(Imagem do teto da Igreja paroquial de Tabuaço)
"Nove dias passados, nove dias vividos com Maria. A vida é uma viagem feita de pequenas etapas, feita de pequenos encontros e o encontro com as pessoas de quem gostamos é sempre o mais fortuito. Esta novena foi assim como uma pequena mas importantíssima etapa em que caminhamos com a mãe de Deus, com a nossa mãe. Maria chegou, apresentou-se e sem gritar, sem correr, sem exaltar-se, tocou-nos onde mais precisamos: no nosso coração tantas vezes ferido, desconcentrado e perdido!
Não foram dias a falar de histórias passadas, fábulas ou de sonhos vãos. Falar de Maria é falar da nossa própria vida, do concreto, do presente. Não aguardamos ilusões; desejamos palavras reais. Não esperamos mentiras; queremos a autenticidade de gestos sentidos. Maria é o conjunto dos nossos dias, é o resumo das nossas lutas, vemos nela todos os esforços de uma vida. Ela é a procura de um sentido que se faz pessoa, exatamente como cada um de nós!
Um Anjo chega e anuncia-lhe o impensável. Ela não contava! Sente-se pequena, diz que sim, mas ainda lhe resta na cabeça um pouco daquela dúvida de que tudo não passa de um sonho... "Porquê eu?" É a pergunta que nos assalta em tantos momentos. A resposta deve ser como a desta mulher: continuar em frente! O anúncio de Deus não é para esconder, a mensagem é para espalhar! A Boa Nova é para ser dita, proclamada aos outros. Maria fê-lo de forma exemplar ao caminhar em direção aos famintos de Esperança. Dirige-se à casa dos seus primos, a uma Isabel que está grávida como ela. De repente todos parecem estar de "esperanças". Também nós devemos ficar "grávidos" de Deus, ele que se quer fixar em nós. Homens e mulheres "grávidos" de amor!
Deus vem então para se estabelecer em nós como um novo inquilino. Estabeleceremos um contrato com Ele que pagará com a vida, não em prestações mensais! É a totalidade que nos oferece, nunca remendos ou partes do que quer que seja. Ele vem habitar um mundo desconhecido, este mundo que somos nós! Chega, entra, instala-se em nós! Não quer sair mais: não adianta rescindir o contrato ou despejá-Lo... Ele veio para ficar.
No meio de tudo isto encontrámos um José baralhado. A mulher prometida prometeu igualmente a "Outro". Olha desconcertado para o à vontade daquela mulher: passeia a sua "infidelidade" com alegria. A bondade de um homem mede-se por aquilo que está disposto a assumir mesmo quando a inocência o justifica. Decide retirar-se! Todavia, uma segunda Anunciação: Maria é fiel, a Deus, a José, à Humanidade. O filho também é dele, é de todos nós. A paternidade que o Menino vem instaurar não é de sangue, mas de afinidade, afetos, de Amor.
Novamente juntos, como todos devemos estar, Maria e José apresentam-nos o seu filho! Muitas vezes estamos tão "aéreos" que Deus passeia em nós e não damos conta. Somos a sua Jerusalém onde Deus Se quer perder. Somos a Sua cidade repleta de ruas, avenidas, casas que Jesus quer percorrer, palmilhar centímetro a centímetro para tudo conhecer. Apenas temos de O acolher, abrir-Lhe as portas para que Ele se sinta em casa, em Sua casa.
Depois de Deus se instalar começa então a festa, o casamento, as Bodas de Caná. Alegria pura. Porém, mesmo no meio de tanta felicidade, esta vida que é dom torna-se tantas vezes um mar de sacrifício com as suas dores, doenças e azares. Uma festa interrompida invariavelmente na melhor parte. Nestes momentos Deus resgata-nos: somos as suas talhas onde Ele quer operar o milagre do esbanjamento. A mudança ocorre no interior. Uma mudança de esperança: tudo ficará bem! Acreditemos!
Junto à cruz Maria/nós provaremos o derradeiro teste. As nossas limitações, as nossas impotências perante o correr do mundo só tem comparação no mistério da morte, das nossas mortes, dos espinhos com que finitude nos vai magoando. Mas a morte só tem sentido porque é "vivida"! Até ela tem Vida, uma alma de que Cristo a investiu no momento decisivo: tudo acaba em Ressurreição, tudo ressurge numa casa eterna que é o coração deste Pai que tanto nos Ama!
Nossa Senhora da Conceição nos ilumine e nos leve como um pequeno barco, no qual somos convidados a embarcar numa viagem que mudará as nossas vidas!!!
Pe. Ricardo Jorge Barroco
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