crente há de ser a ambição da santidade, procurando transparecer a benevolência de Deus.

       3 – A ambição desmedida, ligada ao ter e não ao ser, torna-se pecado que destrói o próprio e todos aqueles que estão à volta. Multiplicar, quadruplicar o que se tem. Os bens materiais nunca satisfazem os vazios da vida, os desertos interiores, por mais que se tenha ou se queira ter. A ganância descontrolada conduz à corrupção, ao tráfico de influências, abuso de poder, prepotência, chantagem, cria assassinos, guerras, violências, abre o coração ao diabólico, insidia as relações mais autênticas, facilita divórcios, desagrega famílias, sobretudo em partilhas, fomenta invejas e discórdias.
       Pobres ou ricos, é preciso muito cuidado para não deixarmos que o nosso tesouro seja o dinheiro ou os bens materiais. Quando se coloca o dinheiro em primeiro lugar, o trabalho, o que gera riqueza, rapidamente o coração pára, esvaziando-se daquilo que lhe dá vida. Excessiva preocupação pelo trabalho, pelo que tem que se fazer para fazer dinheiro, e logo falta tempo e espaço para a família, para o descanso, trabalha-se dia e noite, não há tempo para cuidar da saúde, falta tempo para a festa, para o lazer, para estar com os amigos, para brincar com os filhos, falta disposição para apaparicar a esposa ou prestar atenção ao marido, destrói-se o equilíbrio emocional, afetivo, o convívio. O dinheiro é sempre insuficiente…
       Ora o Evangelho inverte prioridades. Só Deus é digno de ser adorado/amado. Só Deus. Só Ele o tesouro na nossa vida. Há que colocar Deus em primeiro lugar. Se assim for, o primeiro lugar será para o nosso semelhante, fazendo que nos mereça todo o cuidado. “Onde Deus é tudo, há lugar para tudo e espaço para todos” (D. Manuel Clemente). Amar a Deus implica-nos no amor para com o próximo. Implica apostar no diálogo, no acolhimento, no respeito pelas diferenças, na promoção do bem comum, na partilha solidária, fazendo com que os bens materiais nos ajudem a aproximar-nos, oportunidade para facilitar a vida, a nossa e a dos outros. Quando a riqueza se torna um empecilho para vivermos com saúde e nos darmos bem com os outros, a começar pela família, talvez não fosse descabido restabelecer novas escolhas.
       Nem tudo é transacionável. Veja-se a parábola proposta no domingo passado. Aquele Pai tinha uma fortuna, mas só o bem dos filhos interessava. Distribuiu por eles todos os seus bens. E no final ainda gastou uma fortuna para fazer festa pelo regresso do filho.
       4 – A atenção aos valores do espírito não equivale a fechar os olhos à responsabilidade na administração de bens materiais. Não pode amar a Deus quem descuida a criação, que envolve a natureza, os animais, e sobretudo o ser humano, nas relações afetivas, profissionais, familiares.
       Veja-se a clareza de Jesus: «Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes; quem é injusto nas pequenas coisas, também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso?»
        A fidelidade a Jesus passa pela honestidade em relação aos bens materiais, em relação ao dinheiro. Mesmo em pequenas coisas. Quem não é honesto em pequenas coisas também o não será nas grandes. A desonestidade é anticristã. Esta honestidade refere-se aos bens alheios mas também aos próprios bens. Mais que donos, somos administradores de bens materiais e de dons espirituais.
       O mesmo reparo já o tinha feito o profeta Amós: “Escutai bem, vós que espezinhais o pobre e quereis eliminar os humildes da terra. Vós dizeis: «Quando passará a lua nova, para podermos vender o nosso grão? Quando chegará o fim de sábado, para podermos abrir os celeiros de trigo? Faremos a medida mais pequena, aumentaremos o preço, arranjaremos balanças falsas. Compraremos os necessitados por dinheiro e os indigentes por um par de sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo».
        O Senhor nunca esquecerá as nossas obras. Comprar o pobre, alterar os pesos, aumentar injustamente o preço, impedir o acesso aos bens essenciais, é pecado que brada aos céus.

       5 – Seja nas pequenas ou nas grandes coisas, o cristão não pode ter outra atitude que não seja a honestidade, a justiça, o serviço, colocando Deus em primeiro lugar. Colocar a riqueza em primeiro lugar acabar-se-á por a afastar Deus e com Deus todos os irmãos.
       Com o Apóstolo, rezemos, por nós e pelos outros, e pelas autoridades que têm a responsabilidade e compromisso de bem gerir os bens públicos, na prossecução do bem comum e não dos interesses pessoais ou partidárias: “Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos”.

Textos para a Eucaristia (ano C): Am 8,4-7; 1 Tim 2,1-8; Lc 16,1-13.

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