Vivemos, no penúltimo domingo, o primeiro Dia Mundial dos Pobres, iniciativa proposta pelo Papa Francisco por ocasião do encerramento do Jubileu da Misericórdia. A designação suscitou algumas críticas em surdina, pois poderia dar a sensação que se estava a cristalizar a pobreza. Em vez de “pobres” talvez pudesse combinar melhor erradicação da pobreza ou da exclusão social. Porém, “pobres” é uma palavra e uma realidade que se cola. Podemos ter opiniões diferentes sobre o que significa pobreza, mas falar de pobres não ilude, sabemos que nos remete imediatamente para vidas marcadas pela doença, pela miséria, pelo abandono, pela solidão, pela perda de identidade e de pertença a uma comunidade.
Com a criação deste dia, o Papa interpela, antes de mais, os crentes contra a cultura do descarte e do desperdício, desafiando-nos à partilha solidária, ao cuidado do outro, ao acolhimento de Cristo nos mais frágeis, pois para tocar Cristo é necessário tocar as chagas do Seu corpo no corpo dos pobres. O convite alarga-se a todos “independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos; foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão”.
O Papa Francisco deixou bem claro que os pobres não são um problema, mas “um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho… são eles que nos abrem o caminho para o Céu, são o nosso «passaporte para o paraíso». Para nós, é um dever evangélico cuidar deles, que são a nossa verdadeira riqueza; e fazê-lo não só dando pão, mas também repartindo com eles o pão da Palavra, do qual são os destinatários mais naturais. Amar o pobre significa lutar contra todas as pobrezas, espirituais e materiais”.
Na Sua mensagem para este dia, o Papa lança a ponte para a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Com efeito, “a realeza de Cristo aparece em todo o seu significado precisamente no Gólgota, quando o Inocente, pregado na cruz, pobre, nu e privado de tudo, encarna e revela a plenitude do amor de Deus. O seu completo abandono ao Pai, ao mesmo tempo que exprime a sua pobreza total, torna evidente a força deste Amor, que O ressuscita para uma vida nova no dia de Páscoa”. O reconhecimento da soberania de Cristo coloca-nos todos ao mesmo nível, como súbditos mas sobretudo como irmãos.
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