quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um presente para o Menino Jesus



Perto da meia-noite, as crianças se prepararam às escondidas e saíram pela janela. Carregavam com muito cuidado a caixa contendo o precioso presente.
Aquela pitoresca aldeia da Alemanha parecia feita de marzipã. Era dezembro, e as casas tinham seus telhados cobertos por um manto alvíssimo, reluzente à tênue luz do sol de inverno, que parecia brincar de esconder com as nuvens. À noite, as bolinhas coloridas das árvores natalinas, a densa fumaça das chaminés e o perfume dos pães de mel faziam tudo adquirir aparência de sonho. Uma atmosfera jubilosa tomava conta dos corações e as crianças começavam a confeccionar, com as próprias mãos, presentes para serem ofertados ao Menino Jesus depois da Missa do Galo, na matriz.

Rudolf era o filho mais velho de uma numerosa família. Ajudava a mãe no cultivo de legumes e tinha muita prática com as coisas do campo. Naquele momento achava- -se serrando, com decisão e energia, uma grande tora de madeira conseguida no bosque.
Aos poucos foram chegando os irmãos para ajudá-lo. Juntos, decidiram dar de presente para o Divino Infante um novo bercinho, pois o do presépio da matriz era tosco e estava muito gasto. Serraram, lixaram, bateram pregos, poliram e o ornamentaram com palha e ramos de pinheiro. Ficou pronto e lindo o movelzinho, feito com tanto amor.
Horas mais tarde chegou a mãe, dona Gertrudes. Havia se tornado uma mulher amarga depois da morte do marido. Mas o pior fora sua súbita perda da fé. Como a família era pobre, com quatro crianças ainda pequenas, ela precisava trabalhar lavando roupas e fazendo faxina em outras casas para manter os filhos. Mas em vez de pedir auxílio ao Céu, confiando no bom Deus, que a ninguém desampara, revoltara-se com sua situação. Vendo o bercinho e adivinhando sua finalidade, tomou-se de cólera e atirou-o na lareira, dizendo:
- Já lhes disse que neste ano não teremos Natal! Que vamos celebrar? Se o Menino Jesus existisse nos ajudaria... E, ademais, não temos dinheiro para a lenha. Estes pedaços de madeira vieram bem a calhar, porque faz frio e necessitamos alimentar o fogo.

Com a fisionomia fechada, retirou-se à cozinha para preparar a refeição.

As crianças começaram a chorar. Franz disse baixinho, entre soluços:

- Rudolf, quer dizer que... nem poderemos oferecer um presente ao Menino Jesus?

- Ânimo! Vamos pensar em algo... Helga, a caçulinha, replicou:

- Podemos fazer-Lhe uma bonita roupinha!

Procuraram alguns retalhos na caixa de costura da mãe. Mas não tinham tecido e muito menos mãos hábeis para confeccioná-la... Anette teve a ideia de prepararem bolachas e pães de mel, mas a falta de mantimentos e dotes culinários lhes tirou a alegria. Ralf ainda pensou em compor uma música. Pegou sua flautinha e começou a tocar, mas a desafinação foi geral.

Dona Gertrudes, atraída pela algazarra, dirigiu-se à sala.

- Parem com este bulício, pois a vizinhança daqui a pouco vai querer saber o que está acontecendo!

Helga, com voz trêmula, replicou:

- Mas, mãe, só nossa família não vai comemorar o Natal!

- Isso não me importa! Se esse Jesus, de quem vocês falam, fosse Deus de verdade, já teria melhorado nossa mísera condição. Todos ficaram muito tristes e aborrecidos. Quando a mãe saiu, Franz disse aos irmãos:

- Vamos rezar, pedindo a Nossa Senhora para nos ajudar a conseguir um presente para seu Divino Filho!

- E para tocar o duro coração de mamãe. - acrescentou Anette.

Ajoelharam-se todos e rezaram com muita devoção e piedade.

Alguns dias depois, Rudolf foi à aldeia vizinha para vender os produtos cultivados na horta. No fim do trabalho, uma senhora, observando sua responsabilidade e empenho, deu-lhe uma bela rosa de seu jardim de inverno, para agradar-lhe.

A fisionomia de Rudolf se iluminou! Ali estava o presente do Menino Jesus! Uma flor tão bela como aquela, em pleno inverno, era uma raridade! Regressou apressado, a fim de mostrar aos irmãos como Nossa Senhora atendera suas orações. Mas tiveram a precaução de esconder muito bem a flor numa caixa, para não ser destruída pela mãe.

Chegada a véspera do Natal, dona Gertrudes decretou que todos deveriam ir para a cama antes das dez horas. Os outros lares da aldeia, até os mais humildes, estavam engalanados, alegres e cheios de iguarias. Os camponeses vestiam suas melhores roupas para participar da Missa do Galo. Só a casa de Gertrudes permanecia triste e apagada.

Porém, perto da meia-noite, as crianças se prepararam às escondidas e saíram pela janela para ir à igreja. Carregavam com muito cuidado a caixa contendo o precioso presente.

Chegando à matriz, abriram-na para dar uma olhadinha e... grande espanto! A rosa estava completamente murcha! E agora? Sem ter outra solução, decidiram entregá-la assim mesmo, certos de que o Menino Jesus conheceria a intenção de seus corações.

Depois da Missa, ao som do Stille Nacht, as crianças se dirigiram em cortejo ao presépio para entregar seus regalos: trajezinhos de veludo, incenso, perfumes, toda espécie de marzipãs e chocolates, cestas de frutos secos arranjadas com primor. Também os filhos de Gertrudes se aproximaram e, quando Rudolf abriu a caixa... Oh, prodígio! Não havia uma, mas cinco belíssimas rosas de cores variadas, unidas em gracioso buquê por uma delicada fita de seda!

Nesse mesmo instante, entrou na matriz dona Gertrudes. Ao sentir-se envolvida pelo ambiente carregado de bênçãos e contemplar a fé inocente das crianças, a pobre mãe irrompeu em pranto. Entre lágrimas, ajoelhou--se diante do presépio, pediu perdão a Deus por suas faltas e ofereceu ao Divino Infante, diante de todos, seu coração contrito e humilhado.
O povo amava esta senhora tão sofrida, apesar de todas suas rabugices e desfeitas. Condoia-se pela mísera vida evada por ela e tinha pena dos sofrimentos de seus filhos. Por isso, ao vê-la milagrosamente arrependida, a greja inteira explodiu em um maravilhoso cântico de ação de graças.

A partir desta noite, tudo começou a melhorar para aquela família. Rudolf achou um excelente emprego, erto de casa. Ralf, Franz, Anette e Helga cresciam dando alegrias à boa Gertrudes, a qual se tornara uma extremosa mãe e prestativa vizinha, além de uma das mais piedosas paroquianas da aldeia.

(Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2010, n. 108, p. 46-47)
Beatriz Alves dos Santos - 2010/12/06

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