Ela fiava à porta da sua cabana pensando no marido. Toda a riqueza que ela possuía era uma bela cabeleira, gabada e invejada pelas mulheres da aldeia. Uma cabeleira negra, comprida, brilhante que brotava da sua cabeça como os fios de linho da sua roca.
Ele ia ao mercado vender algumas frutas. Sentava-se à sombra de uma árvore a esperar, firmando entre os dentes o seu cachimbo vazio. O dinheiro não lhe chegava para uma pequena porção de tabaco.
Aproximavam-se os 25 anos do seu casamento. Em anos anteriores, nessa data, nunca tinham oferecido nada um ao outro porque a pobreza não lhes permitia esse luxo.
Mas agora tinha mesmo de ser. Vinte e cinco anos é uma data marcante que é preciso comemorar. Assim pensavam os dois em segredo sem falarem um ao outro sobre o assunto. Era preciso fazer uma surpresa.
Uma ideia cruzou a mente da esposa. Sentiu um calafrio de alegria e tristeza ao pensar nela mas era a única maneira de conseguir algum dinheiro: venderia a sua cabeleira para comprar tabaco para o seu marido. Seria a melhor prenda que lhe podia dar. Ela imaginava-o já na praça, sentado atrás dos seus frutos, puxando longas cachimbadas e o fumo e evolar-se como aroma de incenso e jasmim a dar-lhe o prestígio e a solenidade de um grande comerciante.
Só obteve pelo seu belo cabelo umas poucas moedas. Mas escolheu com cuidado o mais fino estojo de tabaco. O perfume das folhas enrugadas compensava largamente o sacrifício do seu cabelo.
Ao cair da tarde regressou o marido. Vinha cantando pelo caminho.
Trazia na sua mão um pequeno embrulho: eram alguns pentes para a sua mulher. Para obter dinheiro para os comprar tinha vendido o seu cachimbo...
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