sábado, 18 de junho de 2016

XII Domingo do Tempo Comum - ano C - 19 de junho

       1 – Seguir Jesus é a vocação primeira do cristão. Não para uma fase da vida ou para as situações favoráveis. É para toda a vida e em todo o tempo. Seguir Jesus com todas as forças e sem reservas! No decorrer do seguimento poderão surgir vocações específicas, em prol do bem da comunidade, mas o ponto de partida é o mesmo para todos: seguir Jesus.
       Ao longo da Sua vida pública, Jesus clarifica as condições do seguimento, pelas palavras, com a Sua postura, o Seu jeito de amar, de Se fazer próximo e de nos dar Deus, revelando-nos a Sua misericórdia infinita. Não guarda para Si alguma informação útil. Comunica com clareza e com amor. Não promete facilidades. Não adorna os tempos que estão para chegar. O discípulo não é maior que o Mestre! Se a Mim perseguem, também a vos hão de perseguir! Levar-vos-ão aos tribunais, injuriar-vos-ão e hão de matar-vos, pensando que fazem um favor a Deus. Não temais. Eu venci o mundo. Eu estarei convosco até ao fim dos tempos (cf. 15, 18-20; Jo 16, 1-13.33; Mt 28, 20).
       A atitude da mulher pecadora, que lava com as suas lágrimas os pés de Jesus, é um paradigma do discípulo. Vem, coloca-se por de trás, aos pés de Jesus. O discípulo não pode afastar-Se de Jesus, com o sério risco de se perder, desorientando-se. Por perto, para O escutar e para O imitar.
       2 – Jesus está em oração. Os discípulos estão por perto. Uma pausa para o descanso. Jesus aproveita para explicar melhor a Sua mensagem, para tirar dúvidas, para os questionar. Hoje coloca-lhes duas questões: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» e «E vós, quem dizeis que Eu sou?».
       Pode haver, também da nossa parte, uma certa curiosidade em saber o que dizem a nosso respeito, o que pensam de nós! Tornar-se-á doentio a partir do momento em que vivemos em função do que os outros possam pensar e não dos nossos princípios e ideais. Como seres humanos, a viver em sociedade, devemos ser o mais assertivos possível, isso implica também o cuidarmos de nós, do nosso corpo, da nossa higiene, do vestuário. Com conta, peso e medida! Não é o mesmo estarmos a ver um jogo de futebol ou a vivermos a Eucaristia; não é o mesmo estar na tasca ou na Igreja.
       À primeira pergunta, os discípulos respondem: «Uns, dizem que és João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». É uma resposta indiferente, uma informação. Os outros dizem... Ouvimos dizer... Diz-se por aí…
       Se soubéssemos tudo o que os outros dizem de nós e vivêssemos em função disso, procurando alterar ou confirmar o que se diz, tornar-nos-íamos psicóticos, doentes, uns fracassados!
       Para Jesus também não é muito importante o que se diz em abstrato a Seu respeito, sabendo que em alguns momentos é considerado ébrio, glutão, endemoninhado, blasfemo, ao ponto dos familiares estarem dispostos a retirá-lo do convívio público, levando-O para casa.
       Mais pessoal e comprometedora é a segunda questão, à qual, em nosso nome, responde Pedro: «És o Messias de Deus». É a nossa profissão de Fé. É a identidade de Jesus, o Messias (Cristo) de Deus. Não é um conhecimento imparcial. Implica-nos. Envolve a nossa fé e a nossa ligação a Jesus. Se acreditamos que Ele é o Messias de Deus, então teremos que agir em conformidade. Estamos dispostos a segui-l'O na adversidade e na bonança?
       3 – Imaginemo-nos no tempo dos Reis e das Princesas. Ouvimos falar no Rei, na presença de um enviado, de uma mensagem, ou na sua proximidade, e predispomo-nos a assumir uma postura e gestos que mostrem claramente o quanto respeitamos o rei ou os seus enviados.
       Se temos diante de nós o Rei do Universo, o Messias de Deus, por maioria de razão, havemos de adotar uma postura que mostre o quanto O amamos e, amando-O de todo o coração, o quanto queremos identificar-nos com Ele.
4 – Logo de seguida Jesus faz saber o que podem esperar aqueles que O seguirem. Se fosse político em campanha eleitoral talvez tivesse que disfarçar as dificuldades e valorizar as potencialidades e os projetos a realizar. Olhos nos olhos, diz aos seus discípulos: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia».
       No Evangelho de Marcos (8, 27-33), o primeiro a ser escrito, conserva-se a repreensão de Pedro a Jesus, e a reprimenda de Jesus a Pedro: «Vai-te da minha frente (passa para trás), Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens». A nuance da tradução sublinha que o discípulo vai atrás, decalcando as pegadas do Mestre. Mal quando o discípulo se coloca à frente, tapando a vista para o Mestre, mostrando-se em vez de mostrar e testemunhar o Mestre!
