sábado, 4 de abril de 2015

Solenidade de Páscoa - ano B - 5 de abril de 2015

       1 – Dia novo, novo tempo, céus e terra cantam de alegria, o Senhor ressuscitou como disse, aleluia. Alegremo-nos. Amanhece a salvação. Graça, Luz e Salvação. Alegria, jarro de água e vinho, temperados pelo amor e pela entrega. Portas abertas, de par em par, escancaradas à vinda do Senhor crucificado Ressuscitado. Gratuidade e misericórdia, amor e paz.
       Logo de manhã, muito cedo, Maria Madalena (e, por certo, outras mulheres que a acompanham), ainda o sol não se deixa entrever, com o passo acelerado, vai até ao túmulo onde puseram o corpo morto de Jesus. Ainda escuro, pois a luz de Cristo Ressuscitado não lhe chegou ao coração. E se está escuro, o medo continua, a incerteza, o lamento por lhe terem tirado o seu Mestre e Senhor, Jesus Cristo, que tinha aparecido na sua vida e na vida de muitas pessoas como vendaval de simplicidade, de bondade, de delicadeza, nas palavras e nos gestos, em cada encontro, no olhar e no sorrir e no colocar das mãos nas mãos dos doentes e dos pecadores, para os curar, os acolher, para os elevar, para lhes devolver dignidade, vida e saúde.
       2 – Ao chegar vê que a pedra do sepulcro está retirada. Que fazer? Corre e vai dizer o que viu, ou não viu, a Simão Pedro e ao discípulo amado (que não tendo nome, poderá ser cada um de nós): «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram».
     Também Pedro, com o outro discípulo, não faz grandes perguntas. Por vezes fazer perguntas, questionar, é uma forma de não procurar, de não ir ao encontro dos outros, da vida, da felicidade. É próprio do ser humano questionar. Mas para tudo há um tempo. Por ora é tempo de sair. Só quem sai do seu comodismo, da sua casa, poderá encontrar o Senhor, só quem sai de si poderá encontrar-se com os outros.
       Partem os dois, o discípulo amado chega primeiro. Como tem sublinhado o nosso Bispo, D. António, depois da negação, Pedro precisa de aprender novamente a ser discípulo, colocando-se atrás, vendo como faz o discípulo amado. Chegados ao sepulcro, o discípulo amado debruça-se mas não entra. Cede passagem a Pedro que, seguindo atrás, procura decalcar os passos do discípulo amado, para se tornar também ele verdadeiro discípulo, assumindo então a liderança apostólica.
       E que foram ver ao sepulcro? "As ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte".
       Daqui se depreende, uma vez mais sob a inspiração de D. António Couto, que o sepulcro não está vazio, está cheio de sinais, nomeadamente no facto de não haver sinais de roubo, o sudário está enrolado, à parte. Os dois discípulos entram e começam a entender, a acreditar, a ver com os olhos do coração.
        3 – É tão grande a alegria daquele primeiro dia, a experiência de encontro com o sepulcro, não vazio, mas cheio de sinais, que os discípulos começam a escancarar as portas, de casa e do coração, escancarando a vida por inteiro. É neste recomeço, relação nova com a morte de Jesus na Cruz, com o sepulcro "vazio" do corpo, mas com os sinais de ressurreição, que os discípulos regressam aonde podem encontrar Jesus, no mundo, junto das pessoas, nas aldeias e cidades, nas suas próprias casas e famílias. Ele virá e por-se-á no meio, para que do centro (de Jesus Cristo), possa irradiar para todo mundo a alegria da Ressurreição, vida e tempo novos, de graça, salvação e luz, de conciliação, amor e perdão.
       Vale a pena escutar o Apóstolo Pedro, transformado pela Ressurreição:
«Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n'O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d'Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».
       O corpo do texto, anúncio de Pedro, forma o chamado Querigma, isto é, o primeiro anúncio, uma apresentação sugestiva da vida e da missão de Jesus.

       4 – No salmo, que hoje cantamos, com Pedro, com o salmista, e com todos os que deixam que Cristo os encontre, aclamemos:
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a Sua misericórdia.
A mão do Senhor fez prodígios,
a mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei de viver,
para anunciar as obras do Senhor.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
e é admirável aos nossos olhos.
       Pois este é o Dia que o Senhor fez, aleluia, estamos exultantes de alegria, pois o Senhor ressuscitou! Aleluia.

       4 – E se nos encontramos com o Senhor ressuscitado, se nos deixamos ver por Ele, vivo no meio de nós, a nossa vida terá que transformar-se ao ponto de O deixarmos ver nas nossas palavras, nos nossos gestos, em toda a nossa vida.
"Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória" (Col).
Dia santo, tempo novo, nova vida, no Espírito do Ressuscitado, deixemos as coisas antigas, acolhamos a novidade que rasga o Céu para habitar connosco. "Celebremos a festa, não com fermento velho, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com os pães ázimos da pureza e da verdade" (1 Cor).

Pe. Manuel Gonçalves



Textos para a Eucaristia (ano B):
Atos 10, 34a. 37-43; Sl 117 (118); Col 3, 1-4 ou 1 Cor 5, 6b-8; Jo 20, 1-9.

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