Imaginemos um pai severo, com muitas regras e castigos. Tão distante dos filhos que se faz respeitar pelo medo. Basta um olhar! E se for preciso desapertar a fivela do cinto...
Imaginemos um pai compreensivo, dialogante, carinhoso com os filhos, estabelece regras explica-as, negoceia fronteiras e limites...
Passados 30 anos, quais os filhos estarão mais próximos dos pais?
Há pessoas que se atêm à religião mais pelo medo, pela presença demoníaca, pela escrupulosidade do pecado, que pelo convite acolhedor de Jesus e do Seu Evangelho de Paixão e de Misericórdia.
O Ano Jubilar acentuou a dinâmica do amor de Deus para com a humanidade, assumido e plenizado na vida de Jesus, na Sua morte e ressurreição, e o desafio à Igreja para ser Casa da Misericórdia, assomando a beleza e a alegria da Boa Nova da redenção.
Há um caminho importante a fazer. O caminho de cada um – lembrando as palavras do então cardeal Ratzinger: há tantos caminhos quantas as pessoas – há de aproximar-nos de Jesus, Caminho, Verdade e Vida. Com Ele experimentamos libertação, docilidade, prontidão, serviço. Não ameaça, atemorização. Jesus não olha para o inferno mas para o Céu, para o Pai.
Ao longo dos séculos, muitos círculos eclesiais acentuaram o medo e à ameaça. As descrições do inferno pareciam ser testemunhos de quem lá tinha estado. O inferno era garantia da nossa vida. Era preciso fazer tudo para ganhar o céu, pelo sacrifício, pela mortificação, anulando-se como pessoas e colocando-se em atitude de subserviência, à espera que à custa de tantos sofrimentos Deus pudesse compadecer-se. É o contrário, o Céu é garantia e a vida eterna está aí como dom que nos responsabiliza com os outros.
A vida, a pregação e a oração dos cristãos há de estar preenchida com ternura e o amor de Deus. Nãos se trata de negar a doutrina da Igreja, assente nas palavras e nos gestos de Jesus. Porém, seguindo-O, veremos a bondade e a filiação amistosa com o Pai. O inferno é uma possibilidade real. Deus leva-nos a sério, respeita a nossa liberdade e o nosso não. Mas como cristãos e como Igreja vivemos do amor de Deus. Jesus procura libertar, elevar, envolver. A Cruz é a assunção do amor levado até à última gota de sangue. Com a Sua ressurreição, Jesus coloca a nossa natureza humana na glória do Pai, de onde nos atrai e desafia.
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4380, de 27 de setembro de 2016
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