terça-feira, 20 de março de 2018

Excluídos: escolha ou inevitabilidade


       Numa passagem do evangelho (Mc 10, 46-52), aparece um cego à beira do CAMINHO onde Jesus vai passar. No caminho de Jesus está uma multidão, no meio da multidão os discípulos, uns e outros seguem Jesus, ainda que alguns não estejam seguros do caminho em que vão.
       À beira do caminho, ou sem caminho algum, está um cego, sentado, a pedir esmola. É um dos muitos excluídos da vida, naquele e neste tempo. Qualquer enfermidade física pode ser um fator de exclusão. Também neste tempo. Qualquer enfermidade ou deficiência pode gerar excluídos que o não querem ser.
       Aquele cego não vê o CAMINHO, mas ouve os passos de Jesus e da multidão que vem lá. E então vê mais longe, vê com o coração que escuta antes de ver. Escuta um clamor que lhe anuncia Jesus. Grita. Grita. Sem parar. Há nele um desejo imenso de entrar no CAMINHO, de fazer parte dos "incluídos". Grita sem parar. Incomoda, como muitas vezes incomodam os que são diferentes, os que pensam diferente, os que vivem outras vidas. Incomoda os que vão mais ou menos seguros no caminho, como canta a Mafalda Veiga, diríamos que se incomodam com medo de verem a cegueira que ainda tolda os seus corações ou de também eles ficarem à beira do CAMINHO.
       Como então refletíamos, a postura de Jesus é bem diferente da multidão. Jesus escuta. Jesus pára. Jesus manda chamar. Jesus perscruta os desejos que vão no coração. Jesus atende a toda a prece feita com sinceridade. Não avança. Não Se incomoda. Não acelera o passo. Não tapa os ouvidos. Nem os olhos. No CAMINHO de Jesus há lugar para toda a gente, para a multidão, para os discípulos e para Bartimeu e para cada um de nós. Para Jesus não há excluídos. Ou melhor, não precisa de haver excluídos.
        Há excluídos por que não têm outro remédio.
        Porque nasceram em condições sociais já demasiado precárias para delas saírem. Porque não têm quem os ajude (como Bartimeu ajudado por alguns - Coragem...), porque alguma enfermidade os afasta do convívio social, e até eclesial, porque não têm forma nem meios para saírem da exclusão em que se encontram.

        Há excluídos por que o querem ser.
        Nunca estão disponíveis para nada. Alheiam-se de todos os compromissos. Querem ficar a ver, à beira do caminho, fora do caminho. Se as coisas correm bem, lamentam-se por que ninguém lhes disse nada, ninguém lhes explicou o que era, ninguém os incentivou (pois até participariam, isto é, depois de saberem como correram as coisas); se as coisas correm mal, alegram-se porque não estiveram envolvidos, porque já adivinhavam (depois do acontecido), porque não alinham em projetos que não resultam.

        Há excluídos, que se excluem por medo de serem feridos.
        Quantas pessoas se excluem por medo de serem defraudadas nas suas expetativas, ou por receio de voltarem a dececionar-se? Com medo de se magoarem? Obviamente, não será fácil a alguém que se sente traído (nas seus relacionamentos pessoais, familiares, profissionais) voltar a acreditar e a apostar nos outros. Em todo o caso, o excluir-se também não ajuda. O lamentar-se também não ajuda...

        Há quem nunca se envolva em nada. Ainda que sempre prontos a verificar/julgar qualquer iniciativa, qualquer deslize, qualquer coisa de boa que os outros façam, na sociedade, na política, em Igreja, em atividades culturais e recreativas...
       Aquele cego à beira do CAMINHO desperta-nos. Ele não quer continuar a ser excluído, por isso grita até que a sua voz chegam aos ouvidos de quem deve chegar...

Sem comentários:

Enviar um comentário