Durante a Sua vida pública, Jesus vai, anuncia, cura, expulsa os demónios, aproxima-Se das pessoas, especialmente daquelas que se encontram em situações de exclusão ou com a vida hipotecada, pobres, doentes, publicanos, crianças, mulheres, pessoas do campo, pecadores, ou deixa que se aproximem, para O escutarem, para beneficiarem da Sua bênção e, por vezes, para Lhe armarem ciladas.
Os discípulos estão por perto. Escutam-n’O, fazem perguntas, ouvem explicações mais detalhadas. São também destinatários das Suas palavras, com chamadas de atenção, reprimendas (sobretudo quando discutem lugares de poder), desafios. Vivem com Ele, veem a Sua postura, a forma como Se dá por inteiro, como fala, a Sua docilidade, a facilidade com que Se relaciona com as pessoas de todos os estratos sociais e a Sua opção preferencial pelos mais “pequenos”: os excluídos dos reinos deste mundo, a quem convida para a Sua mesa e a quem primeiro abre as portas do Reino de Deus.
Há de chegar o dia em que Ele já não estará fisicamente entre os Seus discípulos. Estará para sempre presente pela Palavra proclamada e vivida, no Seu Corpo mistérico que é a Igreja, do qual somos membros, pelos sacramentos, mas também através de nós e da nossa capacidade de O transparecermos. É o que Ele diz aos Seus discípulos daquele tempo histórico. Estagiam com Ele. Envia-os dois a dois, com o poder de curar e expulsar demónios, anunciando a proximidade do Reino dos Céus. Como viram Jesus fazer, devem reproduzir criativamente a Sua mensagem e o Seu poder misericordioso.
Um dia, ao regressaram, contam a Jesus que viram alguém a expulsar demónios em Seu nome e quiseram impedi-lo por não fazer parte do grupo. São surpreendidos, e nós também, pelo Mestre da Docilidade: «Não o impeçais, porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e vá logo dizer mal de mim. Quem não é contra nós é por nós» (Mc 9, 39-40).
É possível dizer bem de alguém sem necessidade de dizer mal dos outros. É possível gostar e dizer bem do Papa Francisco, gostando e dizendo bem do Seu Predecessor, Bento XVI. Infelizmente, muitos precisam de dizer mal de um para mostrarem que gostam mais do outro. Assim também em muitas dimensões da vida, na política, no desporto, com aqueles que pertencem aos mesmos grupos que nós, mesmo intraeclesiais.
Ainda estamos longe de transparecer Jesus e o Seu Evangelho da Delicadeza. Podemos lá chegar, ponhamo-nos a caminho!
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4359, de 19 de abril de 2016
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