segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus - 1 de janeiro

       1 – “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus”.
       Com a vinda de Jesus, cujo nascimento celebramos, chegou até nós o próprio Deus, em Pessoa, a eternidade no tempo, o Infinito no finito. Em Jesus, Deus feito Homem, tornamo-nos, com Ele, filhos e herdeiros da eternidade, da graça divina.
       Oito dias de celebração do Natal como se fora um só DIA para acentuarmos a importância deste nascimento, a plenitude dos tempos, desta PRESENÇA entre nós, para percebemos melhor a grandeza deste mistério, no qual somos incluídos.
       A liturgia propõe-nos, no primeiro dia do NOVO ANO, a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, coincidindo, desde 1968, por iniciativa do Papa Paulo VI, com o Dia Mundial da Paz.
       O quadro é o mesmo. A proximidade de Maria no presépio conduz-nos Àquele que nos traz a verdadeira Paz. Nós queremos estar bem perto do Presépio, sob a LUZ que Maria nos dá.
       2 – “Os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno”.
       A narração lucana mostra-nos o encontro dos pastores com Maria, José e o Menino Jesus, a alegria por estarem na presença do Messias, do Salvador anunciado e desejado por todo o povo. Estão deslumbrados, contando rapidamente o que os Anjos lhes disseram, para que nenhuma palavra fique esquecida!
       A descoberta de Deus naquele Menino não é uma conquista do poder, da inteligência ou de capacidades extraordinárias, como bem se vê na narração evangélica, é uma graça de Deus, concedida segundo a Sua liberalidade, aos pobres, a todos aqueles e aquelas que têm uma coração disponível para se deixar surpreender.
       Só um coração vazio de si mesmo, pode abrir-se ao mistério, aos outros, a Deus, e acolher Aquele que vem do alto, perceber como o mistério de Deus pode preencher de Luz os seus corações.
       3 – Os pastores estão cheios de vida, de esperança. Estão vazios das preocupações palacianas e das disputas do poder. Fazem companhia uns aos outros, ajudam-se, animam-se, protegem-se, vivem em função das mulheres e dos filhos, enfrentam as dificuldades para sustentar a família. Dependem uns dos outros e das condições do tempo e da terra. Estão habituados a procurar as melhores pastagens, mas também a ler os sinais vindos do céu. Não são magos, mas vivem de mãos dadas com os céus e com a terra, com o tempo.
       A tradição bíblica profetiza a vinda do Messias como pastor para o meio do povo, apascentar o rebanho. O próprio Deus é o Pastor de Israel. Diante de Jesus, são pastores diante do Pastor, por excelência. Eles juntam os seus rebanhos; o Deus Menino apascentará a humanidade inteira como um só rebanho. Saliente-se de novo a estreita ligação ao projeto da paz, ajuntar, família, rebanho, para que todos se sintam e sejam filhos, e irmãos, e herdeiros da graça de Deus.
       Maria e José ficam maravilhados com tudo o que é dito do Seu filho pelos pastores. Silenciosos, ficam a meditar nas palavras dos pastores. Não entendem muito bem, mas guardam no coração. Que mãe não ficaria extremamente agradecida e babada quando falam bem do filho. Maria sabe que o Filho não é Seu (exclusivamente) e que não O poderá reter junto de Si. Mas vai colocá-lo em primeiro lugar, como sempre fazem os pais. Como os pastores vivem para a família, Maria viverá para amar Jesus, para O educar, para Lhe dar as ferramentas para ser feliz e responsável. Viverá, a partir da Cruz, para os seus filhos, para a humanidade inteira. A Mãe de Deus tornar-se-á Mãe da Igreja, Mãe nossa.
       Viver colocando os outros em primeiro lugar não força um vazio interior, pelo contrário, é uma razão maior, Esperança que não desaparece, Luz que não se apaga. Voltemos às palavras de Bento XVI na noite de Natal, “se a luz de Deus se apaga, apaga-se também a dignidade divina do homem. Então deixamos de ser, todos, irmãos e irmãs, filhos do único Pai que, a partir do Pai, se encontram interligados uns aos outros”.
       4 – Na Sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, Bento XVI coloca como pano de fundo a bem-aventurança – bem-aventurados os obreiros da paz – mostrando como a família é crucial na promoção da paz, na grande medida de ser promotora da vida e da felicidade.
       Ainda agora celebrávamos a Festa da Sagrada Família, reconhecendo como a família é espaço de diálogo, de compreensão, e como as mães, na maioria da vezes, com a sua sensibilidade e delicadeza, têm um rosto conciliador, são obreiras da paz, entre os filhos, destes com os pais, e com a sociedade. Assim, Maria assume essa missão de conciliar, interceder, juntar todos os filhos no seu manto de Mãe, para a todos conduzir a Jesus Cristo.
       Com Ela, sejamos também obreiros da paz. Como aos pastores, também a nós Ela nos mostra Jesus, que vem de Deus. Diz-nos o Papa, “a realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma úni­ca família humana”. Com efeito, “através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem”, colocando-nos diante da possibilidade de termos um novo coração, transformado pelo amor.
       Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. A paz é dom de Deus, mas também obra e responsabilidade do homem. Na verdade, continua Bento XVI, “a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha”.
       5 – O mistério da Encarnação permite-nos viver numa saudável ilusão, que se funda na fé, na certeza que Deus está do nosso lado e com Ele é possível vencer o mal com o amor e com o perdão, com a justiça, a verdade e a paz e que nos compromete com a vida e com a transformação da história e do mundo em que vivemos.
       Quando não há esperança, deixa de haver vida, ou pelo menos a vida deixa de ter sentido. Com o nascimento de Jesus, Deus alcança-nos no nosso ambiente, na nossa casa. Vem habitar em nós, respondendo com a Sua vida, o Seu amor e a Sua presença a todas as promessas.
       Deus quer a nosso bem, como deixa antever nas palavras dirigidas a Moisés (e no Salmo Responsorial): «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
       Ele é a nossa paz. Cabe-nos transformar a bênção de Deus em nós, em compromisso com a humanidade inteira, sempre com o ponto de partida no nosso coração, em nossa casa, na nossa família, na nossa paróquia, seguindo o desejo da Mãe de Deus e Mãe nossa.
       Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós. Rainha da Paz, dai-nos a paz.


Textos para a Eucaristia (ano C): Num 6, 22-27 ; Sl 66 (67); Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21.

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