sábado, 12 de novembro de 2016

XXXIII Domingo do Tempo Comum - ano C - 13.11.3016

       1 – Para quem vive a vida com intensidade, alegria, desprendimento, com verdade, honestamente, o fim fará parte do processo. Claro que ninguém quer morrer. Muitas vezes o desejo é acabar com o sofrimento ou por não se sentir amado ou por achar que se está a dar demasiado trabalho aos outros. Há situações de um sofrimento físico muito grande, ainda que na atualidade os cuidados paliativos estejam avançados. Vida em abundância é o que todos desejamos. Jesus vem de Deus para que tenhamos vida e vida abundante (cf. Jo 10, 10).
       Quando paramos um pouco para pensar... Quando à nossa volta alguém morre... Quando morre uma pessoa nova... Ou alguém morre de forma surpreendente, por acidente, repentinamente, por uma doença avassaladora... Vêm os medos e as perguntas! Já tem acontecido que pessoas que se diziam preparadas para morrer ou com um desejo (aparente) de morrer, que se sentem vulneráveis por saber que podem morrer. Ou, em muitos casos, quando as pessoas participam no funeral de uma pessoa mais nova ou da mesma idade e logo se questionam pela sua vez que pode estar a chegar.
       Ao olharmos para o mundo atual, outra constatação, o mundo está em convulsão. Estará às portas da destruição, do auto aniquilamento ou será mais uma crise de crescimento? Estaremos no fim do mundo ou no início de um tempo novo?
       Com efeito, para os cristãos o FIM do MUNDO já chegou com Jesus Cristo. Na plenitude dos tempos, Jesus introduziu-nos num tempo novo, no Reino de justiça, de paz e de amor. O fim de cada um, o fim da humanidade, é Cristo Jesus que nos eleva para a glória do Pai, para contemplarmos o Seu amor por nós e vivermos eternamente na alegria divina. Mas antes de chegarmos ao Céu, temos o Céu connosco, Jesus Cristo que, morto e ressuscitado, permanece entre nós, pela força do Espírito Santo, nos Sacramentos, na Palavra de Deus e no bem que façamos em Seu Nome santo. Peregrinos do tempo e da história, com a missão de semearmos a fé, a esperança e a alegria, pelo bem dito e a dizer e pelo bem feito e a fazer.
       2 – O evangelista contextualiza a intervenção de Jesus, dizendo-nos que o templo estava ornado com belas pedras e com piedosas ofertas, o que provoca comentários. Uma nota prévia: também da Igreja se têm feito comentários acerca da sua riqueza material e do ornamento de algumas igrejas. Desde logo alguns sublinhados: a Igreja vive no meio do mundo e em muitas situações deixou vir ao de cima a ostentação da riqueza, a procura do poder pelo poder. Por outro lado, o arranjo, o cuidado, o adorno das igrejas, os paramentos, as talhas douradas, os cálices resultam da fé, da piedade popular, do zelo pelas coisas sagradas. Há pessoas para quem o melhor tem de ser para Deus. E isso também se visualiza, também se exterioriza. Pela experiência pastoral, estou em crer que as pessoas que mais facilmente dão para as igrejas, são as mesmas que mais facilmente dão para causas sociais.
       Todavia, as palavras de Jesus são para nós, para ti e para mim. Como escutamos em domingos anteriores, a ganância e a avareza diabolizam-nos. O dinheiro, os bens materiais, a riqueza, devem servir para vivermos melhor e para facilitar a fraternidade, para nos tornarmos mais próximos, para cuidarmos dos mais frágeis.
       «Dias virão em que, de tudo o que estais a ver, não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído». Ou como dirá Jesus em outro lugar, fazei bolsas que não se desgastem, bens que não corroam, nem se percam (cf. Lc 12, 33). Do que vemos, mais tarde ou mais cedo, tudo desaparecerá. Só não desaparecerá o bem que fizermos, tudo o que por amor nos levar aos outros.

