sábado, 26 de fevereiro de 2011

VIII Domingo do Tempo Comum - 27/fevereiro

       1 - Do alto da Montanha continuamos a escutar a voz de Jesus, cujas palavras são uma provocação permanente ao nosso comodismo e às nossas seguranças muito humanas e muito materiais, pondo, ao invés, claramente, o acento tónico na vivência da caridade sem fim, ao jeito do Mestre, dando a vida, em cada gesto, em cada palavra, em cada silêncio, em cada olhar, dando a vida pelo outro, e numa confiança total em Deus e na Sua providência. Ele providenciará para que nada de verdadeiramente importante falte à nossa vida, para nossa felicidade e dos outros.
       Neste tempo que atravessamos, confiamos cada vez mais em nós, nas capacidades humanas, na ciência e na técnica, nas finanças, e confiamos cada vez menos em Deus, no futuro, na Providência divina. Queremos tudo certinho e a abertura ao futuro e a novas realidades assusta-nos de sobremaneira.
       É possível conjugar a graça e benevolência de Deus, com o nosso compromisso cristão.

       2 - "Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo".
       A confiança é crucial para a sobrevivência humana. Tudo radica e parte da confiança. Confiamos nos nossos pais e no saber que nos transmitiram, na escola, na Igreja, nas diversas ciências que preenchem o panorama da nossa civilização. Com efeito, até um cientista tem, obrigatoriamente, de confiar nos outros e no conhecimento que lhe chega por terceiros; de contrário teria que testar, do início, todas as variáveis. Desse modo, não haveria progressos e a sociedade da tecnologia e da informação ficaria bloqueada nas desconfianças e na experiência própria.
       Assim a nossa relação com os outros e também assim a nossa relação com Deus.
       Jesus interpela-nos com a prioridade: primeiro Deus, o Reino dos Céus e a Sua justiça. Só Ele garante a nossa vida, aqui e no tempo futuro. Quando a nossa confiança primeira é nos bens materiais, nos projectos humanos, em determinada pessoa, o nosso futuro não está garantido, nem a nossa vida. Veja-se, por exemplo, em tempo de crise, quantas pessoas e famílias tinham as finanças equilibradas e hoje vivem na agonia de ficarem sem nada! E tanto trabalho, tanto sacrifício, tantas canseiras!
       A confiança em Deus e na Sua providência há-de ser, para todo o crente, um projecto de vida. Só a Ele devemos servir, para n’Ele nos encontrarmos com os outros… e viver hoje… o amanhã é de Deus!

       3 - "Disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Por isso vos digo: Não vos preocupeis, quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou de beber, nem, quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário?»"
       Andamos tão atarefados em resolver a nossa vida, a conquistar o mundo, a assegurar o nosso futuro e dos nossos descendentes que por vezes nos esquecemos de viver, de apreciar o sol e a chuva, o vento na cara e a brisa pela tarde, e sobretudo, o que é mais preocupante, esquecemo-nos daqueles que amamos, daqueles que deveríamos proteger, daqueles que deveríamos acarinhar, esquecemo-nos do descanso e da festa, da alegria e da partilha em família e em comunidade.
       Assenta-nos que nem uma luva a palavra de Jesus: "não vos inquieteis com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã tratará das suas inquietações. A cada dia basta o seu cuidado".
       Não se trata de viver desgraçando a vida, e o fruto do nosso trabalho, pelo contrário, trata-se de plenizar o nosso compromisso com os outros, de gastar a nossa energia e o nosso tempo a favor dos outros. O futuro é hoje! Amanhã é com Deus, só com Ele.

       4 - Destarte, a nossa confiança em Deus não é em vão, como nos assegura a Palavra de Deus na primeira leitura: "Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim». Poderá a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do filho das suas entranhas? Mas ainda que ela se esqueça, Eu não te esquecerei".
       Ainda que os mais íntimos se esqueçam de mim, Deus não me abandona.
       Deus ama-nos com amor de Pai e de Mãe; amar-nos faz parte da Sua essência divina. Criou-nos transbordando de AMOR e ama infinitamente a obra por Ele criada. Por isso nos dá Jesus.
       Não desanimemos nem nos precipitemos. Ele vem. E quando vier desvendará os nossos corações, como nos diz São Paulo: "Portanto, não façais qualquer juízo antes do tempo, até que venha o Senhor, que há-de iluminar o que está oculto nas trevas e manifestar os desígnios dos corações. E então cada um receberá da parte de Deus o louvor que merece".
       A certeza da Sua vinda, da Sua presença entre nós, é uma interpelação constante. Vivamos hoje! Aqui e agora, com as pessoas da nossa casa, da nossa rua, do nosso bairro, da nossa terra. Vivamos hoje, façamos render os talentos que Deus nos dá e sabendo que o futuro a Deus pertence. Ele dá-nos o presente... para viver!
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Textos para a Eucaristia (ano A): Is 49, 14-15; 1 Cor 4, 1-5; Mt 6, 24-34

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