SUSAN SPENCER-WENDEL, com Bret Witter (2013). Antes do Adeus. Lisboa: Editora Pergaminho. 384 páginas.
Susan Spencer-Wendel é uma mulher adulta, 44 anos, jornalista reconhecida, satisfeita da vida, casada, mãe de três filhos. A vida é uma correria. A mão esquerda começa a ficar paralisada e começam as interrogações, os médicos, os exames e a negação do que começa a ser óbvio: esclerose lateral amiotrófica (ELA). O diagnóstico é uma sentença de morte, pois é uma doença terminal, três a cinco anos de vida, não há cura nem forma de retardar o seu avanço.
Que fazer diante de uma notícia tremenda? A autora vai-nos dizendo. Uma fase de negação. Mas chega o momento que não há como fugir à inevitabilidade da doença. O corpo começa a deixar de funcionar, os comandos (cerebrais) não são correspondidos. Há consciência, mas os músculos vão atrofiando e deixando de obedecer e de funcionar. Até articular palavras se torna uma luta gigantesca.
É conhecida a expressão de Tolstoi: as famílias são iguais, as famílias tristes sofrem cada uma à sua maneira. Susan opta por viver e viver feliz, procurando criar memórias para os filhos, para o marido e para os amigos.
O seguro de vida permite-lhe pagar a hipoteca da casa, viajar como sempre gostou de fazer, com a melhor amiga, Nancy, (para ver a aurora boreal), com o marido, numa espécie de segunda lua de mel, ir com a filha, de 14 anos, a Nova Iorque e vê-la provar um vestido de noiva, pois já não estará por cá quando ela casar, vai proporcionando aos filhos os seus pedidos.
Entretanto decide escrever, enquanto é possível. Chega um momento que escreve apenas com um dedo num iphone, mas escreve, dedicando tempo. É um legado para os filhos, para o marido, para a família, para os amigos. Não se revolta. Procura viver cada momento, numa atitude zen, aceitando o que tem que ser, o que não está ao seu alcance modificar. Claro que sofre, chora, por ver o mundo avançar, os filhos a crescerem, certa que não estará cá para os ver crescer, querer fazer as coisas e não poder, a dependência de todos e em tudo. Chora. Mas não perde tempo a lamentar-se.
Adotada, procura as suas raizes, para apaziguar o seu passado e ligar-se, ao marido e aos filhos, à família biológica, nomeadamente à sua ascendência grega.
Outro dos aspetos bem vincados ao longo de todo o livro, é a sua fé em Deus. Os pais (adotivos) são batistas, a autora nem por isso, mas acredita em Deus, acredita que se irá encontrar com o Pai biológico já falecido. E que o fim não será definitivo.
"Antes do Adeus tem momentos profundamente tristes - trata-se, afinal, de uma despedida -, mas sem um traço de amargura ou de raiva. Em cada página, sente-se otimismo, a alegria de viver e o sentido de humor de uma mulher grata pela vida. Um livro sobre a morte, mas cheio de vida. Um livro que nos recorda que temos sempre a opção de sorrir. E que, como ensina a autora, «cada dia é melhor se for vivido com alegria»" (contracapa).
"Acenda uma vela em vez de amaldiçoar a escuridão".
"Acredito em Deus. Acredito em forças que nos transcendem de prodígios que escapam ao entendimento humano".
"Tomei a resolução de escrever sobre a força e não sobre a doença, sobre a alegria e não sobre o desespero".
"As minhas capacidades vão-se desprendendo do meu ser como uma medalha se desprende de um fio".
"Desde o diagnóstico, os estados depressivos tornaram-se menos frequentes. Desde que aceitei a minha condição, a angústia aproxima-se de mim ao de leve, como uma borboleta, e poisa silenciosamente como as borboletas poisam nas plantas à volta da cabana. Observo os seus rodopios, admiro a sua complexidade, sinto o seu peso por um breve instante, e depois... passa! Esa tristeza tem uma beleza intrínseca que me faz sentir sempre viva, e isso ainda me interessa, ainda é importante para mim".
"Regozija-te com o que tens e com a forma como as coisas são. Quando te deres conta de que não há nada em falta, o mundo inteiro será teu".
"Removendo a necessidade, removo também o sofrimento".
"Há que aceitar a vida conforme ela se desenrola. É importante que sonhemos e nos esforcemos por alcançar os nossos sonhos, mas também há que aceitar. Não faz sentido forçarmos o mundo a ser aquele que sonhámos. A realidade é muito melhor que isso".
"Não faz qualquer sentido ansiar por algo inalcançável, pois esse é o caminho direto para a loucura".
"Procurem-me nos vossos corações, meus filhos. Sintam-me aí e sorriam... procurem-me nos ocasos... sei que o meu fim está próximo, mas não desespero".
A autora terá morrido em 4 de junho de 2014.
Alguns vídeos disponíveis na Internet:
PÁGINA: http://susanspencerwendel.com/
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