       3 – Se tivéssemos uma varinha de condão por certo a usaríamos em algumas situações para antecipar ou sabermos o que nos reserva o futuro. Aliás, há quem ganhe a vida a tentar adivinhar o futuro. Uns jogando cartas, outros com ossos, outros com os astros, ou lendo as mãos ou perscrutando o olhar!
       Claro que, em parte, podemos adivinhar o futuro e podemos antecipá-lo. O Céu está ao nosso alcance. Jesus trouxe-nos a eternidade, trouxe-nos Deus. Ele é o Céu plantado no mundo, na história, no tempo. O futuro dependerá, em parte, das nossas escolhas, do que fizermos hoje. Há algo intangível e que foge a qualquer projeção e por isso dizemos que "o futuro a Deus pertence". É possível prepararmos o "amanhã", intuirmos e, com alguma criatividade e sensibilidade, vermos no futuro. Há previsões que ajudam a planificar o futuro, ainda que com uma certa margem de imprevisibilidade. O mais importante, porém, é a garantia de Deus que, em plenitude, Se revela em Jesus Cristo. Ele é o nosso futuro, a esperança que a nossa vida tem um FIM que lhe dará sentido.
       «Mestre, quando sucederá isto? Que sinal haverá de que está para acontecer?».
       Esta é uma pergunta que também fazemos! Também tentamos ler os sinais! Vemos o que e quem nos rodeia! Quem nos ajuda a caminhar e quem nos faz tropeçar! Quem seja luz para nós e quem aproveite as trevas para nos roubar a esperança e a vida!
       Jesus deixa-nos um alerta de confiança: «Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim».
       Logo depois Jesus acrescenta o aparecimento de sinais contraditórios, fome, epidemias, guerras, violência, povos contra povos. Muitos se aproveitarão da confusão e dos medos para reinar, para se impor, para subjugar os demais. As ditaduras nascem em tempos de crise, de indecisão e indefinição, de incerteza e de medo. Jesus coloca-nos de sobreaviso. Esses tempos chegarão. Importa não nos deixarmos nem abater nem controlar. Mesmo perseguidos, não temamos os que matam o corpo mas não podem matar o espírito. Só Deus é o nosso FIM. Se formos conduzidos aos tribunais por anunciarmos o NOME de Cristo e o Seu Evangelho de Amor não nos preocupemos com o que dizer em nossa defesa, o Espírito infundir-nos-á as respostas a dar. E por fim, Jesus ainda mostra o cuidado de Deus por cada um de nós, garantindo: «Nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas».
       4 – Na profecia de Malaquias um alerta semelhante, com o mesmo selo de garantia da parte de Deus: "Há de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha; e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores. O dia que há de vir os abrasará – diz o Senhor do Universo – e não lhes deixará raiz nem ramos. Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação".
       A salvação está aí. Com Jesus chega esse dia, o Dia do Senhor, Dia de graça e de redenção. Por quê ter medo? Vivamos como ressuscitados, inseridos no Corpo de Cristo, como membros vivos, como ramos de videira ligados à vide, à seiva que circula por todas as ramificações! Desta forma, nada tememos, porque o Senhor nos salva!

       5 – Na segunda Epístola de São Paulo à comunidade de Tessalónica, que temos vindo a escutar e refletir, o Apóstolo ensina-nos como estarmos preparados para o fim. Importa viver Jesus, crucificado e ressuscitado. Se sentirmos dificuldade em imitar Jesus comecemos por imitar aqueles e aquelas que viveram para transparecer e testemunhar Jesus, como foi o caso de São Paulo, São Francisco Xavier, Santa Teresa do Menino Jesus.
       "Vós sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos entre vós na ociosidade, nem comemos de graça o pão de ninguém. Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas quisemos ser para vós exemplo a imitar. Quando ainda estávamos convosco, já vos dávamos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade, sem fazerem trabalho algum, mas ocupados em futilidades. A esses ordenamos e recomendamos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem".
       Vale a pena fixarmos todo o texto. O Apóstolo põe em evidência que o cristão não deve e não pode viver na ociosidade. A fé encarna-se na vida e no compromisso com os outros e com o mundo. Não se desencarna, não se espiritualiza, não nos torna aluados, fora ou acima dos outros. Faz-nos sujar as mãos, arregaçar as mangas. Já basta os que não podem trabalhar ou aqueles e aquelas cujo trabalho não lhes garante a dignidade que merecem. Cabe-nos trabalhar e ajudar aqueles que não o podem fazer. A fé faz-nos levantar o olhar, o coração e a vida para Deus. Deus, com o Seu olhar, com o Seu coração, com a Sua vida está fito na terra, em mim e em ti, em nós, nos outros. Deus orienta-nos o olhar para os outros que caminham connosco. A nossa pátria é o Céu, mas o Céu inicia-se aqui e agora, inicia-se no tempo, na história, no mundo.

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (C): Mal 3, 19-20a; Sal 97 (98); 2 Tes 3, 7-12; Lc 21, 5-19.

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