Homilia pronunciada na Igreja Catedral de Lamego, a 24 de Novembro de 2013
IR REQUER MUDANÇA DE LUGAR E DE MODO: IR É NÃO FICAR AQUI E NÃO FICAR ASSIM
1. Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Encerramento do Ano da Fé. Dia da nossa Igreja Diocesana. Ordenação Diaconal do José Fonseca Soares.
2. Antes de mais, o título de Rei, com que hoje celebramos o único Senhor da nossa vida. Pode parecer um título ultrapassado e com forte conotação ideológica, que poria Jesus ao nível dos senhores ricos e poderosos deste mundo. Para não resvalarmos para equívocos e terrenos movediços, convém anotar desde já a descrição que o próprio Jesus faz dos Reis: «Os Reis das nações, diz Jesus, dominam sobre elas» (Lucas 22,25). E a sua advertência: «Não seja assim entre vós» (Lucas 22,26). E, todavia, Jesus diz-se Rei, confirmando, neste domínio, as suspeitas de Pilatos (Marcos 15,2; João 18,37).
3. Para sabermos o que é que Jesus tem em vista quando se afirma como Rei, é preciso saber como é que a Escritura traça o perfil do Rei. É como quem pinta um quadro, ou melhor, dois: um díptico. No primeiro quadro, o Rei é alguém muito próximo de Deus, completamente nas mãos de Deus, sempre atento à sua Palavra, de modo que deve ter, para seu uso pessoal, uma cópia da Lei de Deus, feita pela sua própria mão, para não poder dizer que não entende a letra, e deve lê-la todos os dias, nada fazendo por sua conta, mas sempre e só de acordo com a Palavra de Deus (Deuteronómio 17,18-19). No segundo quadro, que completa o primeiro, formando um díptico, o Rei é alguém muito próximo do seu povo, sempre atento ao seu povo, em ordem a levar-lhe a prosperidade, a saúde, a paz, a felicidade, a salvação. Aí está, então, o retrato completo de Jesus Rei: sempre pertinho de Deus, sempre pertinho de nós.
4. O Ano da Fé não se encerra. E não se encerra, porque não se pode encerrar. Exatamente porque a fé não é uma questão de conteúdos que se podem ensinar e aprender num ano, num curso semestral ou anual. Se perguntardes a um bebé porque é que ele se sente seguro no colo da sua mãe, ele não saberá responder. Mas mesmo que soubesse, acharia ridícula a pergunta. Do mesmo modo que perguntar a uma mãe quais são as razões que a levam a segurar no seu colo, com força e carinho, o seu bebé, será considerada uma pergunta sem sentido. Do mesmo modo que deixaríamos Abraão boquiaberto, se lhe fôssemos perguntar quais são os conteúdos da sua fé. Sim, não se acredita em conteúdos. Acredita-se em alguém. É uma relação pessoal, consciente e consistente que vamos tecendo juntos com Deus e uns com os outros por caminhos de confiança e de amor. Abriu-se o Ano da Fé, como Jesus abriu um dia, na sinagoga de Nazaré, o Ano da Graça do Senhor (Lucas 4,19). Entenda-se, então, que este Ano da Graça ou da Fé não é um Ano de 365 dias. É a vida toda, no duplo sentido em que é toda a duração da vida, e em que é mesmo necessário apostar tudo, com toda a intensidade.
5. O aniversário da Dedicação da nossa Igreja Catedral ocorreu no passado dia 20, e nós celebramos hoje o Dia da nossa Igreja Diocesana toda Dedicada ao seu Senhor. Vou contar-vos uma história edificante. O selêucida Antíoco IV Epifânio tinha profanado o Templo de Jerusalém, introduzindo lá cultos pagãos. Este acontecimento remonta ao ano 167 a. C. Contra esta helenização e paganização do judaísmo lutaram os Macabeus, e, no ano 164 a. C., Judas Macabeu procedeu à Purificação do Templo e à sua Dedicação ao Deus Vivo. É este importante acontecimento que deve ser celebrado todos os anos, durante oito dias, com a Festa da Dedicação, a partir do dia 25 do mês de Kisleu, que, no ano em curso de 2013, corresponde ao nosso dia 28 de Novembro.
