MARTA ARRAIS (2016). Descalça as tuas feridas. Crónicas para todos os dias. Lisboa: Paulus Editora. 136 páginas.
Descalça as tuas feriadas é um daqueles títulos de excelência. É como a água fresca em pleno Verão, brisa suave que alivia qualquer cansaço, leitura envolvente que nos conduz ao nosso interior, ao que somos, aos dons recebidos, às forças que ainda há para gastar; leva-nos a perscrutar a vida e o sofrimento dos outros, valorizando o essencial, a vida, o amor, o serviço, a alegria. Marta Arrais é transparente, simples, acessível, profunda. Toca diversos temas e diria, toca o coração de quem a escuta (ou lê). Enternecedora, desafia, interpela, questiona, faz-nos refletir.
Primeiro o contacto com os seus textos o sítio iMissio. Já tínhamos lido e partilhado algumas das suas reflexões. Depois o contacto com o livro. Na livraria da Diocese de Lamego, Gráfica de Lamego, peguei no livro e, como noutras ocasiões, perguntei à responsável, Paula Magalhães, se recomendava, se valia a pena. Também ela já tinha perguntado mas não lhe souberam responder. Voltei a olhar para o título, para o nome da autora e para a contracapa. E fez-se luz: acho que já li algumas reflexões, se for a autora dessas reflexões (do iMissio) então vale a pena. Vou levar. Fiquei convencido que era a autora das (tais) crónicas do iMissio e deixei a certeza à responsável que, sendo quem julgava ser, valeria bem a pena a compra e sobretudo e a leitura. E cá estou a confirmar o que então afirmei.
É um livro que se lê bem. Algumas das crónicas podem ser lidas no sítio sugerido: iMISSIO ou também na página criada (julgo eu) para secundarizar a publicação deste livro: MARTA ARRAIS, o Barco de Sonhar. Mesmo tendo lido algumas das crónicas e podendo ler outras, prefiro ter o livro, ler, sublinhar, rever os sublinhados.
E por falar em sublinhados, aqui ficam alguns:
Primeiro o contacto com os seus textos o sítio iMissio. Já tínhamos lido e partilhado algumas das suas reflexões. Depois o contacto com o livro. Na livraria da Diocese de Lamego, Gráfica de Lamego, peguei no livro e, como noutras ocasiões, perguntei à responsável, Paula Magalhães, se recomendava, se valia a pena. Também ela já tinha perguntado mas não lhe souberam responder. Voltei a olhar para o título, para o nome da autora e para a contracapa. E fez-se luz: acho que já li algumas reflexões, se for a autora dessas reflexões (do iMissio) então vale a pena. Vou levar. Fiquei convencido que era a autora das (tais) crónicas do iMissio e deixei a certeza à responsável que, sendo quem julgava ser, valeria bem a pena a compra e sobretudo e a leitura. E cá estou a confirmar o que então afirmei.
É um livro que se lê bem. Algumas das crónicas podem ser lidas no sítio sugerido: iMISSIO ou também na página criada (julgo eu) para secundarizar a publicação deste livro: MARTA ARRAIS, o Barco de Sonhar. Mesmo tendo lido algumas das crónicas e podendo ler outras, prefiro ter o livro, ler, sublinhar, rever os sublinhados.
E por falar em sublinhados, aqui ficam alguns:
"É a alegria que precisa de nos engordar! A vontade de fazer impossíveis, de gritar que não há dor que valha a pena. A tua dor não vale a pena. Vai encolher-te até deixares de saber quem és. Vai mirrar-te os horizontes e deixar-te sozinho. O colo da dor é muito frio. O da alegria. É nesse colo que deves enxugar as tuas lágrimas..."
"O amor sabe a pão acabado de sair do forno e é impossível que não queiramos empanturrar-nos dele. Mas o amor não chega se os que amamos não merecerem a nossa esperança. Merecem a nossa outra face aqueles que transformam a nossa esperança em luz e nos iluminam, boicotando todas as trevas que nos anoiteciam."
