A Quaresma, com temos visto, é um tempo de oração, de penitência de conversão, ou por outras palavras, é tempo de "fazer deserto". Como Jesus que, depois do Baptismo e impelido pelo Espírito Santo, se retira para o deserto. O deserto é silêncio, é agreste, é um espaço "aparentemente" sem vida, sem distrações. Por conseguinte é um lugar de encontro, connosco, com Deus. Não há outras vozes, não há ruído. É lugar de escuta, é desafio a esvaziarmo-nos de todas as preocupações, para apenas Deus falar em nós. Fazer deserto significa recolhermo-nos, rezar, é lugar de oração, de contemplação, de voltarmos o olhar para Deus, sem imagens que nos distraiam.
Sobre o deserto encontramos este belíssimo texto que agora partilhamos:
"Na simbologia bíblica, o deserto é uma etapa no caminho para Deus que todos os que são chamados à fé devem atravessar.
O deserto não é uma pátria, mas somente um percurso, um caminho que conduz ao conhecimento do Amor misericordioso de Deus. Todos aqueles que procuram Deus devem passar por ele, pois a experiência do deserto está estreitamente ligada ao aprofundamento da nossa fé na Sua Misericórdia.
O deserto, por excelência, são os dificeis estados espirituais de aridez e secura, quando Deus pareça ter-te abandonado, quando não sintas a Sua presença e te seja mais difícil crer nela.
A situação do deserto põe a descoberto aquilo que no homem se encontra mais profundamente escondido. (...) É no deserto que o homem se dá conta de que coisas é capaz, da sua fraqueza, da sua condição de pecador, da sua dureza de coração. Aí o homem encontra-se face a face com a aterradora verdade daquilo que é sem a ajuda de Deus.
Normalmente o homem vive de uma maneira superficial, como se vivesse apenas à flor da pele. Só as situações difíceis, as situações de deserto, o constrangem a tomar decisões, revelando, ao mesmo tempo, as camadas mais profundas do bem ou do mal.
O deserto, porém, não só revela a verdade acerca de ti, mas transforma-te interiormente, polarizando as tuas atitudes. O dom do deserto permite-te vencer a tibieza, porque te obriga a fazer opções.
Enquanto fores um cristão tíbio, para quem a vida corre sem problemas e tudo vai bem, a tua situação, vista à luz da fé, é dramática, porque pensas que és tu que solucionas tudo e Deus deixa, assim, de te ser necessário: estás, desse modo, numa condição de ateísmo prático.
A finalidade do deserto é de formar o homem, fortalecer a sua fé, eliminar a sua mediocridade, formar verdadeiros discípulos de Cristo.
No deserto é que vais dar conta de que Deus realmente nunca te abandona. É verdade que no deserto Deus Se oculta mas, na realidade, Ele está particularmente perto de ti. Nunca como nessas ocasiões se encontra tão próximo. Somente espera que Lhe demonstres a tua fé, espera que Lhe estendas os teus braços confiantemente."
Tadeusz Dajczer, em "Meditações sobre a Fé", in Conhecer e seguir Jesus.
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