6. A Festa da Dedicação celebra-se durante oito dias, e tem como símbolo o candelabro de oito braços. Relata o Talmude que, quando os judeus fiéis entraram no Templo profanado pelos pagãos, encontraram uma única âmbula de azeite puro de oliveira para reacender o candelabro de sete braços, que é um dos símbolos de Israel, e que deve arder permanentemente diante do Deus Vivo. Todavia, uma âmbula de azeite duraria apenas um dia, e eram precisos oito dias para preparar novo azeite puro. Pois bem, o azeite daquela única âmbula durou milagrosamente oito dias! Daí que, na Festa da Dedicação, se acenda um candelabro de oito braços. Mas acende-se apenas uma luz por dia, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até estarem acesas as oito luzes. Além disso, e ao contrário das luzes do candelabro do Templo e do Sábado, que alumiam o interior do Santuário e da casa de família respetivamente, as Luzes do candelabro da Dedicação, refere o ritual, devem ser vistas cá fora: devem alumiar o ambiente social, político, comercial e cultural. E também ao contrário das luzes do candelabro do Templo e do Sábado, não se acendem todas de uma vez, mas progressivamente uma por dia, porque, quando as condições são adversas, não basta acender uma luz e mantê-la; é preciso aumentar constantemente a luz. Mais luz. Mais luz. Mais luz.
7. Como este simbolismo é importante para os dias de hoje e para a Igreja! «IDE e fazei discípulos», é o lema da nossa Igreja de Lamego para este Ano Pastoral. IR requer mudança de lugar e de modo. IR é não ficar aqui, e não ficar assim! Há tanta gente à espera de que nós lhes levemos Cristo. Obrigado, jovens, por terdes estado na primeira linha com a vossa Alegria contagiante. Como eu desejaria poder ter-vos acompanhado nas vossas avalanches. Peço a todos, sacerdotes, consagrados, fiéis leigos, mais Luz, mais Luz, mais Luz. Mais Dedicação, mais Dedicação, mais Dedicação.
8. Felizmente temos hoje, neste Dia Festivo para a Igreja de Lamego, uma Ordenação Diaconal. De forma visível, o José Fonseca Soares afirma que quer Dedicar a sua vida ao serviço da Caridade e do Evangelho. Que Deus o abençoe e o proteja sempre.
2. Antes de mais, o título de Rei, com que hoje celebramos o único Senhor da nossa vida. Pode parecer um título ultrapassado e com forte conotação ideológica, que poria Jesus ao nível dos senhores ricos e poderosos deste mundo. Para não resvalarmos para equívocos e terrenos movediços, convém anotar desde já a descrição que o próprio Jesus faz dos Reis: «Os Reis das nações, diz Jesus, dominam sobre elas» (Lucas 22,25). E a sua advertência: «Não seja assim entre vós» (Lucas 22,26). E, todavia, Jesus diz-se Rei, confirmando, neste domínio, as suspeitas de Pilatos (Marcos 15,2; João 18,37).
3. Para sabermos o que é que Jesus tem em vista quando se afirma como Rei, é preciso saber como é que a Escritura traça o perfil do Rei. É como quem pinta um quadro, ou melhor, dois: um díptico. No primeiro quadro, o Rei é alguém muito próximo de Deus, completamente nas mãos de Deus, sempre atento à sua Palavra, de modo que deve ter, para seu uso pessoal, uma cópia da Lei de Deus, feita pela sua própria mão, para não poder dizer que não entende a letra, e deve lê-la todos os dias, nada fazendo por sua conta, mas sempre e só de acordo com a Palavra de Deus (Deuteronómio 17,18-19). No segundo quadro, que completa o primeiro, formando um díptico, o Rei é alguém muito próximo do seu povo, sempre atento ao seu povo, em ordem a levar-lhe a prosperidade, a saúde, a paz, a felicidade, a salvação. Aí está, então, o retrato completo de Jesus Rei: sempre pertinho de Deus, sempre pertinho de nós.