"Mas que pena. Que pena estar aqui esta sombra de gente a fazer-me pensar que um dia também poderei ficar assim. Sozinho. A beber cafés para chamar o sono. Quem mora no avesso do mundo bebe cafés para adormecer. Como quem ouve uma história de embalar. Isso de beber café para acordar é mania de gente que tem tudo. Quem não tem nada inventa novos sentidos para tudo. Até para o café"
"Somos mudados pela vida que os outros nos dão. Pela vida que os outros são para nós. A fé da Rosa não eram orações nem palavras repetidas. A fé da Rosa era a vida dela e era com a vida que a Rosa rezava (e reza) quando se sentava ao pé de mim na Eucaristia. Era a vida dela que se ajoelhava e que me ajudava, a mim, a rezar e a ser melhor.
"É tempo de colocar feridas à mostra. É tempo de deixar que o sol, que é Jesus, nos aqueça até transformar as feridas em água fresca. Costumamos ter vergonha das nossas cicatrizes porque nos lembram as nossas feridas. As cicatrizes são um grito costurado de silêncio mas, ainda assim, um grito... Não há nada que esteja mais perto da alma e da pele do que a presença de uma ferida. De um golpe. Ou do desenho que resta dele. Somos a cruz de Jesus. Somos a coroa de espinhos. Somos a humilhação, a mágoa, a tristeza, o sofrimento acabado em infinito. É tremenda esta responsabilidade. Jesus vem rezar connosco esta verdade que nos une profundamente a todos: somos as feridas de Jesus. “Tu és a minha ferida”... Nunca te esqueças que foste (e és!) tu a ferida mais querida de Jesus. Ele colocou-te no Seu colo e, do alto da Cruz ensanguentada, ofereceu-te ao Pai".
"Ser feliz é não saber onde acabamos. É não ter fim, não ter pressa, não ter nada. É apreciar profundamente essa maravilha que é não ter nada. Não te mintas. Não me venhas dizer que tens tudo o que te faz falta e que não precisas de mais um bocadinho de nada. Se pensas assim, inverte o sentido da marcha. Mas inverte agora. Porque ser feliz é nunca ter tudo. Ser feliz é querer ser tudo. É sentir que ter uma vida só é pouco para tudo o que se quer ser e fazer."
"Somos um perigo quando, de repente, deixamos de ter medo. Sentimos que nada podem contra nós, nada nos derruba, nada nos falta. Temos tudo. Podemos tudo. Cuidado. Piso escorregadio. Curva apertada à esquerda. À direita. Em todas as direções. Somos um risco e um perigo quando o nosso coração deixa de bater... Achávamos que íamos voar e caímos. Somos o maior perigo. É quando achamos que podemos tudo que podemos perder tudo. E perder-nos. Deformamos o mapa que somos e arriscamos demais. Queremos viver a vida toda num segundo. Queremos valer a pena. De uma vez só. Queremos engolir a vida de um só trago e despedaçamo-nos. Depois, lá sacudimos as lágrimas dos joelhos, atamos os arranhões com cicatrizes e dizemos como quem se quer convencer: “o que não te mata faz-te andar. Levanta-te”
Fazer o bem é fazer a única coisa que está ao nosso alcance. Estamos enganados quando achamos que o bem dá trabalho. Fazer o bem dá menos trabalho do que fazer qualquer outra coisa. Não é uma opção: é uma maneira de estar e de viver. A verdadeira e única forma de escrever o bem na nossa vida é pensar que para além de tudo o que é mau, ainda podemos fazer o bem. Apesar de todos os apesares que nos pesam, há um colo que se ilumina perante a possibilidade de fazer o bem. E sabes que colo é esse? É o teu. Quando fazes o bem, apesar de todos os tudos, o teu colo fica maior. Aparece aos olhos dos outros como uma risquinha do colo do próprio Jesus. O Bem também faz arder, sim. Faz arder os impossíveis, as lutas, as mágoas, e todas as outras palavras que rimam com a palavra triste.
Quando não puderes fazer mais nada quanto a isto ou aquilo, faz o bem.
Quando não puderes ver nada de bom, faz o bem.
Quando não puderes fazer o bem, faz melhor."
Simplesmente fantástico. Parabéns Marta por escrever assim, de uma forma que nos despe, como somos e como sentimos. É assim que eu sinto ao ler as suas palavras.Obrigada! Vou hoje mesmo comprar livros seus e embriagar-me um pouco, todos os dias, todas as horas para sentir a beleza da vida.Deus a abençoe sempre!
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