Temos pressa e queremos resultados imediatos. Bento XVI, no início do Seu pontificado, dizia de uma forma muito acessível, que a nossa pressa destrói, precipita-nos. A paciência de Deus, que brota do amor, da compaixão, da Sua misericórdia infinita, constrói. Deus é paciente, espera por nós. Sempre.
Diante de situações complexas e difíceis, apela-se à paciência, à resignação, sugerindo-se que é uma atitude cristã. Resignação aqui entendida como demissão, indiferença, desistência. Porém, a paciência/resignação, em sentido cristão, exige força, persistência, luta. Sofrer com paciência as ofensas do próximo. Uma das obras de misericórdia. Criar distanciamento face a situações difíceis, não desistir à primeira contrariedade, não desistir das pessoas, tentar compreender quem é diferente e aceitar as próprias imperfeições para aprender a aceitar as falhas dos outros, sorrir quando não se tem uma resposta adequada, rir de si mesmo, não se levar demasiado a sério, como nos lembrava Bento XVI, pois isso pesa-nos e não nos deixa voar.
A paciência é um dos qualificativos da caridade, segundo São Paulo. Somos pacientes não por desistência mas por amor, não por resignação passiva, mas por resiliência. Insistimos uma e outra vez. Lutamos contra o mal, a doença, o sofrimento, as injustiças, a corrupção, as situações de miséria provocadas pela prepotência; aprendemos a calar quando a nossa voz é ruído, para falarmos por quem não tem voz; calamo-nos, num sentido ainda mais cristão, para que fale Jesus Cristo.
O mal, a doença e o sofrimento desafiam-nos e a resignação (passiva) nunca é uma opção. Só o será depois de termos feito tudo o que está ao nosso alcance para superar as adversidades. O mal deve ser combativo. Devemos procurar a cura, quando as doenças são curáveis. Devemos enfrentar o sofrimento, eliminando as suas causas ou minorando os seus efeitos. Uma resignação que nos demita da luta e do compromisso nem é humana e muito menos cristã.
Posto isto, o reconhecimento de situações que nos escapam e para as quais não temos nem justificações nem soluções. Fazem parte da condição biológica e da fragilidade humana. Uma vida perfeita, imaculada, impassível, só seria possível se fôssemos Deus, que sofre por excesso de amor. Quem ama sofre. Sofre por se deparar com o sofrimento de quem se ama. A paciência de Deus faz-Se de dádiva, de presença, de compaixão. Olhando para o Seu povo, Deus não Se retira, não Se afasta, não fica indiferente. O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz. Chegada a plenitude do tempo, dá-nos o Seu próprio Filho.
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4363, de 17 de maio de 2016
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