«Não te aproximes daqui; tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa» (Ex 3, 5).
Na Caminhada para a Quaresma 2018, proposta em Arciprestado (Moimenta, Sernancelhe, Tabuaço) e extensível a toda a Diocese de Lamego, ao lado Cruz, somos convidados a colocar caixas de sapatos. Com que propósito? Para descalçarmos os sapatos do pecado, sapatos velhos e apertados que nos impedem de andar ao ritmo de Cristo, para calçarmos as sandálias do Pescador. Cristo calça os sapatos de cada um de nós para caminhar connosco. Cabe-nos agora calçarmo-nos de Cristo na leveza do Seu caminhar, na agilidade do Seu amor, na paixão da Sua entrega, audácia do Seu gastar-Se por cada um de nós.
No monte santo, o Horeb, Moisés aproxima-se da sarça-ardente. Então Deus faz ouvir a Sua voz convidando-o a descalçar-se, pois o chão que pisa é sagrado. Faz-me lembrar a oração sacerdotal quando Jesus reza ao Pai pelos discípulos para que Ele os guarde em Seu Nome, pois estão no mundo. O mundo é sagrado, pois criado por Deus, lugar da vida, da história, do tempo, do encontro entre pessoas e destas com Deus. É aqui que Deus nos salva! É nesta terra que somos chamados a ser humanos, a ser irmãos, a transformar o mundo, tornando-o casa de todos e para todos. Antes, teremos de nos transformar! É um caminho nunca terminado! Temos de nos deixar plasmar pelo Espírito Santo!
Este chão é sagrado! Não podemos pisá-lo ao desbarato. Na mensagem para a Quaresma, o Papa Francisco relembra-nos como fizemos deste mundo um lugar de tragédia, resfriamos o nosso coração, correndo o risco de apagarmos o amor que nos habita. Os outros, continua o Papa, são uma ameaça às nossas certezas: «o bebé recém-nascido, o idoso doente, o hóspede de passagem, o estrangeiro, mas também o próximo que não corresponde às nossas expetativas. A própria criação é testemunha silenciosa deste resfriamento do amor: a terra está envenenada por resíduos lançados por negligência e interesses; os mares, também eles poluídos, devem infelizmente guardar os despojos de tantos náufragos das migrações forçadas; os céus – que, nos desígnios de Deus, cantam a sua glória – são rasgados por máquinas que fazem chover instrumentos de morte». E também as comunidades quando a mentalidade mundana «induz a ocupar-se apenas do que dá nas vistas».
Jesus calçou-se na leveza do perdão e do amor, da ternura e da compaixão. Hoje somos nós os Seus pés com a missão de irmos e fazermos nós também do mesmo modo!
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