sábado, 14 de janeiro de 2017

Domingo II do Tempo Comum - ano A - 15 de janeiro

       1 – Um Paraíso! Onde? Quando? Alguém ainda se lembra de um mundo em paz, a viver em harmonia? Olhando para trás vemos lutas, guerras, genocídios, fratricídios, violência, escravização. Olhando para os lados, vemos agressões, corrupção, egoísmos que degeneram em ódios e vinganças, em invejas que destroem, assassinam, oprimem, agridem. Olhando para o futuro, com estes olhos que a terra há de comer, o que lá vem parece mais do mesmo: a violência que hoje semeamos dará fruto amanhã com mais violência, destruição, implosão da natureza, com a desflorestação, excesso de consumo e utilização abusiva de matérias-primas, novas formas de escravização, de exploração no trabalho, tráfico de pessoas, predomínio dos mais fortes (os que têm maior poder económico e militar) sobre os mais pobres (pessoas ou povos).
       Há 2.000 anos a ESPERANÇA ganhou um ROSTO: Jesus Cristo, Deus connosco, mensageiro da Paz, profeta da alegria, Messias da caridade, conselheiro da bênção, ELO da fraternidade. Em Jesus, Deus faz-Se um de nós para nos transformar a partir de dentro. Não pela imposição, pelo poder, pela força, mas pelo amor, pela docilidade.
       Naqueles dias, o mundo viu uma nova LUZ, já não intermitente, bruxuleante, mas a LUZ que não se apaga, mesmo que a possamos abafar. Não se apaga pois vem de Deus, vem da eternidade. João Batista testemunha e aponta para esta luz, para este homem como Alguém que pode mudar a história, porque é o "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". E João explica porque vê n'Ele a salvação de Deus: «Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e permanecer sobre Ele. Eu não O conhecia, mas quem me enviou na batizar na água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e permanecer é que batiza no Espírito Santo’. Ora, eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus».
       2 – Jesus não é mais um profeta, ou um vendedor de sonhos ou um ilusionista! É o Filho de Deus. Vem de longe, da eternidade, faz-Se próximo, tão próximo que é um de nós, confundindo-Se, misturando-Se, escondendo-Se na humanidade! Por outro lado, revela-Se, mostra-Se, está ao alcance da nossa mão! Podemos vê-l'O, segui-l'O, amá-l'O, podemos persegui-l'O ou até matá-l'O!
       Anuncia e inaugura um reino novo, inclusivo, um reino tão grande que tem lugar para todos. Não há ninguém a mais. Ninguém é dispensável. Ele quer salvar-nos a todos. É um reino diferente de todos os reinos terrenos, ainda que enxertado na terra, na humanidade, mas com ligações seguras ao Céu, a Deus. As portas da eternidade são escancaradas por Jesus Cristo.
       Governa-nos pelo serviço, pela humildade, pela obediência.
       Jesus lembra aos seus discípulos que os chefes das nações discutem lugares e impõem-se pela força, pelo poder. Ao invés, o poder de Jesus e dos Seus discípulos assenta no serviço dócil e atento. Entre vós quem quiser se o maior seja o servo de todos, quem quiser ser o primeiro seja o último. Eu não vim para ser servido, mas como Aquele que serve e dá a vida por todos.
       «De mim está escrito no livro da Lei que faça a vossa vontade. Assim o quero, ó meu Deus, a vossa lei está no meu coração». Jesus vive na obediência filial e ensina-nos a percorrer o mesmo caminho. Obedecer significa escutar com atenção. Quem escuta com o coração, perscruta a vida do outro, com as suas necessidades e anseios. A lei de Jesus é o amor, que escuta, que acolhe, que envolve. O Seu alimento é fazer a vontade do Pai. Responde com amor ao amor do Pai. Obedecer é escutar. Escutar é estar atento e disponível para acolher o outro. Obedecer e escutar levam a amar e a servir. É a missão de Jesus e o propósito e caminho do cristão.
       3 – Isaías visualiza e antecipa a missão do Messias, através de Quem se manifestará a Israel a glória de Deus. Mas não somente a Israel, às nações de toda a terra. O Servo de Deus há de tornar-se guia e luz: «Vou fazer de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».
       O povo eleito é zeloso da sua Aliança com Deus. Porém, as páginas do Antigo Testamento mostram com clarividência que a salvação de Deus não está confinada a um povo, a uma região, a um grupo limitado de pessoas, mas tende a universalizar-se, a estender-se por todo o mundo, para todas as nações, para toda a humanidade. A eleição e a aliança de Deus com o Povo de Israel é instrumental, na medida em que é dirigida a Israel mas com o compromisso que se alargue a todos os povos da terra. Jesus há de clarificar esta posição dentro do povo e abrindo os horizontes aos seus discípulos: Dentro do povo, convivendo e acolhendo os marginalizados, mulheres, doentes, publicanos, pecadores. Alargando os horizontes, apresentando samaritanos nas parábolas, atendendo aos pedidos da mulher sírio-fenícia e do centurião, conversando serena e afavelmente com a Samaritana, desafiando-a a acolher a Boa Nova da salvação. Para Jesus não há fronteiras nem limitações. Todos são salváveis!
       4 – A saudação de Paulo à Igreja de Corinto envolve-nos a todos no compromisso da santidade. Dirigindo-se àquela Igreja em particular mas logo agrafando todos os que foram chamados à santidade, todos os que invocam o nome de Jesus Cristo, "Senhor deles e nosso".
       Como nos recorda o Vaticano II, avivando-nos a memória, a santidade é vocação comum para os crentes cristãos, para os seguidores de Jesus, lembrando-nos também, sintonizados com a Carta Pastoral de D. António Couto para este ano pastoral de 2016-2017 que, enquanto cristãos, devemos ser discípulos missionários, transparecendo e testemunhando Jesus Cristo, a todo o momento, em toda a parte, perante todas as pessoas.
       Jesus Cristo, filho de Deus humano, veio ao mundo para a todos salvar. É Cordeiro que tira o pecado do mundo. Morreu dando a Sua vida por nós. Ressuscitou colocando a nossa natureza humana à direita do Pai. Contudo não partiu para sempre, abandonando a barca, pelo contrário, está ainda mais presente na história e no tempo através do Seu Espírito de Amor, na Igreja e nos cristãos, nos acontecimentos e no mundo, nos Sacramentos e em todo o bem proferido e vivido. Iniciou a construção do Paraíso, um reino sem muralhas nem fronteiras, reino de serviço e de amor, de compaixão e de ternura. Confiou-nos o Seu reino e o Seu amor, para que agora sejamos nós espalhar a esperança e a paz, a alegria e a bênção. Somos construtores deste Reino novo. Todos sem exceção.

Pe. Manuel Gonçalves



Textos para a Eucaristia (A): Is 49, 3. 5-6; Sl 39 (40); 1 Cor 1, 1-3; Jo 1, 29-34.

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