4. O Ano da Fé não se encerra. E não se encerra, porque não se pode encerrar. Exatamente porque a fé não é uma questão de conteúdos que se podem ensinar e aprender num ano, num curso semestral ou anual. Se perguntardes a um bebé porque é que ele se sente seguro no colo da sua mãe, ele não saberá responder. Mas mesmo que soubesse, acharia ridícula a pergunta. Do mesmo modo que perguntar a uma mãe quais são as razões que a levam a segurar no seu colo, com força e carinho, o seu bebé, será considerada uma pergunta sem sentido. Do mesmo modo que deixaríamos Abraão boquiaberto, se lhe fôssemos perguntar quais são os conteúdos da sua fé. Sim, não se acredita em conteúdos. Acredita-se em alguém. É uma relação pessoal, consciente e consistente que vamos tecendo juntos com Deus e uns com os outros por caminhos de confiança e de amor. Abriu-se o Ano da Fé, como Jesus abriu um dia, na sinagoga de Nazaré, o Ano da Graça do Senhor (Lucas 4,19). Entenda-se, então, que este Ano da Graça ou da Fé não é um Ano de 365 dias. É a vida toda, no duplo sentido em que é toda a duração da vida, e em que é mesmo necessário apostar tudo, com toda a intensidade.
5. O aniversário da Dedicação da nossa Igreja Catedral ocorreu no passado dia 20, e nós celebramos hoje o Dia da nossa Igreja Diocesana toda Dedicada ao seu Senhor. Vou contar-vos uma história edificante. O selêucida Antíoco IV Epifânio tinha profanado o Templo de Jerusalém, introduzindo lá cultos pagãos. Este acontecimento remonta ao ano 167 a. C. Contra esta helenização e paganização do judaísmo lutaram os Macabeus, e, no ano 164 a. C., Judas Macabeu procedeu à Purificação do Templo e à sua Dedicação ao Deus Vivo. É este importante acontecimento que deve ser celebrado todos os anos, durante oito dias, com a Festa da Dedicação, a partir do dia 25 do mês de Kisleu, que, no ano em curso de 2013, corresponde ao nosso dia 28 de Novembro.
6. A Festa da Dedicação celebra-se durante oito dias, e tem como símbolo o candelabro de oito braços. Relata o Talmude que, quando os judeus fiéis entraram no Templo profanado pelos pagãos, encontraram uma única âmbula de azeite puro de oliveira para reacender o candelabro de sete braços, que é um dos símbolos de Israel, e que deve arder permanentemente diante do Deus Vivo. Todavia, uma âmbula de azeite duraria apenas um dia, e eram precisos oito dias para preparar novo azeite puro. Pois bem, o azeite daquela única âmbula durou milagrosamente oito dias! Daí que, na Festa da Dedicação, se acenda um candelabro de oito braços. Mas acende-se apenas uma luz por dia, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até estarem acesas as oito luzes. Além disso, e ao contrário das luzes do candelabro do Templo e do Sábado, que alumiam o interior do Santuário e da casa de família respetivamente, as Luzes do candelabro da Dedicação, refere o ritual, devem ser vistas cá fora: devem alumiar o ambiente social, político, comercial e cultural. E também ao contrário das luzes do candelabro do Templo e do Sábado, não se acendem todas de uma vez, mas progressivamente uma por dia, porque, quando as condições são adversas, não basta acender uma luz e mantê-la; é preciso aumentar constantemente a luz. Mais luz. Mais luz. Mais luz.
7. Como este simbolismo é importante para os dias de hoje e para a Igreja! «IDE e fazei discípulos», é o lema da nossa Igreja de Lamego para este Ano Pastoral. IR requer mudança de lugar e de modo. IR é não ficar aqui, e não ficar assim! Há tanta gente à espera de que nós lhes levemos Cristo. Obrigado, jovens, por terdes estado na primeira linha com a vossa Alegria contagiante. Como eu desejaria poder ter-vos acompanhado nas vossas avalanches. Peço a todos, sacerdotes, consagrados, fiéis leigos, mais Luz, mais Luz, mais Luz. Mais Dedicação, mais Dedicação, mais Dedicação.
8. Felizmente temos hoje, neste Dia Festivo para a Igreja de Lamego, uma Ordenação Diaconal. De forma visível, o José Fonseca Soares afirma que quer Dedicar a sua vida ao serviço da Caridade e do Evangelho. Que Deus o abençoe e o proteja sempre.
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