sábado, 15 de outubro de 2016

XIX Domingo do Tempo Comum - ano C - 16 de outubro

       1 – A confiança é o chão que nos humaniza, nos aproxima, nos realiza como pessoas, é a oportunidade de crescermos, amadurecendo, fortalecendo laços de amizade e de proximidade. Confiar implica-nos, por inteiro, na relação com os outros, no apaziguamento com o passado, com a história e com o mundo. A confiança é traduzível, no plano espiritual, pela fé. Fé e confiança são faces da mesma moeda. Confiamos porque temos fé. A fé exige de nós a confiança n'Aquele em quem depositamos a nossa esperança, a nossa vida, a garantia que no final não seremos aniquilados.
       A persistência exige a fé e a confiança. Persistimos porque esperamos mais, confiamos que não seremos defraudados, acreditamos que vamos ser atendidos.
       No domingo passado, Jesus lembrava a fé e a gratidão. Dos 10 leprosos curados só um volta para agradecer a Jesus, louvando a Deus. Jesus sublinha o poder da fé: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».
       A fé hoje leva-nos à confiança e à persistência. O discípulo é aquele que não desiste. É conhecido um ditado sobre a santidade: santo é um pecador que não desiste. Discípulo é aquele que acredita no Deus bom e fiel revelado em Jesus Cristo, mesmo e apesar de todos os contratempos que vai experimentando na sua vida e nas violências que ocorrem à sua volta.
       Isso mesmo diz Jesus aos seus discípulos sobre a oração e a necessidade de perseverar.
       «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’».
       A fé não é fácil. Não é fácil sobretudo quando as coisas correm mal, quando as dificuldades e os problemas se avolumam. Quando estamos numa situação de sofrimento recorremos ao que está ao nosso alcance. Todos queremos rapidamente ultrapassar os momentos de treva, de dor, de aflição. Mas nem sempre é como desejaríamos. Por maioria de razão quando a nossa fé nos leva a colocar em Deus a solução da nossa vida e das adversidades. E parece que Deus não ouve o nosso clamor. Jesus acrescenta: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa».
       2 – «Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?».
       Jesus dá como adquirido a eficácia da oração. Deus responderá, não como juiz, mas como Pai de Misericórdia. A justiça de Deus justifica-nos, respondendo às nossas preces e anseios. Em contrapartida, preservaremos na fé? Ou desistiremos nas primeiras dificuldades? Confiaremos como Abraão, como Job, como Jesus, além de toda a esperança?
       A experiência dos apóstolos ao tempo de Jesus é titubeante. Até ao fim. O medo apodera-se deles. Pedro nega-O por três vezes. Judas trai-O gratuitamente! Os demais fogem a sete pés. Na manhã de Páscoa tudo recomeça! Um novo dia. Uma vida nova. Um tempo novo. Uma nova oportunidade. Jesus está vivo e aparece a Maria Madalena. Aparece às mulheres! Mas continuam incrédulos. Aparece aos discípulos de Emaús. Pedro e João vão ver com os próprios olhos o que se passa no túmulo de Jesus. Nesse dia, Jesus colocar-Se-á no meio deles. Como antes! Como depois. Como nunca! Tomé faz a experiência do não-encontro ou do desencontro. Está fora. Está longe. Não está na comunidade! E não vê Jesus! Não O vislumbra nem nas palavras nem no deslumbramento dos outros discípulos! Verá depois, quando Jesus novamente Se colocar no meio, com as palavras com que deles se despediu, com o sinal dos cravos nas mãos e nos pés e as feridas das lanças! E então, nova luz, Tomé faz a experiência de encontro com Jesus, vivo, ressuscitado, presente na comunidade!
       A fé transforma-os, o encontro com Jesus Ressuscitado agrafa-os ao anúncio do Evangelho. Porém, haverá outras vezes e outros momentos em que a fé há de vacilar, na perseguição sem tréguas, nas divisões dentro das comunidades, nos conflitos e contendas. Onde está Jesus? Acolhê-l'O-emos no meio de nós? Descobriremos que Ele vive em nós e no meio de nós para fortalecer os laços que nos unem e a fé que nos abre o coração à presença do Pai e dos irmãos?
       3 – Na primeira leitura, a oração de Moisés sustenta a vitória de Josué. Enquanto tem as mãos levantados em súplica, o povo ganha vantagem. Quando o cansaço o faz baixar os braços o povo fica em desvantagem. Por conseguinte, dois homens são agregados à oração de Moisés, segurando-lhe os braços. Mantendo-se firme na oração, com as mãos levantadas, Josué leva de vencida os adversários.
       Deixando de lado a condição bélica, pois Deus não deseja a morte de uns a favor de outros, e cada vida tem sentido último, sendo dom do próprio Deus, sublinha-se a força da oração e a certeza que Deus não deixará de atender a nossa súplica. Por outro lado, a importância da oração de intercessão. Moisés reza e é Josué que conduz à vitória o exército de Israel. Além disso, a oração fortalece-nos em comunidade, animando-nos mutuamente. A Moisés juntam-se dois homens, para o ajudar a manter-se firme na oração!
       O Salmo, com o qual respondemos à Palavra de Deus, clama pela intervenção de Deus, reconhecendo, desde logo, que só Ele nos pode valer e que, por certo, não deixar de ser o nosso Protetor. "O meu auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra... Não permitirá que vacilem os teus passos, não dormirá Aquele que te guarda. Não há de dormir nem adormecer Aquele que guarda Israel. O Senhor é quem te guarda, o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo. O sol não te fará mal durante o dia, nem a lua durante a noite. O Senhor te defende de todo o mal, o Senhor vela pela tua vida. Ele te protege quando vais e quando vens, agora e para sempre".

       4 – A oração fortalece e ilumina a decisão. "Deus eterno e omnipotente, dai-nos a graça de consagrarmos sempre ao vosso serviço a dedicação da nossa vontade e a sinceridade do nosso coração". Dilatando o nosso coração, a oração predispõe-nos à tolerância, à paciência, à compreensão, prepara-nos para aceitarmos os outros, para perdoarmos de coração, para cuidarmos uns dos outros, sem instrumentalização nem idolatria, pois a oração envolve-nos com os outros mas remete-nos sempre para Deus.
       O Apóstolo Paulo continua a animar a nossa fé. O discípulo não é morno, assim-assim, nem sim nem sopas, mas deve ser firme no seguimento de Jesus, procurando transparecê-l'O em todos os momentos, sejam mais favoráveis ou mais adversos. A Sagrada Escritura é um auxílio precioso para nos mantermos junto de Deus.
       "Toda a Escritura, inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça. Assim o homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras. Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina".
       Se a Palavra de Deus é boa para nós, levando-nos a vivê-la dia a dia, fazendo-nos mais humanos, mais felizes, também é boa para os outros. A Palavra de Deus encarnou, é Jesus Cristo. É Jesus Cristo que anunciamos, como Seus discípulos. A dinâmica missionária da Igreja não é uma opção, é a Sua identidade. A Igreja vive da Palavra de Deus, serve-A e vive para levar o Evangelho a toda a humanidade. O Evangelho é Boa Nova da Salvação para toda a criatura.


Pe. Manuel Gonçalves



Textos para a Eucaristia (C): Ex 17, 8-13; Sl 120 (121); 2 Tim 3, 14 – 4, 2; Lc 18, 1-8.

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