A propósito da visita Apostólica de Bento XVI ao nosso país, têm-se multiplicado as tentativas de traçar um perfil do Papa partindo das singularidade do seu carácter ou da sua biografia. “Como definir o Papa Ratzinger?”, parece ser a preocupação dominante. E não falta quem sublinhe o seu brilhante passado académico, o seu estatuto intelectual reconhecido, o timbre germânico do seu temperamento ou até a timidez afável do seu sorriso. É claro que tudo isso tem importância para perceber o Pastor que nos visita, mas também é necessário dizer que essa informação é, no fundo, completamente irrelevante.
Quando Bento XVI desembarcar em Portugal ele não é apenas o 266º sucessor do Apóstolo Pedro que vem até nós. Ele hoje é Pedro. Não representa apenas os cinco anos do seu Pontificado, mas os dois mil anos de história da Igreja. A sua solicitude não é apenas a expressão de um estilo pessoal, mas a manifestação de um carisma confiado para a edificação da comunidade. A missão que ele transporta ouviu-a da boca do próprio Cristo: «Apascenta as minhas ovelhas» (Jo 21,16).
E, por isso, parecem artificiais ou um bocado ociosas as comparações entre pontífices. O que realmente deve contar é o mistério desta peregrinação no tempo que a Igreja realiza, peregrinação diversa nas circunstâncias e nos tempos, mas idêntica no sentido e no horizonte. Chamava-se Joseph Raztinger, chama-se hoje Bento XVI, isto é Pedro. Não podiam ser mais claras as palavras que pronunciou na sua primeira homilia como Papa: «o meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me contudo à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história». Nos passos de Bento XVI ouvimos o rumor das sandálias do pescador.
Pe. José Tolentino Mendonça, in Editorial da Agência Ecclesia.
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