       O chamamento, como o seguimento, não é apenas para um grupo restrito, mas para todos. E é a todos que Jesus se dirige, dizendo ao que vem: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á».
       A vida só será plena e abundante no gastar-se a favor dos demais. Quem guarda tempo e dons para si, para o futuro, para ocasiões eventualmente mais favoráveis, não é discípulo de Jesus. O discípulo há de imitar Jesus, gastando-se em prol dos outros. Há mais alegria em dar do que em receber. Quem acumula para si, perde-se, porque se prende ao efémero, limitado e finito; quem se dá acumula tesouros para a eternidade. A vida é verdadeiramente minha quando a vivo na relação com os outros e com o mundo. A psicologia moderna lembra-nos que precisamos de gostar de nós para podermos gostar dos outros. O Papa Francisco tem sublinhado que gostarmos e servimos os outros nos ajuda a gostar de nós e a sentirmo-nos melhor connosco mesmos.
       Quem se centra demasiado em si mesmo, por mais qualidades que possua, acabará por se perder, se destruir e, fechando-se na sua concha, ficará humanamente raquítico, quando não paranóico, subserviente do aplauso constante dos outros como se fora o centro do Universo. A alegria do Evangelho liberta-nos do mofo para vivermos saudavelmente, caminhando com os outros.
       5 – A messianidade de Jesus revela-se na Paixão e na Ressurreição. É um único mistério, de entrega, de oblação, de amor, de serviço à humanidade. Muitas vezes, como os primeiros discípulos, quereríamos a vida de mão beijada. Aliás, hoje vivemos numa sociedade em que os filhos e os netos, muitos deles, não precisaram de se esforçar, bastou-lhes chorar, fazer birra, para terem tudo o que queriam. Desta forma não cresceram, ficaram sempre na infância da dependência absoluta e absurda. Pela vida fora continuam a parasitar, à espera que outros façam, outros resolvam. Mas então o sofrimento e as contrariedades virão de qualquer forma e não terão as defesas que deveriam ter produzido, com o esforço, o compromisso, a luta, o sacrifício, a capacidade de enfrentar obstáculos.
       O filho do Homem vai ser entregue às autoridades, vai ser morto. Três dias depois ressuscitará. A luz chega depois da treva, o dia depois da noite. Haver dentro de nós um rasgo de luz e de esperança permite-nos enfrentar a escuridão e as pedras. São Pedro sublinha que a fé há de passar pela provação como o ouro no crisol.
       O profeta Zacarias aponta para o Messias que há de vir, deixando antever um misto de pranto e de alegria. «Sobre a casa de David e os habitantes de Jerusalém derramarei um espírito de piedade e de súplica. Ao olhar para Mim, a quem trespassaram, lamentar-se-ão como se lamenta um filho único, chorarão como se chora o primogénito. Naquele dia, haverá grande pranto em Jerusalém… Naquele dia, jorrará uma nascente para a casa de David e para os habitantes de Jerusalém, a fim de lavar o pecado e a impureza».
       À luz do Evangelho, da vinda de Jesus, facilmente revemos nesta profecia o que viria a ser a vida e a missão de Jesus Cristo, o Messias de Deus. Aquele que foi trespassado tornou-se para nós um manancial de vida nova, de graça e de salvação.

       6 – Deus não faz aceção de pessoas (cf. Atos 10, 34). Todos chamados. Todos enviados. Todos abrangidos pela morte e ressurreição de Jesus. E neste concreto, diríamos que a salvação nos é dada, aqui sim, de mão beijada, cabe-nos depois responder SIM à DÁDIVA de Deus, acolhendo-O na nossa vida e deixando que nos encha da Sua graça e da Sua luz.
       O apóstolo São Paulo recorda-no-lo: "Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos vós, que fostes batizados em Cristo, fostes revestidos de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; todos vós sois um só em Cristo Jesus. Mas, se pertenceis a Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa".
       Pelo sacramento do Batismo, fomos configurados a Cristo, à Sua morte e ressurreição. Uma vez ressuscitados, pratiquemos as obras do dia e da luz, em tudo imitando o nosso Mestre e Senhor.


Pe. Manuel Gonçalves



Textos para a Eucaristia (C): Zac 12, 10-11; 13,1; Sl 62 (63); Gal 3, 26-29; Lc 9, 18-24.

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