1 – Para escutar,  compreender e acolher a palavra de Deus é necessário, antes de mais, uma  atitude de humildade, de abertura de coração e de mente, de  disponibilidade para se deixar tocar/envolver pela graça de Deus, e  prontidão para se deixar transformar pela força do Espírito.
        No contexto das parábolas, os discípulos perguntam a Jesus qual a razão  para Ele falar em parábolas. Jesus vai respondendo que fala dessa forma  para que as pessoas não compreendam. Mas acrescenta um dado muito  importante: não compreendem porque os seus corações se tornaram duros.  Daqui se conclui com facilidade que a “não compreensão” não assenta na  dificuldade da mensagem, ou na pouca erudição da população, mas na  dureza do coração, no orgulho, na prepotência, na tradição ignorante, na  arrogância, na sobranceria.
        Para escutar, compreender e acolher a palavra de Deus é preciso a  humildade de coração. Só um coração humilde é capaz de escutar e  compreender. Com efeito, as parábolas contadas por Jesus facilitam a  compreensão do que nos quer comunicar.
       Ora, vejamos mais três parábolas sobre o reino dos Céus:
- “O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo”.
- “O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola”.
- “O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lançá-los na fornalha ardente".
       2 – As diversas  parábolas ajudam-nos a compreender o mistério do reino dos Céus e o que  nos é "exigido" para fazermos parte dos eleitos do Senhor. Não  esqueçamos que a condição primeira é a disponibilidade de coração, a  humildade diante d'Aquele que vem, que chega até nós e nos impulsiona  para o Céu, para a vida divina, a vida na graça santificante.
        Partimos da humildade de coração para a necessidade e urgência de  conversão. Só predispondo-nos a mudar o nosso coração, a nossa vida,  deixando-nos cativar pelo Espírito Santo que Jesus nos dá, nos  preparamos para compreender a Palavra que pode alterar para sempre a  nossa vida.
       Jesus  explicita a Sua missão no mundo, no meio da humanidade, e a abrangência  do reino de Deus, que se estende até aos confins do mundo e ao fim dos  tempos. Todavia, desde logo, salta para a liça a prioridade do reino de  Deus diante de todas as coisas, de todos os compromissos, de todos os  projectos. Todos os projectos só têm um sentido absoluto, definitivo e  garantido para o futuro, no Reino de Deus. Este é a pérola mais  preciosa, é o tesouro escondido em nós, no campo da nossa vida e que com  a vida deveremos preservar. Primeiro o reino de Deus e a sua justiça e  tudo o mais virá por acréscimo.
       3 – Por outro lado, o reino de Deus destina-se a todos.
       Na última das parábolas Jesus compara o reino dos céus a uma  rede que lançada ao mar recolhe todo o tipo de peixes, grandes e  pequenos, brancos, verdes e vermelhos, azuis e laranjas, pretos e  multicolores. Há peixes bons e peixes intragáveis.  Mas, tal como na parábola do trigo e do joio (mas também do Semeador  que saiu a semear, ou como a parábola do vinhateiro que sai de manhã, ao  meio-dia, a meio da tarde, ao entardecer e chama todos os que encontra  para a sua vinha, para a todos compensar do mesmo jeito), todos são  chamados e todos têm as mesmas possibilidades (de serem pescados), bons e  maus, com muitas ou com poucas capacidades. O importante, lembremo-lo  uma vez mais, é o coração e a capacidade de cada um se tornar ouvinte,  discípulo. A paciência amorosa de Deus é sem limites.
        Deixemo-nos pescar pelo Senhor, sabendo que para sermos bom peixe basta  abrir o nosso coração, deixando-nos transformar na fé pelo Espírito de  Amor que Jesus nos comunica com a Sua vida, morte e ressurreição.
        4 – Deus chama-nos; em Jesus Cristo vem ao nosso encontro. N'Ele o  Reino dos Céus chega até nós. Vem para nos salvar, para que através do  dom da Sua vida, do Seu amor infinito, nós sejamos inseridos na Sua vida  divina, tornando-nos n'Ele, filhos de Deus.
       São Paulo fala-nos desta vocação primordial: "Nós  sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos  que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão  conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu  Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos. E àqueles  que predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os  justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou".
       Em Jesus Cristo fomos/somos redimidos do pecado e da morte, a nossa herança é a vida eterna, a salvação junto de Deus.
        5 – Na dúvida e na incerteza dos tempos presentes, nas provações e  dificuldades que encontramos, só a atitude de humildade nos leva a  compreender a palavra de Deus e a fazer com que a vontade de Deus se  traduza na nossa vontade muito humana. Por vezes podem faltar as forças,  o ânimo; por vezes, as preocupações podem esvaziar o nosso compromisso e  tornar este mundo mais belo e justo.
        Nunca nos falte a humildade, a abertura de coração. Como Salomão  supliquemos a sabedoria para nos deixarmos guiar pelo Espírito de Deus: "Dai,  portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso  povo, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar  este vosso povo tão numeroso?».
       Não sabendo o que havemos de pedir, peçamos a sabedoria do Espírito Santo.
Textos para a Eucaristia (ano A): 1 Reis 3, 5.7-12; Rom 8, 28-30; Mt 13, 44-52.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.


 
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